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Bullying: isso tem que parar
Por Por Marcela Munhoz
28/03/2010 | 07:00
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Ano passado, Beatriz Reis, 12 anos, passou maus bocados quando algumas meninas começaram a persegui-la e a chamá-la de falsa. "Uma fez fofoca de mim para a outra. Ficavam me agredindo no banheiro, não tinha mais vontade de ir para a aula." A garota então decidiu falar. "Eu me senti tão pressionada que não sabia o que fazer. Fiquei com medo e decidi contar tudo para a coordenadora. Só assim a agressora parou."

Assim como tantas outras crianças e adolescentes, Beatriz foi vítima de bullying. O termo em inglês (bully significa valentão), define um conjunto de comportamentos agressivos, repetitivos e intencionais, cometidos por uma ou mais pessoas contra outra sem motivo aparente. Em geral, o agressor é mais velho, mais forte ou mais popular. As brincadeirinhas ‘sem graça' e os apelidos podem virar bullying a partir do momento em que quem é alvo disso fica chateado. As consequências podem ser desde angústia, depressão e isolamento, até doenças como anorexia, bulimia e, em alguns casos, vingança ou suicídio.

"Ninguém tem mais a liberdade de ser quem gostaria. Tudo é motivo para gozação, até uma cor de cabelo nova ou gosto musical diferente", afirma Flávia Caveagna, 13. A prima de Raphael Pereira, 17, teve anorexia e perdeu o ano na escola depois de ser zoada por causa do seu corpo. "Ela pode ficar traumatizada. Não foi apenas uma brincadeirinha de escola", conta o garoto. Segundo Pedro Braga, 15, em muitos casos, os agressores são aqueles que se dizem amigos. "Meu irmão mais novo parou de fazer aula de natação porque os colegas diziam que ele era gordo."

PROBLEMA ANTIGO - O bullying sempre existiu, mas não tinha denominação específica. Somente a partir da década de 1970, na Suécia e Dinamarca, e na de 1980, na Noruega, o comportamento passou a ser estudado cientificamente.

Segundo a psicóloga Cleo Fante, autora das obras Bul- lying Escolar - Perguntas e Respostas e Fênomeno Bullying, os estudos mostram que os índices crescem no mundo todo. "Isso se justifica em razão de que muitas vítimas, quando não têm os ataques interrompidos, fazem o mesmo com outros. Também tem a questão do avanço da tecnologia, em que o bullying sai da escola e ganha o espaço virtual."

Por que acontece tanto?

"Quem faz isso é inseguro e quer se mostrar. O problema é que tem plateia, por isso, não para", afirma Guilherme Malavaze, 16. De acordo com especialistas, os agressores apresentam insegurança, impulsividade, irritabilidade, intolerância, insensibilidade, necessidade de chamar a atenção e ser popular, dificuldade de adaptação e de cumprir regras. "Isso pode ocorrer por vários motivos, como sofrer ou presenciar violência doméstica", explica a psicóloga Leila Tardivo.

Já a vítima, em geral, apresenta timidez, passividade, dificuldade de se impor ou se defender, insegurança, sensibilidade, característica que a diferencia dos demais, baixa autoestima e ansiedade. Professores também sofrem ou praticam o bulliyng. Agressor ou vítima, não importa, os dois precisam de ajuda. "Se a pessoa não contar o que está acontecendo, não vai acabar. Precisa ter coragem e denunciar", fala Rebeca Fazzani, 15.

Se nada for feito até a adolescência, as agressões podem provocar um trauma para a vida toda. "Os dois crescem adultos complicados. Quem sofreu bul- lying, inclusive, pode se tornar um agressor em potencial." O número de telefone 100 é serviço de denúncia nacional, anônima e gratuita.

LEI E PREVENÇÃO - "Conversar sobre o assunto é um bom passo. A pessoa não pode sofrer sozinha", afirma Asaph Bispo, 17. De acordo com a psicóloga Cleo Fante, no Brasil ainda não há leis específicas contra o bullying, como ocorre na Noruega, Coréia, Sri Lanka, Finlândia e Estados Unidos. No Reino Unido, por exemplo, crianças podem ser responsabilizadas criminalmente a partir de 10 anos. As escolas são obrigadas a ter um plano contra isso, com normas claras.

No Brasil, o bullying é considerado infração pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. No entanto, os pais dos agressores com menos de 18 anos é que são responsabilizados criminalmente. Os filhos são punidos com medidas socioeducativas, como advertência e prestação de serviços à comunidade.

A escola também pode responder pelo crime se ficar provado que não tomou providências. No Distrito Federal, um colégio teve de pagar indenização à família que o acusou de não fazer nada para impedir o assédio contra o filho.

Cyberbullying: inferno na internet

A prática do cyberbullying, ou intimidação virtual, representa um dos maiores riscos da internet para 16% dos jovens brasileiros conectados à rede, segundo pesquisa realizada em fevereiro pela Safernet, ONG de defesa dos direitos humanos na internet. As consequências dos ataques são tão graves quanto o bullying. "Acho que é até pior porque não dá para saber quem é o agressor, e a fofoca se espalha muito mais rápido", diz Giuliana Frugis, 13.

A humilhação virtual acontece de várias maneiras - com xingamentos e invasões nas páginas pessoais, montagem de fotos e vídeos e até mensagens. A internet também pode ser usada para troca de ofensas e para marcar brigas. A mais nova mania virtual, o www.formspring.me, é um prato cheio para o bullying. No site é possível fazer todo tipo de pergunta para o internauta, sem ter de se identificar. "Espalharam boatos meus na escola. Não sabia o que fazer, como agir", conta Caroline Figueiredo, 14.

Quem for vítima de cyberbullying deve reunir provas (como cópias de e-mails e mensagens) e levá-las a uma Delegacia de Crimes Eletrônicos (o telefone da de São Paulo é 2271-7030) ou a comum. Se for comprovado, o acusado (mesmo que tenha menos de 18 anos) é punido pelo que fez.

O que fazer?

Quem está sofrendo...

- Quando ouvir uma brincadeira de que não goste, diga de imediato que não gostou e não quer que continue

- Se continuar, tome providências. Conte logo o que está rolando. Abra-se com seus pais, o professor ou coordenador mais amigo. O importante é não revidar, mas se defender

- Não planeje nenhum tipo de vingança. Lembre-se que o agressor também precisa de ajuda

- Se for pela internet, evite se cadastrar nas comunidades virtuais. Não dê armas para o seu agressor

Quem agride...

- Não desconte no outro o que sente. Você poderia estar no lugar dele

- Todo mundo tem o direito de ser como bem desejar. Preconceito, racismo e outros sentimentos parecidos não estão com nada

- Não coloque apelido em ninguém. Observe como a pessoa gosta de ser chamada

- Ser popular não indica que seja aceito por todos. É possível que estejam rindo das suas piadas porque têm medo de serem os próximos alvos

Quem presencia...

- Procure conversar com a vítima. Note o que a faz se sentir chateada

- Converse - não discuta nem brigue - com o agressor e tente fazê-lo entender que isso não leva a nada

- Se não ouvi-lo e continuar agindo, procure um responsável e conte o que está acontecendo. Não tenha medo. Quem faz o bem está sempre certo

Até os famosos

A princesa japonesa Aiko, 8 anos, ficou mais de uma semana sem querer ir à escola no início do mês. Ela começou a ter dor de barriga e ansiedade. Aiko não estava doente, mas sofrendo bullying por parte de alguns colegas. A menina é filha única de Naruhito e Masako, conheci- da como ‘a princesa triste' por- que sofre de depressão há anos.

Além de Aiko, a lista de famo- sos que foram vítimas de piadi- nhas e agressões é gigantesca. Christina Aguilera, Kate Winslet, Victoria Beckham, Lady Gaga, San- dra Bulock, Tom Cruise, Alinne Moraes, Gisele Bündchen, Robert Pattinson, Selena Gomez e Taylor Lautner já declararam que tinham apelidos maldosos e sofreram com isso na infância e adolescência.

Miley Cyrus revelou no seu livro autobiográfico, Hanna Montana e Eu, que sofria na escola por ser atriz e ter o pai famoso, isso quando ti- nha 12 anos. Segundo ela, as agres- soras eram meninas grandes e du- ronas. "Elas eram totalmente capazes de me machucar", conta. O diretor acabou sabendo de tudo, mas as perseguições continuaram. "De- testava a escola. Nunca me virava para abrir o armário sem olhar para trás e ver quem estava no corre- dor. Não me sentia segura." Miley conta ainda que até hoje não sabe direito porque foi tratada tão mal. "É provável que nunca descubra, e agora não faz mais diferença mesmo."




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