O Grande ABC é o primeiro local onde ocorrem as grandes tempestades que vêm do Oceano Atlântico, na região Sudeste. É por isso que as chuvas nas cidades são sempre fortes e ocasionam grandes problemas para a população, como os da última semana.

As explicações para chover tanto na região são duas: a localização das cidades e fenômenos naturais como o La Niña e ilhas de calor. Os municípios do Grande ABC estão localizados próximos à Serra do Mar. E é por lá que o ar frio e úmido do Oceano Atlântico sobe em direção ao planalto. O encontro desse ar, que ao subir a serra se transformou em nuvem, com o ar quente das cidades, produzidos pela ocupação desenfreada, a urbanização e a concentração de indústrias, é que produz as tempestades. Mas não é só. Também há a convergência com a umidade que está vindo da Amazônia, criando cenário que atinge em cheio a região.

O encontro com a corrente de ar que se formou no Atlântico Norte, trafegou em um tipo de corredor pela região da Amazônia e desceu em um canal até a região Sudeste, é um dos fatores para essas fortes pancadas de chuva nesta época", explica Marcelo Schneider, chefe da previsão do tempo do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), órgão ligado ao Ministério da Agricultura que faz previsões para o País inteiro.

O La Niña tem como característica a redução na temperatura da água no Oceano Pacífico. Esse fenômeno altera a circulação das correntes atmosféricas que provocam mudanças no clima global. Já as ilhas de calor, os estudiosos creditam à ocupação das cidades, o que faz com que as microrregiões fiquem mais quentes e, com isso, tenham mais evaporação de água, potencializando as chuvas.

 "O La Niña é um fenômeno natural, não tem nada a ver com o aquecimento global", diz Schneider.

As fortes chuvas no Grande ABC não têm expectativa para acabar. A previsão é que nos próximos dias ocorram mais tempestades. Com isso, o caos no trânsito e no transporte público, além dos deslizamentos de terra, podem se estender por mais alguns dias.

SUPERCOMPUTADORES

Para realizar as previsões, os técnicos do Inmet utilizam supercomputadores que ficam em Brasília e analisam vários mapas feitos por radares e satélite de hora em hora. Os profissionais do centro de pesquisa divulgam duas vezes por dia aos órgãos competentes as condições do clima no País. Enquanto a equipe do Diário estava na sala onde fica uma tela enorme, sexta-feira, foi possível observar o desenvolvimento da chuva através dos mapas gerados pelo radar. Minutos depois, a Capital e o Grande ABC sentiram o resultado do temporal com dezenas de alagamentos espalhados por ruas e avenidas.

 Solo encharcado tem culpa nos constantes alagamentos

As constantes inundações nos mesmos pontos têm uma explicação. Devido ao excesso de chuva, o solo fica encharcado e a água não consegue penetrar. Esse é um dos problemas da falta de área de permeabilidade nas cidades. Além da ausência de políticas públicas, como a limpeza de bocas-de-lobo, rios e córregos.

A chuva constante pode ocasionar problemas de deslizamento de terra. Porque, com o peso da água, as encostas acabam cedendo, o que gera outro transtorno.

A previsão do tempo para os próximos dias na região é a chegada de uma frente fria, com chuvas fortes amanhã.

A impressão é que os dias mantêm uma rotina. Amanhece com sol, depois fica abafado e, à tarde, cai aquela tempestade. Mas, para Marcelo Schneider, chefe da previsão do tempo do Inmet, a explicação é justamente porque houve forte evaporação durante o dia e a massa de ar quente conseguiu formar as nuvens carregadas.

 RIO TERÁ MAIS CHUVA

A previsão para os próximos dias não é animadora para os moradores da região serrana do Rio de Janeiro. Segundo os mapas do Inmet provavelmente vai continuar as fortes chuvas que atingem a região desde o começo da semana passada.