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Perdemos Antonio Carlos Gomes
Cristiane Gandolfi
19/03/2011 | 07:08
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Dia 4 de março, em plena sexta-feira de Carnaval, soube da morte do professor Antonio Carlos Gomes da Costa. Aos 61 anos, por motivo de queda em casa, não resistiu aos ferimentos e se despediu da vida. Curiosamente, grandes homens são surpreendidos por pequenas ações que nos mostram a fragilidade da vida.

Lembro-me de Anísio Teixeira, que em 1971, em plena ditadura militar, se deparou com o fosso do elevador. Sua morte até hoje não está esclarecida. Como homem tão inteligente pode não observar se o elevador estava no andar? No entanto, a vida tem seus mistérios. Professor Antonio Carlos foi homem inteligentíssimo, amável, doce, gentil, incapaz de ser arrogante com qualquer pessoa. As pessoas que tiveram o prazer de conviver com ele, certamente o tem como homem freiriano na vida.

Não tive a oportunidade de conviver com o professor, contudo, seus livros, suas ideias impressas na Aventura Pedagógica, no protagonismo juvenil, e tantas outras referências bibliográficas, sempre estiveram no chão de minha sala de aula. O professor Antonio Carlos conseguiu produzir uma síntese sobre o que é ser bom educador na realidade brasileira. Ao ler a Aventura Pedagógica nos deparamos com o pensamento de Makarenko, Freire e Freinet, o movimento desta teoria na realidade brasileira produziu teoria própria para as camadas populares conceituada por ele como realismo pedagógico.

Ao relatar sua experiência de educatividade na Febem Barão de Camargo, com meninas em processo de ressocialização, ele revela o quanto a comunicação é significativa no processo de educabilidade, sem ela não há diálogo, encontro com o outro. As meninas institucionalizadas eram extremamente ariscas, difíceis de constituir qualquer relação pedagógica. A comunicação, amorosidade, sentimento de justiça, palavras geradoras e processo de conscientização constituíram as bases de sua batalha pela educabilidade contra a barbárie da época. Ali trabalhou com jornais, campeonatos, estabeleceu a linha divisora da cidadania entre as meninas internadas. Chamou a sociedade civil da época para assumir as filhas daquela terra. Professor Antonio Carlos fez sua parte, certamente essa vida foi muito bem vivida. Ficaram os livros, a história, e a certeza de que temos muito a aprender com suas aventuras pedagógicas. Professores e educadores sociais precisam conhecer sua pedagogia.

 

Cristiane Gandolfi é professora da Universidade Metodista de São Paulo.




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