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Câmera na mão,
ideias dispersas
Por Luís Felipe Soares
Do Diário do Grande ABC
10/07/2011 | 07:06
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O cinema é uma arte coletiva na qual todos os envolvidos são essenciais para que um filme seja realizado. Entre os ingredientes do processo, o roteiro talvez seja o mais importante.

Mas essa visão não é clara para todos. A maioria dos alunos de cinema chegam sedentos para lidar com as câmeras e deixam de lado o planejamento: escrevem tudo o que passa por sua cabeça. "Se você perguntar para alguns deles o que querem com seus filmes, eles explicam. Mas há quem tenha dificuldade em colocar as ideias no papel", revela Ana Paul, professora de roteiro do curso de formação da Escola Livre de Cinema e Vídeo de Santo André. "É a base de todo o trabalho do diretor para encontrar as imagens e incentiva os atores."

Um bom roteirista é capaz de transitar com segurança entre os gêneros. Nomes como Stanley Kubrick (1928-1999), Billy Wilder (1996-2002), David Mamet e Francis Ford Coppola ainda são referência. Por aqui, Bráulio Mantovani é o principal nome atualmente. O escritor é responsável pelo que chamam de retomada do roteiro no Brasil ocorrida em 2004, quando concorreu ao Oscar de roteiro adaptado por 'Cidade de Deus' (2002). Glauber Rocha (1939-1981) ainda figura como um dos mais criativos autores brasileiros.

Imaginar histórias é difícil, mas pode ser muito prazeroso. "Escrever é bom porque faz com que você circule por lugares que jamais iria visitar e conheça pessoas fantásticas. Adoro o que faço", afirma Di Moretti, responsável pelas histórias de 'Cabra-Cega' (2004), 'Nossa Vida Não Cabe Num Opala' (2008) e 'No Olho da Rua' (2011), entre outros títulos.

Segundo o roteirista Aleksei Abib, de 'A Via Láctea' (2007), o trabalho intelectual deve ser mantido de maneira disciplinada. "Costumo dizer que escrever é apenas escrever. Mas para viver disso é preciso estar antenado com tudo. Não é tão simples". O serviço é demorado. A primeira versão de um longa-metragem pode levar até seis meses para sair. 'A Via Láctea', por exemplo, demorou pouco mais de um ano para ser finalizado.

Natural de São Bernardo, Roger Keesse fez a paixão pelo cinema incentivar o desejo de desenvolver o próprio material. A carreira é recente e o rapaz sabe que o importante é não desistir. "Acho que estou alcançando uma maior intimidade com as palavras. Quando você tem controle maior sobre elas, consegue chegar a diálogos mais interessantes quando saem da boca do ator", diz o jovem roteirista.

Apesar de demonstrar empolgação com a área de curtas-metragens de animação - na qual está se especializando -, ele tem sentido falta de algo nas atuais produções nacionais. "Estou meio cético quanto ao cinema. Mesmo na ótima fase que nos encontramos, acho que ainda falta sinceridade em alguns autores e realizadores", lamenta.

DIFICULDADES
A principal dificuldade apontada é fazer com que haja consciência em torno do desenvolvimento de todo o processo cinematográfico. É raro produções que reservam parte do orçamento para o roteiro e, muitas vezes, o fracasso de um filme é justificado por uma história fraca.

Outra crítica fica em torno do conceito de ‘autor' na nossa sétima arte. Ao invés de os créditos se dividirem entre os responsáveis, as produções destacam apenas o nome do cineasta do momento. O autor parece existir nos seriados norte-americanos e nas novelas brasileiras, mas passa longe das salas de cinema.

A falta de atenção com o texto faz com que sejam poucos os profissionais da área no Brasil. Em mercado interno que produz cerca de 100 filmes por ano, a falta de visibilidade dos roteiristas é o principal obstáculo para que novos escritores apareçam. "Daqui a pouco não teremos a principal matéria-prima dos filmes. Pode parecer pessimista, mas, na verdade, é uma observação realista", alerta Moretti.




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