Política Titulo Acidente em Santos
Famílias acionam PSB após queda de avião

Um mês depois de tragédia em Santos, moradores reclamam de descaso, mas falam em reconstrução do bairro

Leandro Baldini
Do Diário do Grande ABC
13/09/2014 | 07:28
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“O sonho é reconstruir nossa casa”. A frase dita com voz embargada, em meio a lágrimas, sintetiza o desejo da família Homme de Bittencourt, moradora há 42 anos da Rua Alexandre Herculano, no Canal 2, bairro Boqueirão, em Santos, cuja residência foi a mais afetada com o acidente aéreo que vitimou Eduardo Campos, então candidato do PSB à Presidência, há exato um mês.

De acordo com a advogada Wanda Maria Pettinatti Homme de Bittencourt, 49 anos, filha do casal proprietário – o aposentado Paulo Homme de Bittencourt, 85, e a professora Wanda Homme de Bittencourt, 76 – o sentimento durante esse período é de “total descaso”, o que motivou um processo judicial contra o PSB, requerendo indenização pelos prejuízos somados e danos morais.

“Absolutamente ninguém nos procurou. Nem do partido nem da companhia aérea para nos posicionar sobre a situação. Não tivemos escolha ao não ser optar pelo caminho judicial e definimos processar o partido em questão, pois tratava-se de viagem de campanha”, justifica.

Além de Eduardo, mais seis pessoas estavam a bordo: os pilotos Geraldo Cunha e Marcos Martins, o assessor de imprensa Carlos Augusto Leal Filho, conhecido como Percol, o fotógrafo Alexandre Severo Gomes e Silva, o cinegrafista Marcelo Lira e o ex-deputado federal Pedro Valadares Neto. Não houve sobreviventes no acidente.

A aeronave modelo Cessna 560XL, prefixo PR-AFA, caiu às 10h no quintal de 500 metros quadrados localizado nos fundos da residência da família Homme de Bittencourt. Minutos antes, o piloto teve de arremeter na primeira tentativa de pouso na base aérea de Santos, situada no Guarujá, onde o presidenciável realizaria atividade naquele dia 13 de agosto. O tempo estava ruim, com vento e neblina, e ele manobrava sobre o bairro para segunda chance de pouso.

O impacto abalou duramente as estruturas da propriedade. Wanda explicou que seus pais aproveitavam o local para o cultivo de árvores e preservação de gramado. O choque dos destroços do avião na residência provocou a destruição de parte do telhado, dos muros, além da quebra de vários móveis e aparelhos domésticos. “Acredito que o prejuízo está em torno de R$ 600 mil. Foi uma destruição total. Tivemos muita sorte da casa ter conseguido ficar em pé”, relembra Wanda, que hoje mora em simples apartamento de um dormitório com os pais.

A situação de desamparo foi compartilhada pelo professor de Educação Física e proprietário da academia Mahatma, Benedito Juarez Câmara, 69 anos. A localidade foi também duramente atingida pela queda da aeronave. “Isso aqui (academia) era a minha vida. Não sei o que fazer ainda”, explica Juarez, que tem o empreendimento há quase 40 anos e possuía 800 alunos.

Os destroços e o incêndio ocorrido após queda da aeronave causaram inúmeros danos, como a destruição de parte do teto, danificação do muro, além de várias rachaduras, que inutilizaram duas piscinas olímpicas e grande parte dos aparelhos de ginástica.

Para Juarez, que também admite a possibilidade de um processo judicial para reaver os danos – inclusive contra o PSB –, o principal foi conquistado. “Pouco antes do acidente, eu dava aula de aeróbica, no complexo superior, que foi o mais atingido. Deixei o local para tomar um café. Eu fiquei muito feliz que ninguém da academia morreu ou ficou ferido.”

Desde a tragédia, o prédio foi interditado pela prefeitura de Santos. Só foi liberado na segunda-feira para obras, o que, no entanto, não ajudou o proprietário. “Não tinha seguro e não tenho dinheiro para reformar. Estou tentando empréstimo com bancos, mas está muito difícil”, lamenta.

CENÁRIO
“O bairro do Boqueirão nunca mais foi o mesmo”, relatou o porteiro, Joeliton Barros, 38 anos, morador da Rua Alexandre Herculano, um dos poucos munícipes que aceitaram conversar com o Diário.

Antes caracterizada por ponto de interação dos vizinhos, a via agora vive clima fúnebre. Somente curiosos param em frente à residência mais afetada com a queda da aeronave. No local do acidente, foi recolocada terra para tapar a enorme cratera onde ficou enterrada a parte da frente do avião de Eduardo.

Morte transformou o cenário político

Até o dia 13 de agosto, a disputa pela corrida presidencial apontava mais uma polarização entre o PT e o PSDB. A chapa do PSB, que era encabeçada pelo ex-governador pernambucano Eduardo Campos e que tinha a ex-senadora Marina Silva como vice, aspirava crescimento no processo eleitoral, no entanto, ocupava distante terceira colocação em pesquisas eleitorais, variando em torno de 10% das intenções de voto. A presidente Dilma Rousseff (PT), que busca a reeleição, garantia liderança com 38% em média, seguida pelo senador Aécio Neves (PSDB), 23%.

Contudo, o cenário apresentou vertiginosa modificação logo no primeiro levantamento após a morte de Eduardo. Marina Silva foi oficializada como candidata a presidente da República pelo PSB e o deputado federal Beto Albuquerque, nomeado vice-presidente na coligação.

Desde então, a ex-senadora cresceu em todas as pesquisas, chegando atingir 34% de preferência eleitoral. Atualmente, está com 31%, contra 39% de Dilma – conforme pesquisa Ibope apresentada ontem. Em disputa no segundo turno, o cenário aponta empate técnico entre Marina e Dilma.

Quem mais sofreu com a alteração do cenário foi Aécio Neves. O senador mineiro viu a sua candidatura ruir desde então, despencando nas sondagens eleitorais, que mostram hoje que 15% do eleitorado são favoráveis ao tucano.

Inicialmente, os tucanos adotaram discursos de que o ‘efeito Marina Silva’ era variável, com tempo limitado e com apelo emocional. Conforme as pontuações em pesquisas foram se fixando, o tom de Aécio foi alterado e as atividades de campanha começaram a se caracterizar por inúmeros ataques à ex-senadora. Em agenda recente, o senador tucano declarou que “Marina Silva diz uma coisa em um dia e muda no outro, conforme a pressão sofrida”.

Sem o favoritismo de antes, Dilma também partiu para ofensiva contra a socialista. Ela criticou proposta de autonomia do BC (Banco Central) defendida por Marina, classificou a rival como presidenciável de banqueiros e até chamou de “vira-casaca” a ex-companheira de ministério no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A petista se recuperou nas pesquisas após o bombardeio.

PF adia apuração sobre acidente aéreo

Como o inquérito não foi concluído em 30 dias, a PF (Polícia Federal) pediu ontem ao Ministério Público a prorrogação das investigações sobre a queda do avião que matou o então presidenciável Eduardo Campos (PSB). Este procedimento é adotado quando não há encerramento de averiguação no prazo estabelecido.

A PF torna-se obrigada a solicitar ao MP extensão do prazo, com o objetivo de informar posteriormente as novas etapas da apuração do acidente. Entretanto, a investigação se restringiu às causas do acidente, sem entrar no mérito da procedência da aeronave – de propriedade de empresário de Recife, o avião também virou centro do noticiário político por não ter sido declarado à Justiça Eleitoral.

Irmão de Eduardo, o advogado Antonio Campos ingressou na segunda-feira com ação no MPF (Ministério Público Federal) de Santos solicitando abertura de ação judicial para a produção antecipada de provas sobre os motivos da queda. Ele se baseia na necessidade de investigação minuciosa sobre ocorrência de crimes de homicídio, citando a possibilidade de morte culposa (sem intenção) e atentado contra a segurança dos meios do transporte aéreo. O irmão de Eduardo também questionou a isenção da Aeronáutica para investigar as causas do acidente.




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