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Mudanças são tímidas um ano após tragédia em escola de Suzano

Apesar de o governo de SP propor medidas para dar voz aos jovens, estrutura da rede dificulta implantação

Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
13/03/2020 | 00:01
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Hoje, dia 13 de março, faz um ano que os jovens Guilherme Taucci Monteiro, 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, 25, invadiram a Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, mataram oito pessoas e se mataram. Além das vítimas fatais – um comerciante atingido antes do ataque à unidade escolar, cinco alunos e duas funcionárias – outras 11 pessoas ficaram feridas. O episódio foi o primeiro do gênero no País e abriu discussão sobre a segurança das escolas públicas e privadas e o que estava sendo feito para combater o bullying, apontado como uma das possíveis causas para a tragédia. Especialistas e professores citam que desde então houve mudanças na educação como um todo, mas que ainda são tímidas e esbarram na realidade estrutural das escolas, a maioria, antiga e precisando de revitalização.

A EE Raul Brasil está em reforma desde outubro, com previsão de inauguração em abril. Toda a estrutura da unidade foi reformulada, os espaços, ampliados, favorecendo a convivência, e haverá mudanças como uma entrada exclusiva para alunos e outra para a comunidade em geral, com acesso apenas à diretoria. No dia do massacre, os atiradores, dois ex-alunos, encontraram o portão aberto e acessaram o pátio na hora do intervalo do ensino médio.

Do ponto de vista pedagógico, mudanças foram pensadas para dar mais voz aos jovens, relata o secretário de Estado da Educação, Rossieli Soares. Todas as escolas da rede (são 350 no Grande ABC) contam com a disciplina projeto de vida, além da possibilidade de os alunos cursarem matérias eletivas. “Tem que ter um espaço dentro da escola para que a gente cada vez mais escute e entenda quais são os sonhos, os desejos dos estudantes, para que a escola se organize em torno disso”, afirmou o secretário. Também foi criada a disciplina tecnologia e inovação, segundo o gestor, “para trabalhar os conceitos do novo mundo.” O fato de algumas escolas não contarem com computadores para todos os alunos, além de problemas de sinal de internet não são empecilho, na avaliação de Rossini. “A disciplina não é baseada apenas no uso de equipamento, é preciso fazer desenvolver o pensamento computacional”, citou. 

Com relação à segurança, Rossini informou que foi criado gabinete integrado de segurança escolar, com a participação de pessoas da SSP (Secretaria da Segurança Pública) dentro da Secretaria de Educação, para uma interlocução mais rápida. Segundo Rossini, já houve casos de escolas que perceberam movimentações de alunos que pretendiam praticar algum ato de violência e que foi possível impedir. Os dados serão apresentados em relatório no fim de março. O gestor também citou que o Estado tem 8.000 câmeras de segurança integradas a uma central de monitoramento, mas a pasta não detalhou quantas dessas estão em escolas nem quantas estão no Grande ABC.

Escritora e educadora, fundadora da Piraporiando – Editora Edtech focada em educação para diversidade por educação antirracista, antibullying e sem preconceitos, Janine Rodrigues avaliou que as mudanças implementadas pelo governo são positivas e que inclusive estão previstas na BNCC (Base Nacional Comum Curricular). “Trabalhar as habilidades sócioemocionais é muito importante. Não adianta o aluno ser brilhante em matemática, se for um indivíduo que não sabe ouvir um ‘não’, lidar com derrotas e frustrações”, pontuou. A especialista destacou a necessidade de entender que no bullying existe o agressor, o agredido e a plateia. A solução passa por envolver essas pessoas. “Não dá para chegar com uma ideia pronta, porque a linguagem dos adultos é diferente da dos jovens”, concluiu.

Sindicato e professores cobram ações mais efetivas

Apesar de a Secretaria de Educação alegar que tem adotado medidas para prevenir novos atentados como o que houve há um ano em Suzano, as subsedes da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) na região avaliam que pouco foi feito de efetivo para aumentar a segurança nas unidades escolares. Coordenadora em Santo André, Vanderleia Aguiar afirmou que as escolas continuam do mesmo jeito que antes do ataque. De São Bernardo e São Caetano, o coordenador Aldo Santos também fez avaliação negativa e completou que, de forma geral, nada melhorou com o atual governo. 

Professora da rede em Diadema que pediu para não se identificar afirmou que existe a orientação de promover palestras com os alunos, que a equipe esteja alerta, mas outros assuntos são neglicenciados, como o combate ao racismo, especialmente nas escolas de periferia. “Muitos alunos envolvidos com a questão da violência são vítimas de racismo. A violência, a dor, o sofrimento do jovem, não estão relacionados só ao bullying, mas também ao racismo e ao preconceito institucional”, pontuou. 

André Sapanos, coordenador da subsede de Mauá, também avalia que não houve avanços na questão. “É necessário que o governo pense formato de segurança escolar preventiva e não punitiva, aliando o diálogo constante entre escola e comunidade, indo além da vigilância por meio dos equipamentos eletrônicos, e criando um manual de prevenção, para que os profissionais da educação, estudantes e comunidade consigam se prevenir em situações de insegurança, que conheçam os diferentes tipos de ocorrência, que saibam como reagir e estejam familiarizados com a postura da escola perante a possíveis acontecimentos”, afirmou.

Psicóloga especialista em adolescentes, Adriana Severine avalia que são necessárias medidas mais efetivas, que possam fazer as crianças se colocarem umas nos lugares das outras e exercer a empatia.

PAIS E ALUNOS - Entre pais e alunos, as percepções sobre as mudanças são variadas. Professora universitária e mãe de um estudante da rede estadual em Santo André, Eliane Chagas, 42, relatou que houve apenas uma conversa sobre o ocorrido, mas não foi estabelecida qualquer mudança na rotina. 

Estudante do Senai Almirante Tamandaré, Gabriel Amorim Augusto, 21, percebeu pequeno aumento na quantidade de seguranças, mas avalia que tragédia como a de Suzano poderia acontecer em qualquer lugar. 

Mãe de um aluno da rede em Santo André, a encarregada Denize de Lacerda, 42, se sente temerosa com novos incidentes. “Nunca teve nenhuma orientação sobre segurança”, afirmou.

Colaborou Matheus Moreira




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