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Vira-lata é herói em bairro de Santo André
Por Illenia Negrin
Do Diário do Grande ABC
04/03/2012 | 07:00
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Andrea Iseki/DGABC


Alfredo tem a boa cara dos vira-latas. Conhecido na vizinhança por correr, brincar e latir a valer, esses dias passou cabisbaixo, como se nada pedisse. Tem recebido visitas e mimos. Mas parece alheio a tanto carinho e à fama que conquistou. É o rei da rua.

A família do Alfredo - que pediu para não ser identificada - está com medo e coração apertado. Mas aliviada. Há dez dias, a casa onde pai, mãe, filha, filho e neta vivem na Vila Floresta, em Santo André, foi invadida por dois bandidos. O cão avançou em um deles - no que estava armado -, impediu o assalto e acabou levando um tiro. Sobreviveu graças à mobilização feita pelos vizinhos para socorrê-lo. Alfredo, clinicamente, se recupera bem. Levou pontos na cabeça e nas costas, toma antibióticos e remédio para a dor. E a tristeza, como faz? "Ele não faz mais festa quando chego. E acho que está surdo, porque quando chamamos ele não atende. Torcemos para que a sequela seja passageira", diz a mãe.

Na noite da tentativa de assalto, foi ela quem enrolou Alfredo, baleado, em um lençol, tomou-o nos braços, ensanguentado, e saiu em busca de ajuda. Os vizinhos já haviam lotado a rua depois de ouvirem o barulho e os gritos do pai, que anunciava o ocorrido. "Fui rendido quando entrava em casa, por volta das 19h30. Eles perguntaram se tinha cachorro em casa. Respondi que sim. Eles perguntaram se era grande. Disse que não, mas avisei que era bravo. Eles não deram bola e foram entrando", conta o homem mais velho da casa.

Depois do susto, um vizinho colocou a mãe e Alfredo no carro e foram direto para o hospital veterinário. Lá, recebeu morfina e curativos, fez exames. Ao final dos procedimentos, que duraram cerca de seis horas, outro problema: a família não tinha recursos para custear o serviço. Foi aí que o pessoal da rua entrou em ação mais uma vez. Em meia hora, organizaram ‘vaquinha' e arrecadaram R$ 450. "É o mínimo que a gente podia fazer. Todo mundo aqui conhece e gosta dele. Ele foi herói e evitou o pior", comenta uma das vizinhas.

Até 2008, Alfredo (estima-se que tem 7 anos) vivia nas ruas do bairro. Era alimentado por todos e tinha outros nomes: Mike, Caramelo, Fofo, Gui, Geraldo.

Houve quem tentasse adotá-lo, mas ele não parava em casa nenhuma. Arredio, gostava da vida solta, sem compromisso. Até cismar com o pessoal da casa marrom. Seguia a filha caçula na volta da escola, o carro do pai em movimento e o filho. A palavra final foi da mãe. "Sempre quis ter cachorro. Meu pai acabara de falecer e eu estava muito triste. De tanto ele seguir a gente, acabamos trazendo para casa. Foi uma alegria imensa."

Ganhou residência fixa, nome próprio e mordomia. "Nossa gratidão ao Alfredo será eterna. Moro aqui há 40 anos e nunca fomos assaltados. Espero que ele volte a ser feliz", encerra a mãe, sob o olhar tristonho do cão.




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