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Grávida e menino são vítimas fatais
Por Elaine Granconato
Do Diário do Grande ABC
08/07/2011 | 07:12
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A adolescente Thamires dos Santos Ferreira, 18 anos, grávida de cinco meses, e o menino Yohan Hanna de Jesus, 3, foram as duas vítimas fatais do deslizamento de terra na Mata Virgem, também conhecida como morro do Macaco, região da Cidade Ademar, em São Paulo, divisa com Diadema. A tragédia anunciada ocorreu por volta das 11h, segundo o Corpo de Bombeiros.

Outras duas vítimas, Sabrina, 12, e Igor, 15, irmãos de Yohan, tiveram ferimentos leves. Porém, o adolescente foi encaminhado pela ambulância ao Hospital Municipal de Diadema, o Piraporinha, e liberado no período da tarde.

"Nós avisamos do risco da obra", afirmou, revoltado, o pai de Yohan, Sabrina e Igor, o mecânico Fernando de Jesus, 38, que estava no trabalho na hora do acidente e chegou às pressas ao local. A princípio, foi impedido de descer na área afetada. Mais tarde, pode acompanhar as buscas no terreno. "Ainda tenho esperanças de encontrá-lo com vida", afirmou aos jornalistas.

Na casa da família, de alvenaria, no momento da tragédia, estavam ainda a mulher Suzélia Jorge, 29, e o quarto filho do casal, Matheus, 9, que brincava na escada. Todos conseguiram sair às pressas, apesar da avalanche de terra que caía de altura de cerca de 100 metros. Menos o caçula da família Jesus.

Ainda assustada, Sabrina disse que dormia no quarto, ao lado de Igor e da mãe, na hora do acidente. E Matheus afirmou que brincava do lado de fora do imóvel. "O Yohan tinha ido na cozinha pegar um iogurte. De repente, gritaram que o morro estava descendo. Não conseguimos mais achar meu irmão. Era muita terra por cima", contou, ainda quando os bombeiros faziam as buscas na área para encontrar o menino.

Yohan foi resgatado por volta das 16h, já sem vida, após trabalho braçal, exaustivo e extremamente cuidadoso dos bombeiros. "A escavação foi feita com as mãos, afinal tínhamos a esperança de encontrá-lo com vida. Infelizmente isso não ocorreu", afirmou o tenente coronel Roberto Rensi, que coordenou os trabalhos.

Bem antes, logo na chegada dos bombeiros ao local, por volta das 11h15, era encontrada a primeira vítima fatal, segundo Rensi. A equipe do Diário teve a informação que o corpo de Thamires estava prensado junto à geladeira. Já Yohan trazia o corpinho encolhido. Os dois corpos devem ser liberados hoje no Instituto Médico-Legal de São Paulo. O velório do menino será realizado em Diadema.

 

IPT fez em 2010 o mapeamento das áreas de riscos 

Em 2011, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas mapeou o terreno e classificou as áreas do entorno em risco três e quatro - o último representa iminência de risco, ou seja, a retirada imediata das construções no local. O órgão técnico é vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo.

Na área do morro do Macaco, a Secretaria de Habitação realiza obras de urbanização. A região é considerada de alto risco e passava por intervenções de contenção de encosta, iniciadas há um ano e meio. As construtoras Bloco e Passareli são as executoras dos serviços, por meio de consórcio.

No local do acidente, o secretário de Habitação de São Paulo, Ricardo Pereira Leite, disse que a obra executada é para "eliminar totalmente o risco". E desconversou quando indagado sobre de quem seria a responsabilidade pelo acidente. "A minha preocupação neste momento é cadastrar as famílias e oferecer alternativas", afirmou, irritado com a pergunta de um jornalista.

Leite reforçou que o IPT fez o mapeamento dos riscos existentes na área. A Prefeitura oferece R$ 450 pelo Programa Aluguel Social, quantia considerada inadequada pelos moradores.

"A gente não acha imóvel para alugar por aqui nesse valor", reclamou Alessandro Souza Miranda, 35 anos, que teve a casa atingida pelo deslizamento e ontem não sabia onde passaria a noite. "Me emprestaram esse agasalho, porque estou sem nada", acrescentou.

Miranda é um dos muitos moradores entrevistados pela equipe do Diário que alertaram às autoridades e construtores sobre o risco do empreendimento. "Os engenheiros diziam que não havia risco. Agora, a minha casa está destruída e pessoas estão mortas aqui."

Outra reclamação dos moradores é que a remoção das famílias começou de cima para baixo. "Houve erro de planejamento da obra", afirmou Amilton Chaves Mineiro, 35, presidente da Associação de Moradores do Jardim Monte Líbano.

A gravidade do risco será avaliada pela Polícia Técnica Científica, segundo o presidente da Defesa Civil de São Paulo, coronel Jair Paca de Lima.

 

MP instaura inquérito para apurar responsabilidades 

O Ministério Público instaurou ontem, tão logo ocorrido o acidente na região da Mata Virgem, inquérito civil para apurar as responsabilidades da tragédia que culminou com a morte de duas pessoas.

Entre as providências, Mauricio Antonio Ribeiro Loves, promotor de Justiça de Habitação e Urbanismo de São Paulo, pede que a Subprefeitura de Cidade Ademar, responsável pela região, preste as informações com o "máximo de detalhes e documentos referentes às obras no local", além de eventual edital de contratação e contrato das empresas executoras. O prazo é de 15 dias.

Em abril de 2004, a Prefeitura de São Paulo foi alvo de ação civil pública interposta pelo MP. A Justiça julgou, em março de 2007, parcialmente procedente a sentença e fixou o prazo de 90 dias para que a administração "retirasse os moradores das áreas de risco muito alto e alto".

O promotor reforça que a execução da ação está "procrastinada" (retardada) por série de recursos interpostos. E acrescenta, na abertura do inquérito: "Vê-se que pode ter havido imperícia e negligência na realização das obras, como a construção de muros de contenção com a população em área de risco não removida".




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