As atrocidades do regime militar no Brasil já renderam vários - e bons - livros e filmes. O tema volta à tona agora com viés para os bastidores de reportagens corajosas contra a ditadura. Chega hoje às livrarias O Cardeal e o Repórter - Histórias que Fazem História (Global, 184 págs., R$ 27), do jornalista Ricardo Carvalho, que conta detalhes sobre o cuidadoso garimpo de informações e a relevante participação de um personagem que não aceitou a crueldade institucionalizada.

O repórter do título é, claro, o próprio Carvalho. E o cardeal, uma de suas principais fontes durante os anos de chumbo, é dom Paulo Evaristo Arns, que, segundo o autor, "realizou trabalho incansável em favor dos oprimidos e perseguidos da América Latina".

Entre 1977 e 1984, o jornalista atuou pela Folha de S.Paulo, IstoÉ e as emissoras Globo e Cultura. Em primeira pessoa - com a emoção de ter vivido momentos importantes de sua vida e do País -, Carvalho relata o que encontrou nos porões de sua memória. Resolveu publicar depois de se convencer que "nem são bastidores tão comprometedores assim". Afinal, já se foram cerca de 30 anos.

Apesar disso, o autor entende que o leitor vai vibrar e se divertir. Um exemplo é a publicação, com exclusividade, de uma lista de 23 presos políticos que dom Paulo entregou ao presidente norte-americano Jimmy Carter. O repórter batalhou para ter o documento e para conseguir publicá-lo. Dias depois encontrou-se com o cardeal, que perguntou como ele havia obtido a lista. "‘Bem, dom Paulo, só duas pessoas conheciam essa correspondência e uma delas me deu'. Foi a vez de dom Paulo ficar perplexo, para logo se desmanchar em um riso livre e solto", escreve.