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Paranapiacaba vira terra sem lei
Por Danilo Angrimani
Do Diário do Grande ABC
25/11/2004 | 09:49
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A vila histórica de Paranapiacaba, em Santo André, contava com um posto da Polícia Militar que funcionava 24h, tinha dois policiais militares em plantão permanente e uma viatura para rondas. O posto está praticamente desativado. Sobrou um policial, que se limita a atender às ligações telefônicas, e a viatura foi deslocada para o Parque Andreense. O veículo foi remanejado para fazer a segurança exclusiva de um sítio, onde vive um coronel da PM.

A reportagem do Diário esteve no Parque Andreense e confirmou a presença de policiamento ostensivo nas proximidades do sítio do coronel. O local é quase deserto, rodeado de vegetação abundante. Não se vê viva alma.

A ausência do policiamento ostensivo em um dos principais pontos turísticos do Grande ABC tem causado apreensão nos moradores da vila. Houve tentativa de arrombamento em um restaurante e os comerciantes dizem que terão de dormir dentro de seus estabelecimentos, em camas improvisadas.

"Vou passar a noite na minha loja, dormindo em um colchão inflável", afirma uma comerciante, que pediu para não ser identificada. Ela conta que estouraram a fechadura de sua loja e os pequenos roubos de botijões de gás, fios de telefone e objetos do patrimônio da vila inglesa têm sido constantes.

"A situação está brava", relata Adalberto Nazário, dono de um restaurante. "Depois das 18h, não se faz mais entrega de produtos em Paranapiacaba. A bandidagem domina."

Na madrugada de quarta-feira, um casal foi seguido por um homem desconhecido até um ponto de ônibus. O suspeito vestia colete, short e calçava chinelos. Era desconhecido na vila. Um dia antes, teria ocorrido uma briga violenta, que foi resolvida pelos próprios moradores, porque o único policial não pôde abandonar o posto.

"Paranapiacaba virou uma terra sem lei", diz Zilda Maria Bergamini, do Bar da Zilda, ponto turístico tradicional e que ganhou fama regional neste ano, depois de ter vencido o Festival de Comida de Botequim, com sua caldeirada de frutos do mar acompanhada de salada coreana.

Tráfico - O posto policial da antiga vila ferroviária fica na rua Direita, na parte baixa. Um novo local, que vai abrigar o policiamento, está sendo construído na parte alta, na rua William Speers. Paranapiacaba não tem delegacia. Para se fazer um boletim de ocorrência, é preciso deslocar-se até Santo André.

O antigo posto da rua Direita passa a impressão de abandono. Na porta, havia uma embalagem de alumínio com restos de comida. Não se viam móveis e o único policial de plantão encontrava-se na parte superior do imóvel. Sozinho, ele não pode sair para fazer rondas.

Bem próximo dali, ao lado da antiga estação ferroviária, existe um largo que costuma se transformar em ponto de venda de drogas. Quando anoitece, o local é dominado pelo traficante conhecido pela alcunha de Marconi. Segundo informações, Marconi estaria a serviço de um patrão de Rio Grande da Serra. Os usuários são principalmente neo-hippies, que invadiram imóveis da vila.

Tudo igual - O major da PM Edson de Jesus Sardano, responsável pelo policiamento de Santo André, desmentiu que tenham ocorrido mudanças em Paranapiacaba. "Nada mudou", afirma. Segundo Sardano, o posto policial continua com oito policiais militares, que trabalham em esquema de revezamento 24h. Ele não soube explicar por que havia um único policial quando a reportagem esteve no local.

Em relação à viatura, o comandante disse que não é exclusiva da vila inglesa. "Esse veículo faz o policiamento ostensivo em Paranapiacaba e também no Parque Andreense." Sardano confirmou que a viatura fica nas proximidades da casa de um oficial de alta patente. "Mas não é para fazer a segurança da casa do coronel. O Parque Andreense é um local retirado, estratégico, onde moram 10 mil pessoas, com denúncias de possíveis cativeiros. Nossa presença lá é para ocupar o território."

De acordo com Sardano, o ideal seria Paranapiacaba ter um posto da PM, "todo de vidro", com apenas um banheiro e sem outros confortos. "O policial não deve ficar dentro do posto. Ele precisa estar na rua, fazendo ronda."

Sobre a ausência de uma delegacia, o comandante do 10º Batalhão sugere que a Polícia Civil desloque uma delegacia-móvel para lá nos fins de semana. "A vila tem crimes de pequeno potencial ofensivo", avalia Sardano.

Ódio - O crime mais recente ocorrido na vila inglesa foi motivado por preconceito. Rodrigo Monteiro Sakavicius, 23 anos, morador de São Paulo, foi assassinado em agosto por ser homossexual. Seus agressores - Robson Gonçalves da Silva, 22 anos, e Fabiano Maia Eleno, 21 anos - disseram que o enforcaram com um cadarço de tênis e depois o esfaquearam porque a vítima era "afeminada". Rodrigo pintava o cabelo de vermelho e foi à vila para praticar um ritual de bruxaria, chamado wicca.




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