Política Titulo
Sem Japão, Brasil ainda luta por vaga na ONU
Por
07/01/2006 | 08:12
Compartilhar notícia


Brasil, Alemanha e Índia, abandonados pelo Japão, apresentaram na quinta-feira, formalmente, uma proposta comum de reforma do CS (Conselho de Segurança) da ONU (Organização das Nações Unidas), três dias depois de o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter autorizado a quitação da dívida de US$ 135 milhões (R$ 308,61 milhões) com o organismo. A iniciativa seguiu a estratégia de manter o tema na agenda da Assembléia-Geral da ONU e de impedir que o fracasso das discussões em 2005 enterre de vez o objetivo de reformar o CS – de não dar por vencida a idéia de atualizar a composição da mais importante instância de poder mundial, que ainda reflete o cenário do final da 2ª Guerra Mundial.

O projeto de resolução prevê a criação de seis assentos permanentes, com poder de veto às decisões apenas depois de 15 anos, e mais quatro cadeiras não-permanentes.

O conselho, ainda hoje, é composto por apenas cinco permanentes – Estados Unidos, China, França, Inglaterra e Rússia – e dez não-permanentes.

A ausência do Japão causou estranheza por indicar a possibilidade de uma aliança de Tóquio com Washington em favor de uma proposta mais modesta de reforma, que envolveria o aumento de “cerca de dois membros permanentes”. A rigor, pode ser lida como o esfacelamento do G-4, o grupo criado em 2005 pela Alemanha, Brasil, Índia e Japão para promover o apoio mútuo visando o acesso ao clube mais restrito do CS e que elaborou a mesma proposição formalizada nesta semana.

O governo japonês, entretanto, tomou os cuidados. Durante a sessão da Assembléia-Geral de ontem, os representantes afirmaram que não se tratava de uma ruptura do G-4 e que a cooperação de Tóquio com o Brasil, Alemanha e Índia continuará. O objetivo de expandir o número de membros contínuos e não-contínuos no órgão, afirmam, será mantido por Tóquio. Em seguida, a delegação da França expôs a análise dessa atitude como uma divisão de responsabilidades – no entanto, os três sócios do G-4 formalizam o plano e o Japão negociaria com a China e os Estados Unidos o apoio a esse intento de reforma.

A tese francesa foi respaldada por especialistas no Itamaraty. Primeiro, porque o Japão tornou-se, em 2005, o impedimento mais forte à aprovação da proposta do G-4, que contava com a maioria dos votos dos 148 membros da ONU – mais de cem, excluindo a África. De um lado, a China opôs-se, ruidosamente, ao ingresso do Japão entre os membros constantes e assinou que, com a exclusão de Tóquio, poderia apoiar o projeto de mudança do CS. De outro, os EUA deram respaldo público ao ingresso no conselho apenas a um país – o Japão –, mas resistiram em firmar o texto do grupo.

A analistas do Itamaraty, anteviram que o Japão poderia alçar um vôo próprio logo depois da reunião da ONU, em setembro. Na ocasião, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, declarara-se “decepcionado com a China”. Amorim completou que Pequim poderia ter permitido o início do processo da reforma e, depois, bloqueado o ingresso do Japão. Diplomatas brasileiros temeram, naquele momento, que o Japão tomasse a declaração como um ato de má-fé do Brasil.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;