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Médicos destacam desafios enfrentados no SUS da região

Quase 60% dos profissionais da Medicina entre as sete cidades atuam na rede pública de Saúde, onde principal dificuldade é a alta demanda

Por Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
19/10/2017 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


 “No SUS (Sistema Único de Saúde) você consegue atender grande número de pacientes e beneficiá-los. Também aprendemos muito, principalmente a tratá-los na sua individualidade.” A frase é da pediatra e coordenadora do Ambulatório de Distúrbios Nutricionais de São Bernardo, Jacqueline Zamboni, 52 anos, uma dos 4.324 médicos que atuam na rede pública da região. O número corresponde a 59,45% do total de profissionais da Saúde nas sete cidades – outros 2.919 trabalham em clínicas e hospitais privados.

Depois de 25 anos de trabalho na Saúde de São Bernardo, Jaqueline se prepara para a aposentadoria, no próximo mês. Aos colegas que permanecem na nobre carreira, ela deseja dias melhores, principalmente em relação às questões salariais, consideradas baixas em comparação com a rede privada.
Embora a quantidade de profissionais no serviço público seja 32,49% superior ao número ofertado na rede privada, não é capaz de suprir a demanda de região com 2,7 milhões de habitantes. Se para médicos há a dificuldade de ‘dar conta do serviço’, para pacientes o principal transtorno é o tempo de espera elevado por consultas.

Aparecido Francisco Paiva, 67, que atua na estratégia de Saúde da Família da unidade de Saúde do Macuco, em Mauá, por meio do Programa Mais Médicos, do governo federal, é responsável por 14 mil pessoas. “Os desafios são vários, já que é uma área deficitária e carente. Faça sol ou chuva vamos subindo pelo morro e atendendo as pessoas.”

Moradora de Rio Grande da Serra, a técnica de enfermagem Elizabete Maria Pirillo da Silva, 40, precisou recorrer ao Hospital Nardini, em Mauá, porque a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) de sua cidade não conta com ortopedista. “A UPA faz atendimento básico, mas a situação está precária. Aqui não faz imobilização e também não tem plantonistas.”

Para a professora responsável pela disciplina de Saúde Coletiva da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) Vânia Barbosa do Nascimento, é essencial que mais vagas sejam abertas. “O médico que atua no serviço público precisa de incentivo para se aperfeiçoar.”

O presidente da Fenam (Federação Nacional dos Médicos), Jorge Darze, fala da necessidade do fortalecimento no vínculo. “Faltam políticas públicas de estímulo a este profissional, até como a questão dos salários em dia”, destaca

SAUDADES DE CASA

Além das dificuldades diárias com a falta de infraestrutura e salário, profissionais também precisam superar problemas pessoais, como é o caso da saudade da família, muitas vezes localizada a quilômetros de distância. Natural de Cuba, o médico Silvio Enrique Lorenzo Arana, 54, faz parte, há três anos, dos 19 profissionais do Programa Mais Médicos que atuam em Santo André.

“Perdi momentos, como o nascimento da minha primeira neta, 15 dias depois que cheguei aqui. Mas como eu recebo praticamente o dobro do que recebia lá, consigo dar conforto maior para a minha família”, diz o responsável pelo programa de Saúde da Família da UBS (Unidade Básica de Saúde) Jardim Carla sobre a difícil escolha de trabalhar longe de casa. “O que realmente mudou é que o número de pessoas que eu trato é bem maior hoje. Se lá eu era responsável por 1.000 famílias, agora são, em média, 4.000”, destaca.


Vagas no Mais Médicos somam 144

Conforme dados atualizados do Ministério da Saúde, o Grande ABC tem 144 vagas preenchidas no Programa Mais Médicos, entre intercambistas brasileiros, estrangeiros e médicos cooperados. Apenas São Caetano aderiu ao programa mas não solicitou profissionais.

A maior parte dos profissionais está em Mauá, onde 46 médicos atuam por meio do programa federal. Na sequência estão São Bernardo (41), Santo André (30), Diadema (12), Rio Grande da Serra (dez) e Ribeirão Pires (cinco).

Criado em 2013, o Mais Médicos surgiu como alternativa para suprir a demanda de profissionais em áreas mais afastadas do País, no entanto, passados quatro anos o cenário ainda não é ideal. A Pasta federal informou que o processo de ampliação de vagas nos municípios depende da avaliação dos gestores locais e da necessidade. “O número de médicos em atividade é dinâmico e varia constantemente, conforme a saída e reposição de profissionais e o encerramento de contratos. É importante ressaltar que são lançados periodicamente editais para reposições de saídas de profissionais. Cabe esclarecer que a Pasta prioriza médicos brasileiros, seguido de médicos brasileiros formados no Exterior”, informou em nota o Ministério da Saúde.

Para o presidente da Fenam (Federação Nacional dos Médicos), Jorge Darze, não houve avanço com o programa. “Continuamos em situação de crise. O governo não conseguiu levar o programa a todos os municípios brasileiros”, destaca.

Já a professora de Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina do ABC Vânia Barbosa do Nascimento discorda. “Houve melhoria na questão de mais profissionais atuando em áreas distantes.”

Conforme levantamento do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) de 2015, o Brasil conta atualmente com 2,1 médicos para cada 1.000 habitantes, média superada pelo Grande ABC, onde o cenário mostra a presença de 2,69 profissionais por 1.000 moradores. Na comparação com outros países, a Grécia aparece na primeira posição mundial (taxa de 6,1), enquanto os Estados Unidos têm 2,5.




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