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Metalúrgicos do ABC fazem meio século
Leone Farias
Michele Loureiro
10/05/2009 | 07:33
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Divulgação


Referência na luta pela volta da democracia e pela ampliação de direitos dos trabalhadores no País, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC chega na terça-feira aos 50 anos de existência, enfrentando em algumas situações, segundo especialistas, a dificuldade de lutar pelos interesses da categoria de forma independente sem abrir mão da relação de amizade com o presidente da República e ‘companheiro' Luiz Inácio Lula da Silva - que virá a São Bernardo para o evento de comemoração do cinquentenário.

O desafio de se manter combativa existe também devido à história da entidade, vanguarda do movimento operário que fazia oposição à ditadura e ao regime capitalista nas décadas de 1970 e 1980, segundo o professor da PUC-SP (Pontíficia Universidade Católica) e da USP (Universidade de São Paulo) Arnaldo Mazzei Nogueira.

Aqueles eram anos em que os trabalhadores não tinham liberdade de se expressar, nem dentro nem fora da fábrica. "A repressão era muito grande", lembrou Nelson Campanholo, 69 anos, hoje aposentado, que começou a militância na entidade aos 23 anos, em 1964.

Campanholo participou no final de 1968 da chapa que, pela primeira vez, elegeu Lula à direção do sindicato - na época como diretor de base. Em 1972, ambos voltaram à diretoria, respectivamente como secretário-geral e primeiro-secretário.

Luiz Inácio Lula da Silva chegou à presidência da entidade em 1975. Em 1978, o sindicato organizou uma greve na Scania, que marcou época: mais do que reivindicar reajuste salarial, os metalúrgicos exigiam a redemocratização do País. Esse movimento desencadeou ondas de paralisações nos anos seguintes.

Outro marco foi em 1980, na que ficou conhecida como a "greve dos 41 dias". No dia 11 de maio daquele ano, em pleno Dia das Mães, o movimento foi encerrado, mas deixaria sementes para a abertura política e para uma mudança nas relações com as empresas.

Especialistas reconhecem a importância dessa trajetória de lutas. "O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC teve papel fundamental na melhoria da qualidade de trabalho", destacou o coordenador e cientista político do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), Antonio Augusto de Queiroz.

NEGOCIAÇÃO
A partir da década de 1990, o sindicato vai abandonando essa base de oposição e passando à bandeira da negociação, segundo o professor Nogueira. "Foi mais ou menos o que ocorreu com o movimento sindical no mundo todo", ressaltou. Ele considera ainda que a chegada de Lula à Presidência da República criou "uma ambiguidade" para a entidade, que se viu no governo, mas precisava manter postura crítica para atender às demandas da categoria.

O presidente do Ibret (Instituto Brasileiro de Relações do Emprego e Trabalho), Hélio Zylberstayn, acredita que a situação ambígua ocorreu no primeiro mandato de Lula (2002 a 2006). "Mas depois o sindicalismo foi retomado, também pela conjuntura favorável. Conseguiu ganhos reais na mesa de negociação".

Dirigentes sindicais negam que tenha havido um atrelamento. "A categoria tem uma relação de amizade com o Lula, mas o sindicato tem de ter independência", destacou o atual presidente da entidade, Sérgio Nobre. Como demonstração disso, ele fez críticas à manutenção do imposto sindical, "que serve para dar sustentação a entidades que não representam ninguém", e afirmou que a crise internacional é oportunidade para debater mecanismos mais eficazes de se proteger os empregos, por exemplo, com a criação de um fundo nacional de formação profissional.




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