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No frio precisa
tomar banho?
Por Caroline Ropero
Especial para o Diário
24/07/2011 | 07:00
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O mês de julho tem férias e frio, período em que ficamos mais agasalhados e passamos mais tempo em casa. Muitos acreditam que, por isso, suam menos e não têm de tomar banho diariamente. Nada disso! A higiene precisa ser a mesma em toda época do ano e não dá para fugir do chuveiro. Com menos ventilação, porque as janelas ficam fechadas, os microrganismos do ar se espalham com mais facilidade. Se não são eliminados no banho, eles se instalam no organismo e podem transmitir doenças. E não é só isso.

Cabelos precisam dos mesmos cuidados do resto do ano e devem ser lavados com a mesma frequência; as unhas, cortadas; e os pés bem lavados e secados para evitar frieira, já que estamos sempre de meias. As partes íntimas também correm perigo: a falta de higiene pode provocar infecção urinária.

Além disso tudo, ficar sem banho deixa a gente fedida. Maria Clara Alves Pereira, 5 anos, de Santo André, sabe disso. "Gosto de tomar banho porque me deixa cheirosa e limpinha." No entanto, tem de ficar atenta à temperatura. A água não deve estar quente demais, porque pode destruir as camadas protetoras da pele e prejudicar o couro cabeludo.

Para manter o corpo aquecido após o banho, Gustavo Hideki, 7 anos, Santo André, leva a roupa para o banheiro. "Assim, me troco lá", diz. Afinal, é perigoso sair do ambiente quente para o gelado sem proteção, pois a variação brusca de temperatura pode provocar gripe com a queda do sistema imunológico.

Como a gente sente preguiça de entrar no banho e depois preguiça de sair, Luana de Oliveira, 8 anos, de Santo André, dá um jeitinho para deixar o ambiente mais agradável e não fazer parte da turma do Cascão. "Deixo a porta e a janela bem fechadas para não entrar vento frio."

Europeu não tomava banho

O hábito de tomar banho começou no século 8 a.C., com gregos e romanos, quando as pessoas se banhavam em grupo, em salões. Mas a prática foi proibida por volta do ano 300. Os cientistas da época acreditavam que o contato da água quente com a pele aumentava o risco de doenças, além de amolecer o organismo e impedir seu crescimento. Como este pensamento estava errado, a população passou a ter piolhos, pulgas e diversas doenças.

No século 14 houve epidemia da peste bulbônica, transmitida pela pulga que vive no rato. Ao se espalhar pela Europa, essa doença matou 25 milhões de pessoas. Só no século 19 descobriu-se que a principal causa disso era a falta de higiene.

Mesmo assim, tomar banho nunca foi o ponto forte dos europeus. O imperador da França Napoleão Bonaparte era limpinho, mas preferia a companhia de mulheres que não tinham o costume de se lavar. A rainha espanhola Isabel de Castela, que reinou de 1474 a 1504, tomou apenas dois banhos de corpo inteiro em toda vida. Luís XIV, rei da França entre 1643 e 1715, tomou o primeiro banho com 7 anos. Mesmo adulto, não tinha esse hábito e precisava de recomendação médica para encarar a água.

No Brasil, o rei português Dom João VI, que reinou entre 1816 e 1826, detestava banho e costumava usar a mesma roupa até apodrecer. Por isso, é comum ver pessoas se abanando ou serem abanadas em filmes que contam histórias do possado. Essa prática não ocorria por causa do calor, mas para espantar o mau cheiro e os insetos.

 

Brasileiros são bem limpinhos

Os índios brasileiros sempre foram muito higiênicos. Costumavam tomar vários banhos por dia em rios, lagos ou mesmo com água da chuva. Quando os portugueses chegaram ao Brasil assustaram-se, pois não tinham esse hábito. Pero Vaz de Caminha até escreveu que eles eram tão limpos e bonitos que era impossível ficar ainda mais ‘‘formosos' (como foi dito).

A falta de banho dos portugueses chegou a deixar mulheres carecas durante a viagem de navio ao Brasil, por causa da quantidade de piolhos que pegaram durante o trajeto. Chegaram aqui com turbantes na cabeça, levando as brasileiras a pensar que o acessório era a última moda na Europa. Mesmo que não fosse, o traje, é claro, foi copiado aqui.

Aos poucos, os europeus mudaram de hábito, começando a lavar os pés diariamente até chegar no banho diário. Só os membros da corte resistiram um pouco mais. No século 18, algumas cidades passaram a usar água de poço e do chafariz da praça para o povo se banhar. Até que, em 1808, com a chegada da família real portuguesa, o Rio de Janeiro passou a ser a primeira cidade a ter água encanada.

Os hábitos de higiene dos brasileiros evoluíram e se mantêm entre os mais higiênicos. Tanto que recente estudo do Global Hygiene Council, revela que o Brasil é o país onde mais se lavam as mãos com sabonetes e mais vezes ao dia.

 

Cascão cresce e aprende a tomar banho

O banho acalma, aquece o corpo e oferece agrádavel sensação de bem-estar. Mas faz mal ao meio ambiente ficar um tempão debaixo do chuveiro, porque gasta muita água e eletricidade. Gabriel de Almeida, 8 anos, de Ribeirão Pires, diz que o pior momento para ele é entrar na água. "Dá muita preguiça quando está frio." Mesmo assim, encara a situação. "Ficar sujo faz mal e dá cheiro ruim", explica o garoto, fã da Turma da Mônica. "O Cascão é muito medroso. Deveria enfrentar o medo e tomar banho."

O personagem, criado por Mauricio de Sousa em 1961, treme só de ouvir a palavra água. Ele foi inspirado em um amigo de infância do desenhista, que teve medo que o público não gostasse dessa característica. Mas conquistou muitos leitores em pouco tempo e até ganhou um bicho de estimação, o porco Chovinista, que também odeia água. Para ele, banho só se for de lama. No entanto, quando Cascão cresceu, descobriu que não dava para continuar fugindo da água para sempre. Além disso, era impossível conquistar as garotas sem enfrentar o chuveiro.

Bichos também precisam ficar limpinhos

Os cães também precisam de banho para evitar doenças e cheiro ruim. Mas no inverno é aconselhável diminuir a frequência; em geral, a cada 15 dias. O ideal é lavá-los em local fechado e secar bem o pelo em seguida. Se estiver muito frio, o dono pode lavar apenas as patas, o focinho e os genitais, utilizando sempre produtos específicos para animais. A água tem de ser agradável, não muito quente, para não prejudicar a pele, nem fria, para evitar resfriado.

No entanto, o gato é tão preocupado com higiene que nem espera o dono dar banho. Ele passa cerca de 10% do tempo lambendo todo o corpo, da cabeça à cauda, para ficar limpinho. Afinal sua língua funciona como lixa, com milhares de pontinhos ásperos que facilitam a limpeza e ajudam a retirar os pelos soltos.

 

Grandes invenções

O chuveiro foi criado pelos gregos por volta de 1350 a. C., na forma de tina. O modelo de ducha, que usamos hoje, surgiu em 1872, inventado pelo médico-chefe da prisão Bonne-Nouvelle, na França, para melhorar a higiene dos presos.

O vaso sanitário com descarga só começou a se popularizar a partir de 1778. Antes, as pessoas faziam xixi e cocô em penicos, depois os jogavam longe da cidade e os conbriam com terra, como faz o gato.

A primeira fábrica de papel higiênico foi instalada nos Estados Unidos em 1857. Antes a limpeza era feita com folhas, sabugo de milho ou com a mão.

O sabonete já existia no antigo Egito, sendo considerado artigo de luxo. Tornou-se popular há cerca de 100 anos.

Acredita-se que a escova de dentes foi inventada na China no século 15. No entanto, há vestígios de que a pasta já era usada por antigos egípcios e indianos, feita de vegetais. As modernas surgiram nos Estados Unidos, no início do século passado.

Saiba mais

Em Paris, o povo costumava tomar banho em maio, perto da entrada do verão no Hemisfério Norte. Por isso, os casamentos eram feitos entre este mês e junho. quando o cheiro ainda era suportável. Mesmo assim, a noiva levava buquê de flores para disfarçar o fedor.

Ficar limpo e cheiroso vai além de tomar banho diariamente. Não pode esquecer de cortar as unhas com frequência, lavar as mãos e sempre escovar os dentes após as refeições.

Consultoria de Raul Oliveira, fisiologista da Unifesp, e Mitika Hagiwara, médica veterinária da USP




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