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EUA exigem retirada israelense; Sharon nega
Fernão Silveira
Do Diário OnLine
23/10/2001 | 00:07
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Os Estados Unidos exigiram nesta segunda-feira a retirada de tropas israelenses posicionadas em territórios palestinos, na tentativa de acalmar o clima de tensão agravado desde a semana passada no Oriente Médio. O primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, recusou a orientação dos tradicionais aliados, alegando que usufrui de seu 'direito de autodefesa', em referência ao assassinato do ex-ministro do Turismo Rehavam Zeevi pela Frente Popular de Libertação da Palestina (FPLP).

A resposta de Sharon colocou os Estados Unidos em xeque. O princípio da autodefesa é o mesmo utilizado pelos americanos para justificar o ataque ao Afeganistão e utilizado em comunicado ao Conselho de Segurança da ONU em uma espécie de 'preparação' para ofensivas contra outros países que abrigam ou apóiam terroristas.

Essa questão semântica esconde na verdade conveniências políticas de cada país. Para a Rússia, por exemplo, os separatistas da chechênia são terroristas; o mesmo valendo para a China e os muçulmanos nas fronteiras com a Ásia Central. Já para o Líbano, o Hezbollah é um grupo político que luta pela liberdade dos palestinos.

A ONU seria o foro natural para essa discussão, mas há pelo menos dez anos se tenta chegar à uma definição do que é terrorismo entre os países-membros. Estabelecer o que é de fato 'autodefesa' parece ser ainda mais difícil.

O certo é que nunca os americanos dependeram tanto do mundo árabe quanto agora. Manifestações como a desta segunda são raras na relação EUA/Israel — o governo americano apóia e financia o país e costuma manter silêncio diante das ocupações e ações 'pró-ativas' que eliminam supostos terroristas com mísseis lançados de helicóptero.

Se a onda de violência atual debandar para um embate direto, o mundo árabe pode se unir à Autoridade Nacional Palestina contra Israel. Saddam Hussein é o maior risco. Durante a Guerra do Golfo, em 1991, o ditador do Iraque aproveitou para lançar mísseis contra Tel Aviv — ele costuma ser o maior defensor da idéia de exterminar Israel do mapa.

E como a aliança entre Tel Aviv e Washington é motivo da ira islâmica há décadas, o sangue vai respingar nos americanos. Sem falar na necessidade de tomar partido por um dos lados no momento em que os EUA fazem uma ofensiva contra uma nação muçulmana.

Imediata - O porta-voz do departamento de Estado dos EUA Philip Reeker disse que as incursões israelenses "contribuíram de maneira significativa" para a escalada da violência na região. Ele pediu a retirada "imediata" das forças israelenses, acrescentando que operações do tipo "não deveriam ter lugar" no futuro. "Lamentamos profundamente as ações das forças israelenses que mataram numerosos civis palestinos durante o fim de semana", declarou Reeker. Para o representante americano, essas mortes são "inaceitáveis".

Mas a exigência americana não teve muito efeito. "Após o assassinato do ministro Rehavam Zeevi, na semana passada, Israel, como todo país democrático enfrentado tal situação, deve exercer seu direito de autodefesa", disse o gabinete de Sharon em um comunicado distribuído nesta segunda-feira. Ainda na noite de segunda, no horário de Brasília, os serviços de segurança palestinos disseram que o Exército israelense realizou uma incursão contra o acampamento de refugiados em Rafah, na Faixa de Gaza.

A rádio militar israelense, citando fontes ligadas a Ariel Sharon, disse nesta segunda que as tropas serão mantidas em Belém, Ramallah, Nablus, Jenin, Tulkaren e Kalkiliya "enquanto persistir a ameaça de novos atentados por parte de organizações terroristas contra as quais a Autoridade Palestina nada faz".

As ordens americanas não se limitaram a Israel. Reeker cobrou da Autoridade Palestina "todas as atitudes possíveis" para o combate ao terrorismo. O porta-voz declarou ser "inaceitável" o fracasso de Yasser Arafat em controlar a ação dos grupos armados palestinos contra os israelenses.

Reeker chamou de "grande passo" Arafat declarar 'fora da lei' o braço armado da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), a organização que assumiu o assassinato de Zeevi. "Mas faltam ações, uma vez que as simples palavras não adiantam", destacou o porta-voz americano.

O apelo dos EUA também não sensibilizou muito os palestinos. O grupo Fatah, ligado a Arafat, ameaçou pegar em armas e guerrear contra os israelenses caso a desocupação dos territórios não seja realizada.

A Autoridade Palestina trabalha também no campo diplomático para forçar a retirada das tropas israelenses. O representante palestino nas Nações Unidas, Nasser Al-Kidwa, pediu nesta segunda-feira a convocação imediata do Conselho de Segurança da ONU para obrigar a desocupação dos territórios.

Violência - O desacordo das autoridades políticas reflete diretamente entre palestinos e israelenses. Nesta segunda pela manhã, um palestino abriu fogo contra a multidão no bairro judeu de Talpiot, em Jerusalém Oeste. Quatro pessoas ficaram feridas. O atirador, um empregado que estaria cobrando uma dívida com o chefe, foi morto por um soldado israelense.

Um palestino de 65 anos morreu nesta segunda-feira perto de Tulkarem (norte da Cisjordânia), atingido por disparos de metralhadoras de tanques israelenses. As duas filhas adolescentes do palestino morto foram feridas, segundo fontes da segurança palestina.

Tanques de Israel atacaram ainda um hospital infantil de Belém. Duas bombas caíram sobre o setor de lavagem e esterilização de roupas mas não houve feridos. Outra ofensiva israelense, na Cisjordânia, vitimou um líder do braço armado do movimento radical palestino Hamas. Yman Halawi, um líder das Brigadas Ezzedin al-Qassam, morreu quando um bomba explodiu contra seu carro, em Nablus.




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