Na vida pública desde 1986, quando assumiu a Secretaria de Segurança de São Paulo, Michel Temer (PMDB) despontou como liderança política há poucos anos e hoje demonstra habilidade política, característica que, segundo especialistas ouvidos pelo Diário, é responsável pelo respaldo como líder partidário.

Ao ser aclamado como vice-presidente na chapa de Dilma Rousseff (PT), em julho de 2010, Temer alcançou o patamar de cacique no PMDB. "Tem habilidade de controlar São Paulo e fazer com que outros diretórios municipais se comuniquem de forma direta com ele", analisou o cientista político Rui Tavares Maluf.

Mas nem sempre foi assim. Com atuação no reduto paulista, o vice-presidente esbarrava na figura do ex-governador Orestes Quércia, morto em dezembro de 2010. Com postura mais conservadora, Quércia não poupava críticas aos direcionamentos partidários em âmbito nacional. "Passou a ser inconveniente criticando o governo Lula (entre 2002 e 2010). Os dois peemedebistas se distanciaram e Temer viu que precisaria isolar Quércia", avaliou Maluf.

Professora Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, Jacqueline Quaresemin afirmou que a morte de Quércia ajudou, ainda que indiretamente, na decolagem de Temer, principalmente dentro do PMDB. "O partido tem suas divergências internas que são bem escondidas. Hoje, o Temer é a referência e converge como nome do PMDB, quem melhor representa o partido. Ele é bem articulado", analisou Jacqueline.

O bom trânsito do vice-presidente tem sido provado neste primeiro ano de governo Dilma. O PMDB tem se destacado como aliado do governo no Congresso Nacional e Temer é quem comanda os correligionários. "O cargo atual dá visibilidade. A Dilma está sendo importante para ele, pois ela o credencia para discussões importantes. Nesse novo contato, ele tem crescido", pontuou a especialista.

Jacqueline, contudo, apontou outras lideranças importantes que se destacam no cenário peemedebista, como o presidente do Senado, José Sarney, e os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Pedro Simon (PMDB-RS). Antes da ascensão de Temer, que era tratado como mero deputado federal, eles eram os grandes caciques do partido em Brasília.

PELAS BEIRADAS
Segundo especialistas, a discrição de Temer é o ponto positivo, principalmente aos olhos de Dilma. "O vice não tem característica de alguém palanqueiro. Possui alto conhecimento na área jurídica (ele é advogado) e habilidade", avaliou Rui Tavares Maluf.

Jacqueline Quaresmin ressaltou que o peemedebista tem conquistado a presidente justamente pela sua maneira discreta de articular. "Ele está quieto e contrariando todos aqueles que afirmavam que a Dilma seria refém dele. Está se constituindo uma liderança maior, pois era mais um nome e agora tem maior visibilidade."