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“A Teologia da Libertação não é problema”, diz novo arcebispo
Por Leda Rosa
Do Diário do Grande ABC
25/03/2007 | 07:08
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Quando tomar posse da sala do arcebispo de São Paulo, no prédio da Cúria no dia 29 de abril, o gaúcho dom Odilo Pedro Scherer terá para gerenciar muito mais que o território de seis regiões – Belém, Brasilândia, Ipiranga, Lapa, Santana e Sé – que abrigam 277 paróquias, pelas quais se espalham o rebanho de 1.110 padres e seis milhões de católicos, praticantes ou não. Ao novo arcebispo escolhido pelo papa Bento XVI caberá administrar um conflito que a Igreja vivencia há tempos: a incompatibilidade entre os setores que defendem uma Igreja que priorize a luta pela melhoria das condições de vida dos milhões de brasileiros pobres e miseráveis, e os que lutam para que a Santa Sé abandone as reivindicações de cunho social e se ocupe dos temas da vida eclesiástica e religiosa.

Em 1985, o então frei Leonardo Boff, defensor da Teologia da Libertação, foi silenciado pelo Vaticano, pelo bispo Ratzinger, hoje eleito papa por seu pares. Acostumado a resolver pendências de porte como secretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), o religioso mostra que não vai se apertar. Dom Odilo deixa clara sua disposição para encarar a luta pelos desafios sociais – para a qual, frisa, todos os católicos gozam do incentivo do papa – e cobrar do governo Lula que faça sua parte. Ele diz que a meta não dispensa a estrita comunhão com os rumos da fé traçados pelo Vaticano.

Junto com os bispos de dioceses, como a de Santo André, o líder católico promete traçar os rumos de sua gestão e fazer a Igreja chegar à periferia.

DIÁRIO – Como o senhor reagiu ao anúncio da escolha do seu nome pelo papa?
DOM ODILO SCHERER – Recebi o aviso pela Nunciatura Apostólica há alguns dias e precisei parar, refletir com tranqüilidade e me acostumar com a idéia.

DIÁRIO – Sua posse será na tarde do dia 29 de abril, na Catedral da Sé. Até quando vai acumular o cargo com a secretaria geral da CNBB?
SCHERER – Permaneço na função até a assembléia da Conferência, marcada para a semana que vai do dia 1º ao dia 9 de maio.

DIÁRIO – Quais serão os principais desafios de seu governo pastoral?
SCHERER – O primeiro é realizar bem o trabalho evangelizador, ajudar os católicos para que vivam bem sua fé, promover ações para que a fé seja comunicada e não fique retida. Além das outras ações que envolvem aspectos como os de caráter cultural e ecumênicos.

DIÁRIO – Qual é a importância da questão social?
SCHERER – O papa Bento XVI incentiva que a Igreja se concentre nos mais pobres, isto é normal. Todos os católicos devem assumir esta missão e lhes dedicar atenção privilegiada. Mas isto não quer dizer que a Igreja é contra alguém, ela está e deve permanecer aberta a todos.

DIÁRIO – Entre as ações que vão traduzir esta perspectiva está incluída a retomada da operação Periferia, que procura visitar os fiéis nas regiões mais distantes?
SCHERER – Vamos ver pouco a pouco, na medida em que se faz o trabalho junto com os bispos, discutindo as práticas que cada diocese aponta como mais relevante.

DIÁRIO – Como pretende resolver as diferenças de visão entre os defensores dos movimentos sociais e os contrários aos princípios da Teologia da Libertação?
SCHERER – Vamos ver como a situação vai se comportar. Certamente o trabalho tem de ser feito dentro de estreita comunhão com a Santa Sé. O problema não é a Teologia da Libertação, em absoluto. A questão é quando alguém faz alguma afirmação que não está de acordo com os rumos traçados pela Santa Sé. Não é a Teologia o problema, não mesmo. São algumas interpretações que contrariam os princípios da fé. Quando isto acontece, as decisões precisam retomar o caminho das orientações decididas pelas instâncias da Santa Sé.

DIÁRIO – Esta expansão da fé católica será implantada também no Grande ABC?
SCHERER – Certamente iremos discutir estas e outras questões relevantes com dom Nelson Westrupp, bispo responsável pela Diocese de Santo André, que concentra as sete cidades do Grande ABC. Temos plena noção que os católicos são a maioria em toda a região e, sinceramente, ficamos ansiosos por ampliar ainda mais o movimento dos fiéis na direção da Igreja. Acho que será muito importante que nossas reuniões com os bispos sejam produtivas e possam se traduzir em ações voltadas para o fortalecimento da fé dos católicos.

DIÁRIO – O crescimento das igrejas evangélicas preocupa a Igreja católica?
SCHERER – Esperamos que a visita de Sua Santidade possa confirmar a fé de tantos católicos que hoje não são praticantes. Mas a Igreja sofre agora com outros problemas, como uma enorme mudança no modo de viver os valores, na cultura.



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