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Paleta de cores

De São Bernardo, Atílio aderiu aos pincéis
há 40 anos e, do hobby, ganhou uma profissão

Por Miriam Gimenes
Do Diário do Grande ABC
27/02/2017 | 06:47
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Nario Barbosa/DGABC


 A poluição – sonora e do ar – parece não existir na Praça Antonio Giglio, em São Bernardo. Pelo menos para Marcos Donizete Atílio, 62, de São Bernardo. É que, neste endereço, quase toda quinta-feira ele ‘monta’ o seu atelier e se desliga do mundo. Munido de pincéis, parece entrar na paisagem que pinta nos quadros, todas a olho. “A arte é uma paixão. Costumo dizer que é minha segunda mulher”, brinca o artista.

Morador do bairro Demarchi, Atílio, como é conhecido, tomou gosto pela pintura aos 9 anos de idade. O pai, um italiano ‘conservador’, como ele enfatiza, foi contra. “Dizia que era trabalho de vagabundo. Mas, antes de morrer, ele admitiu o valor da profissão que escolhi”, lembra, sem tirar o olho da tela que desenha.

Uma vez descoberto o hobby, Atílio decidiu estudar. Fez um curso de Artes Plásticas durante três anos e pôs-se a pintar. A primeira vez que expôs seu trabalho foi em uma feira no Paço Muincipal. “Passou um anjo da guarda ali e falou para mim: ‘Se quiser viver da arte essa feira aqui não dá. Tem de ir para Embu das Artes. Na semana seguinte fui para lá, fiz um teste e entrei. Estou lá há 40 anos.” Neste ‘meio-tempo’, casou-se e teve três filhos.

O artista vende suas obras lá aos fins de semana, na Praça dos Artesãos. Em 40 anos de carreira já usou sua paleta de cores em mais de 12 mil telas. E grande parte delas roda o mundo, principalmente as que fez em Paraty, no Rio de Janeiro, uma de suas principais inspirações. Ele costuma ir para lá à época da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), que ocorre no meio do ano. “Só não vendi quadro para japonês, mas italiano e alemão costumam gostar muito do meu trabalho.” As pinturas custam entre R$ 400 e R$ 600.

Passou a pintar na rua, a exemplo na praça já mencionada e em outros lugares do Grande ABC, por recomendação médica. É que o chumbo contido na tinta tem feito mal para sua respiração. “Mas não vou parar. Sou da opinião que vamos morrer de qualquer jeito. Prefiro morrer fazendo algo de que eu gosto.” Confessa, com o olhar baixo, o sonho que teve na infância de pegar um trailler e cair na estrada pintando seus quadros por aí. “Não consegui por questões financeiras, mas não posso reclamar. A arte não só ajudou a comprar minha casa como a sustentar minha família.” Fazer o que ama, onde quer que seja, não tem preço.




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