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Globo ainda tira lições da histórica ‘Pantanal’
Por André Bernardo
Do Diário do Grande ABC
18/03/2005 | 12:03
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Até hoje, 15 anos depois, a Globo ainda deve estar arrependida por não ter produzido a novela Pantanal. Afinal, antes de levar o projeto para a Manchete, o autor Benedito Ruy Barbosa ainda tentou emplacá-lo na Globo. Em vão. Na época, o então todo-poderoso vice-presidente da emissora, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, argumentou que a região não oferecia a infra-estrutura necessária para produzir a novela. Azar da Globo. A trama, que estreou na extinta Manchete em 27 de março de 1990, entrou para a história da teledramaturgia brasileira por ter sido uma das poucas a ameaçar a supremacia da líder, com média de 40 pontos no ibope. "Tivemos problemas, sim, e muitos, durante as gravações. Mas jamais, em tempo algum, ator ou atriz se queixaram por gravarem no Pantanal. Pelo contrário. Adoravam", diz o autor.

De fato, a inexplorada paisagem pantaneira foi um dos trunfos da novela. Na ocasião, Boni ainda mandou uma equipe, formada pelo autor Benedito Ruy Barbosa e pelos diretores Herval Rossano e Atílio Riccó, para avaliar as condições do lugar. Como a época era de cheias no Pantanal, Herval só fez fotografar água e matas. Bichos? Só capivaras. Pássaros? Só o velho papagaio falastrão que o cantor Sérgio Reis mantinha num poleiro, na porta da cozinha da única pousada que existia por lá. Por essas e outras, a Globo justificou o engavetamento do projeto. "Tentei imaginar a Glorinha Pires trabalhando lá e não consegui. Ator da Globo não se sujeitaria àquilo", lembra Herval Rossano, hoje diretor de A Escrava Isaura, da Record, citando a atriz inicialmente cotada para o papel de Juma Marruá.

Mais do que depressa, o então diretor artístico da Manchete, Jayme Monjardim, convidou um descontente Benedito Ruy Barbosa a mudar de emissora. Hoje diretor de América, da Globo, Monjardim reproduz o diálogo travado entre os dois na ocasião: "Qual é o seu sonho, Benedito?", perguntou ele. "Fazer uma novela no Pantanal", respondeu o autor. "Então, vamos fazer o seguinte: ‘Eu realizo o seu sonho e você, o meu, que é tê-lo na Manchete. Fechado?".

Fechado. Logo, os dois se puseram a escalar o elenco, mesclando jovens talentos, como Cristiana Oliveira, Marcos Palmeira e Carolina Ferraz, com veteranos esquecidos, como Sérgio Britto, Nathália Timberg e Cláudio Marzo. Intérprete de três personagens – entre eles o lendário Velho do Rio, que, à noite, se transformava em sucuri –, Cláudio Marzo só aceitou fazer a novela porque teria a rara oportunidade de conhecer o Pantanal. E pensar que, a princípio, o ator só faria uma participação especial nos primeiros capítulos. "Gostei tanto que virei para o Jayme e perguntei: ‘Vem cá, não tem como eu continuar na novela, não? Por que eu não posso fazer também aquele Velho do Rio?", recorda.

Gravar no Pantanal, de fato, não foi uma experiência das mais fáceis. Para chegar lá, os atores viajavam de avião até Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, e, depois, pegavam um bimotor até a fazenda que servia de locação para a novela. No local, não havia televisão ou telefones. A comunicação com o Rio e São Paulo, por exemplo, era feita através de barulhentos rádios amadores. "Na fazenda, também não havia quartos individuais. Mas não estou reclamando. Meus colegas de quarto eram o Sérgio Reis e o Almir Satter. Toda noite, tinha seresta", diverte-se Cláudio.

Logo, o inesperado sucesso da novela começou a compensar todas as dificuldades. Mesmo quem não gostava muito de gravar no Pantanal, caso da atriz Cristiana Oliveira, reconhece a importância da novela não só na sua carreira, mas também na história da teledramaturgia brasileira. "No último dia de gravação, chorei muito. Vi o quanto aquilo tinha sido importante para mim e mudado a minha vida. Caí no rio de roupa e tudo e agradeci a Juma por tudo que ela tinha me dado", emociona-se Cristiana Oliveira, referindo-se à selvagem Juma Marruá.




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