Política Titulo Acarajé
Lista da Odebrecht indica valores a 11 políticos do Grande ABC

Prefeitos, deputados e vereadores de diversos partidos aparecem em planilha apreendida pela PF

Júnior Carvalho
Leandro Baldini
Do Diário do Grande ABC
24/03/2016 | 07:00
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Rovena Rosa/Abr


Lista apreendida pela PF (Polícia Federal) na 23ª fase da Operação Lava Jato indica R$ 5,27 milhões em pagamentos da empresa Odebrecht a 11 políticos do Grande ABC, entre eles atuais prefeitos, deputados e vereadores do PTB, PT, PMDB, PPS e PTdoB. As planilhas foram encontradas na residência de Benedicto Barbosa da Silva Júnior, alto executivo da empreiteira. Ao todo, aproximadamente 200 nomes integram o documento, levantado na Operação Acarajé.

Repasses a políticos de Santo André, São Bernardo e Mauá aparecem na tabela (confira arte ao lado) de eventual contabilidade paralela, sendo a maior parte relacionada a doações à campanha eleitoral de 2012, além de algumas ao pleito de 2014. Boa parte dos montantes não consta nas prestações de contas à Justiça Eleitoral, mas os dados ainda não podem ser considerados como provas de que os valores transferidos são oriundos de caixa 2. As informações ainda serão averiguadas. Série de quantias está escrita manualmente nos documentos e posteriormente rabiscadas. Todos negam irregularidades nas contribuições.

As planilhas revelam que empresas do Grupo Odebrecht depositaram R$ 400 mil ao ex-prefeito de Santo André Aidan Ravin (então no PTB, hoje PSB); R$ 750 mil ao hoje prefeito Carlos Grana (PT) e R$ 500 mil ao ex-prefeiturável Nilson Bonome (PMDB) – a disputa foi vencida por Grana no segundo turno com 53,92% dos votos. Também há registro de pagamentos ao ex-deputado federal Vanderlei Siraque (PT, R$ 150 mil) e à sua mulher, a vereadora Bete Siraque (PT, R$ 150 mil).

Em São Bernardo, os repasses foram ao prefeito Luiz Marinho (PT), no valor de R$ 1 milhão – há quatro anos foi reeleito no primeiro turno, com 65,79% – e para o vereador Marcos Lula (PT, R$ 50 mil), filho do ex-presidente Lula.

Cinco contribuições estão colocadas a políticos de Mauá: ao prefeito Donisete Braga (PT) – R$ 1,5 milhão –, para os deputados estaduais Vanessa Damo (PMDB, R$ 600 mil) e Atila Jacomussi (PSB, R$ 50 mil) – o petista triunfou naquele páreo, no segundo turno, com 57,14%, além de doação ao vereador licenciado e hoje secretário de Planejamento Urbano, Chiquinho do Zaíra (PTdoB), de R$ 30 mil. O documento também cita valor de R$ 90 mil a “diversos vereadores” mauaenses, sem especificar nomes de beneficiários.

SIGILO
Os documentos foram apreendidos no dia 22 e divulgados ontem. À tarde, o juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato, decretou sigilo das planilhas e pediu que o MPF (Ministério Público Federal) se manifestasse sobre “eventual remessa” dos papéis ao STF (Supremo Tribunal Federal), já que aparecem nomes de diversos políticos com foro privilegiado. “Prematura conclusão quanto à natureza desses pagamentos. Não se trata de apreensão no setor de operações estruturadas da Odebrecht e que o referido grupo realizou, notoriamente, diversas doações eleitorais registradas nos últimos anos”, diz o despacho.

Entre os quadros com foro especial estão políticos governistas e figuras da oposição, como o presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (PMDB), mencionado pelo apelido de “caranguejo” e referência de pagamento de R$ 500 mil.

Citados negam irregularidades em doações feitas pela construtora

Os políticos da região citados na lista da Odebrecht negaram irregularidades nas doações da empreiteira às suas campanhas. Alegaram que os depósitos foram declarados e aprovados pela Justiça Eleitoral. Os valores que constam na planilha, entretanto, não integram muitos dos dados das doações de campanha divulgados no SPCE (Sistema de Prestação de Contas Eleitorais) do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

O prefeito de Santo André, Carlos Grana (PT), afirmou que, da Odebrecht, sua campanha recebeu R$ 20 mil referentes à compra de um convite de jantar realizado para arrecadar fundos e que, segundo o petista, foram devidamente declarados. “Portanto, não recebemos qualquer outra doação dessa empresa.” “Essa lista e os valores nela constantes podem ser oriundos de repasses feitos ao partido (PT), não sei. Desconheço. Cabe à investigação e à Justiça dizerem.”

Por meio de nota, o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, disse que “todas as doações recebidas nas campanhas constam nas prestações de contas entregues e aprovadas pela Justiça Eleitoral.” Candidato ao Paço andreense em 2012 – ficou na quarta posição –, Nilson Bonome (PMDB) negou veementemente irregularidades nas contas de sua campanha e disse que aguardará ser notificado para ter acesso ao processo. O deputado estadual Atila Jacomussi, que disputou a Prefeitura de Mauá pelo PPS (hoje está no PSB), também ressaltou que suas contas eleitorais foram aprovadas pela Justiça Eleitoral. “O PRP, que integrava arco de aliança em 2012, recebeu doação lícita e declarada de R$ 50 mil da empresa Braskem (do Grupo Odebrecht, que tem a Petrobras como sócia), sendo que R$ 24,5 mil foram repassados à conta da campanha de Atila também de forma lícita e declarada. O restante foi utilizado pelo referido partido para atender a chapa de candidatos a vereador”. O prefeito de Mauá, Donisete Braga (PT), por sua vez, rechaçou “irregularidade sobre doações para campanha eleitoral” e que “todos os recursos doados foram feitos dentro da lei e declarados e aprovados à Justiça”.

A deputada estadual Vanessa Damo (PMDB) alegou que “todas as doações recebidas foram de acordo com a lei eleitoral vigente, que permitia as doações privadas para campanha” e que também teve as contas aprovadas pela Justiça Eleitoral.

O Diário procurou insistentemente o ex-prefeito de Santo André Aidan Ravin (PSB), o vereador licenciado e secretário de Planejamento Urbano de Mauá, Chiquinho do Zaíra (PTdoB), o vereador de São Bernardo Marcos Lula (PT), a vereadora de Santo André Bete Siraque e o seu marido, o ex-deputado Vanderlei Siraque (ambos do PT), mas não obteve retorno até o fechamento desta edição. (JC/LB)




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