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Bairro na divisa é invisível para prefeituras
Angela Martins
Do Diário do Grande ABC
05/02/2012 | 07:00
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Asfalto ruim. Vazamentos constantes nas tubulações de água e esgoto. Falta de iluminação nas ruas. Córregos que transbordam e alagam vias e casas. Para quem vive na divisa entre os municípios do Grande ABC e Capital, problemas como estes são comuns. Enfrentando o jogo de empurra entre prefeituras, os moradores não estão apenas em meio a dois municípios distintos: estão à margem dos serviços prestados pelos governos municipais.

Importante ligação entre a Capital e Diadema, a tortuosa Avenida Alda apresenta, em muitos trechos, falhas no asfalto. De acordo com os moradores do bairro Jardim Castelo - que fica na região - a manutenção da via significa verdadeira guerra entre as prefeituras. "Só Deus para resolver nossos problemas", lamenta o serralheiro Davi Machado, 46 anos. Os vazamentos das tubulações, segundo ele, são constantes.

No Jardim Monte Líbano, que pertence à Capital, moradores já ouviram da prefeitura que era Diadema a responsável por consertar os vazamentos. "Liguei e disseram que eu morava em Diadema. Mas como é possível se pago meu IPTU para São Paulo?", questiona o locutor Naílton Santos Júnior, 32. Foi o número do CEP que resolveu a questão. "Viram que, de fato, morava na Capital", explica.

A Prefeitura de Diadema informa que se trata de área de domínio da subprefeitura de Cidade Ademar. Próximo à Rua Paineiras, dentro dos limites diademenses, há de fato problema com uma sarjeta de concreto, que está na programação dos serviços da Departamento de Limpeza Urbana, da Secretaria de Serviços e Obras, com prazo de até 72 horas para ser resolvido.

PERIGO NO CRUZAMENTO

Um dos mais movimentados corredores comerciais entre São Bernardo e Diadema, a Avenida Taboão revela cruzamento perigoso na divisa dos municípios. Na ligação com a Rua Polônia, os acidentes são frequentes. O semáforo, consertado recentemente, está completamente desregulado. Para o comerciante Rafael Pessoa Aguiar, 36, a falta de iluminação pública o principal problema da divisa. "Estamos no escuro há mais de uma semana. Isso sempre acontece, ainda mais porque aqui as duas prefeituras empurram a solução uma para a outra."

A Prefeitura de São Bernardo avisa que o departamento de iluminação pública realizará vistoria no período noturno, para constatar quais as reais necessidades do local. A Prefeitura de Diadema afirma que, no trecho de sua responsabilidade da Rua Polônia, a reclamação deve ser feita diretamente pelo telefone 0800 72 72 196 (Eletropaulo). Em caso de reclamações de mal atendimento procurar o setor de Iluminação Pública, na Secretaria de Serviços e Obras, no telefone 4072-9237.

 

Pavimentação ruim e ninguém para consertar o estrago

Na Avenida Manoel da Nóbrega, divisa entre Mauá e Santo André, o asfalto esburacado incomoda quem passa todos os dias pela via, cortada pela linha férrea. De acordo com o comerciante André Jacinto Santos, 60, é o trecho pertencente a Mauá que apresenta o pior estado. "Aqui é o maior relaxo, nunca vemos a Prefeitura fazer a manutenção", desabafa.

A Estrada da Cooperativa, que corta Mauá e Ribeirão Pires, além dos grandes buracos no asfalto, os moradores convivem com o descarte irregular de entulho por carroceiros em terreno baldio, na altura do número 18. O problema fica no território de Mauá, mas todos ali sofrem com a sujeira no local.

Outro problema comum naquela região, mas para os moradores de Ribeirão Pires, é quanto à iluminação pública. "A Prefeitura informou que apenas faz a ligação em lotes grandes e não quando existem poucas casas. Isso é um absurdo. Tentei argumentar com a Prefeitura de Mauá, que disse não poder interferir em Ribeirão. Enquanto isso, estamos no escuro", conta o empresário Gabriel Teles da Silva, 42.

De acordo com a Prefeitura de Ribeirão Pires, equipe da Secretaria de Infraestrutura Urbana esteve na Estrada da Cooperativa, na manhã de quarta-feira, e efetuou a vistoria do local. A manutenção do trecho foi inclusa no cronograma de ação da Pasta. Quanto à iluminação pública, a Prefeitura irá avaliar a solicitação.

MAUÁ

Segundo a Prefeitura de Mauá, o programa ProRecape durante as próximas semanas, beneficiará com recapeamento vias do Jardim Sônia Maria. A iniciativa contempla mais de 60 quilômetros lineares de ruas de Mauá, priorizando aquelas que têm o maior fluxo de veículos e, assim, garantindo conforto e segurança a um número maior de moradores e motoristas da cidade. A Avenida Manoel da Nóbrega será recuperada pelo governo do Estado, como parte do projeto de ligação da avenida Jacu-Pêssego à avenida dos Estados.

 

Córregos e pontes colocam segurança em risco

Divisões naturais entre os municípios, rios e córregos ajudam a delimitar os territórios. Mas o que fazer quando passam a transformar a rotina dos moradores em um inferno? Na Avenida João Ducin, o Córrego Taioca é problema antigo para quem vive entre Santo André e São Bernardo.

Algumas casas estão interditadas pela Defesa Civil, castigadas pelos anos de enchentes. "Há dois anos tive de sair com meu marido e quatro filhos correndo de casa, que estava sob risco de desabar depois de um alagamento. Quando o auxílio-aluguel foi cortado pela Prefeitura de Santo André, sob a alegação de que não era mais período de emergência, tive de voltar", diz a desempregada Kelly Aparecida Abraão, 36.

A margem direita do córrego pertence a Santo André, enquanto a esquerda é de responsabilidade de São Bernardo. Obras estão sendo executadas no local, como canalização, construção de parque linear com avenida marginal, ciclovia e paisagismo pela pefeitura andreense. No entanto, parte da ponte de concreto utilizada pela comunidade para atravessar o córrego ruiu e ameaça ser engolida pelas águas. Crianças e idosos circulam a todo o momento pela passagem.

PONTE PERIGOSA

Sobre o Ribeirão dos Meninos, perigosa ponte de madeira na Avenida Lauro Gomes, no Jardim Bom Pastor, em Santo André, desafia a sorte de quem tenta atravessá-la. Os degraus ruíram há duas semanas, mas foram reconstruídos pelos usuários que atravessam a passagem improvisada para alcançar avenidas de São Bernardo como a Vergueiro e a Kennedy.

"Já existe há décadas e nenhuma prefeitura toma qualquer atitude para construir ponte decente para os moradores", denuncia o comerciante Ormilton João da Silva, 52. Por ali circulam pessoas todas as horas do dia e da noite. Estudantes, trabalhadores, crianças.

A Prefeitura de São Bernardo informa que a construção da ponte foi realizada por Santo André, que deve observar as condições físicas da mesma. De acordo com nota da Prefeitura de Santo André, a última manutenção foi feita em 2010. "O espaço, requer outro tipo de passarela (concreto ou aço, em vez de madeira), o que deve ser discutido por ambas as prefeituras, até porque na parte de São Bernardo há problemas com áreas disponíveis para o acesso da mesma", informa a nota. enviada pela administração são-bernardense.

 

Guerra e paz entre as cidades vizinhas

Símbolo da discórdia entre duas cidades, a Estrada do Montanhão se transformou em disputa judicial sem solução há 20 anos. A via divide Santo André e São Bernardo foi fechada dia 15 de dezembro por determinação judicial, mas reaberta por meio de liminar do Tribunal de Justiça de São Paulo. O caminho beneficia a locomoção das cerca de 200 famílias do bairro Baraldi. A estrada corta por cerca de 1,8 quilômetro o Parque do Pedroso, localizado a 30 minutos do Centro andreense e administrado pelo Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André).

O parque, que recebe cerca de 3.000 pessoas nos fins de semana, segundo o Semasa, é classificado como unidade de conservação de proteção integral. Ou seja, abriga mananciais e trechos da Mata Atlântica. E foi exatamente por conta da preservação da área verde que o promotor de Meio Ambiente de Santo André, José Luiz Saikali, entrou com ação civil pública contra a Prefeitura de Santo André. O executivo andreense ainda acusou a administração de São Bernardo de ter praticado crime ambiental quando houve a reabertura, na véspera do Natal, de trecho da estrada interditado pelo Semasa.

TRANQUILIDADE

Já em outras divisas da região, reina a mais completa paz. Mesmo em lugares de tríplice divisa, como o caso da Avenida do Cursino, no ponto do cruzamento entre as cidades de Diadema, São Bernardo e São Paulo. "Se disser que temos algum problema por aqui, estarei mentindo. O asfalto é bom, temos segurança e não há falhas na iluminação pública. Não tenho do que reclamar", revela o borracheiro José Milton, 45. Na Rua do Ouro, dividida entre Santo André e São Caetano, a situação é semelhante. Ambas as prefeituras cuidam seu trecho da via e os moradores se dizem satisfeitos com os serviços prestados.




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