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Pacote da Columbia tem 'Dublê de Corpo'
Do Diário do Grande ABC
01/04/1999 | 16:35
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A Columbia está comemorando seus 75 anos e por isso está colocando um pacote de nove filmes nas locadoras de todo o Brasil, todas estalando de novas, para venda direta e locaçao. Um dos títulos mais atraentes é "Dublê de Corpo", de Brian De Palma. É um dos filmes mais característicos do cineasta. Pertence a sua fase de discípulo aplicado de Alfred Hitchcock, o mestre do suspense.

De Palma é obcecado pelo tema da ternura e da violência dos homens com as mulheres. Talvez seja o mais misógino dos cineastas. Nao por acaso, é odiado pelas feministas. Em seus filmes, as mulheres sao veneradas e sublimadas como objetos de prazer para terminar quase sempre retalhadas, punidas por sua exuberante feminilidade. Em "Dublê de Corpo", uma delas termina com o corpo trespassado por uma furadeira que nao poderia ser mais fálica. A paixao do menino e o rancor do macho adulto espalham-se pelo filme, que mistura elementos de duas obras maiores de Hitchcock, "Um Corpo Que Cai" e "Janela Indiscreta", com toques de um filme menor, mas delicioso, do mestre: "Disque M para Matar".

Sao 110 minutos de provocaçoes permeadas de sensualidade começando com um "Corta!" e terminando com um "Roda!", pois "Dublê de Corpo" trata, entre outras coisas, do universo de espelhos do próprio cinema. É a história de um ator que sofre de claustrofobia. Na abertura, Jack Scully é incapaz de interpretar a cena em que, como vampiro, deve levantar-se do seu esquife. O filme é a história de um pesadelo e uma cura. Scully, interpretado por Craig Wasson, será envolvido numa trama de assassinato. Ele só supera seu trauma quando se encontra numa verdadeira tumba, à mercê de um assassino. É a repetiçao do esquema de "Um Corpo Que Cai", em que Scottie (James Stewart) só descobre o mistério do assassinato ao enfrentar de novo (e superar) a vertigem.

Se Scully é o protagonista, a dublê de corpo do título é Melanie Griffith, como uma certa Holly Body (Corpo Sagrado) que incendeia de desejo o herói. Holly é o objeto de desejo nao só de Scully, mas do espectador. Nenhum macho é imune ao seu poder de seduçao. É peça fundamental no plano de assassinato. Holly fornece o corpo que enlouquece Scully quando visto da janela indiscreta em que ele presencia o crime. Só ao possuí-la Scully começa a resolver o mistério. E deixa de ser voyeur - o tema do filme é o voyeurismo - para ser ator de verdade, habilitando-se a interpretar as cenas que referendam sua impotência no princípio.

"Dublê de Corpo" é o tipo do filme que pode ser descartado por inverossímil. Há um desprezo consciente do diretor pela credibilidade, que lhe importa pouco (ou nada). De Palma é pós-moderno de carteirinha. Permeia o filme de citaçoes e referências, tudo girando em torno do sexo. Nao é para ser julgado em termos morais, mas desfrutado como pura construçao intelectual.




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