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Entidades cobram apuração de morte de universitário de São Bernardo

Para entidades, há indícios de violência policial
no caso; jovem de 25 anos foi baleado em Santos

Por Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
01/06/2017 | 07:00
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Arquivo Pessoal


Diante de inúmeras dúvidas a respeito das circunstâncias da morte do estudante de Psicologia e morador de São Bernardo Dioleno Jesus Santos, 25 anos, no dia 25, baleado por policiais militares no bairro Embaré, em Santos, os órgãos de defesa dos direitos humanos do Estado cobram apuração detalhada do caso por parte da Ouvidoria da Polícia. Sob justificativa de que há indícios de violência policial, o grupo encaminhou ofício, na tarde de ontem, ao ouvidor-geral, Júlio Cesar Neves.

A versão conhecida dos fatos até o momento, por meio de boletim de ocorrência registrado no 1º DP (Centro) de Santos, diz que o universitário foi morto após troca de tiros com policiais militares nas proximidades de quiosques no Canal 4 por motivo desconhecido – análise da PM diz que o policial autor dos disparos agiu em legítima defesa. A arma portada pelo jovem, um revólver calibre 38, foi roubada de integrante da GCM (Guarda Civil Municipal) de São Bernardo à paisana na madrugada de domingo, quando Santos foi abordado enquanto pichava a fachada da Sedesc (Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania) da cidade com a frase ‘Fora, Temer!’.

“Todas as circunstâncias da morte do jovem precisam ser esclarecidas, inclusive levando-se em conta o histórico de letalidade e abusos praticados corriqueiramente pela Polícia Militar de São Paulo, que matou 217 pessoas no primeiro semestre de 2017”, destaca o coordenador da Comissão da Criança e do Adolescente do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), integrante do Movimento Nacional de Direitos Humanos e do Grupo Tortura Nunca Mais São Paulo, Ariel de Castro Alves.

Para o gestor de projetos sociais Luis Carlos Barbosa, trata-se de caso de execução de rapaz negro e da periferia. Ele é padrinho social de Dioleno há pelo menos dez anos, período em que conheceu o jovem na unidade de São Bernardo da Aldeias Infantis SOS Brasil, onde o universitário ficou acolhido entre os 7 e 18 anos. “Tudo começou com a criminalização de uma forma de protesto. Ele era um jovem, como tantos outros, insatisfeito com a realidade do País. Acredito que pegar a arma da guarda-civil e fugir desesperado foram atos de defesa, para que não fosse morto. Também precisamos esclarecer como começou essa confusão com os policiais em Santos. Ele levou quatro tiros de um policial que estava à paisana, num quiosque comendo um lanche. Não podemos nos calar frente a esses fatos inexplicados”, considera.

Por meio de nota de repúdio, a Aldeias Infantis SOS Brasil pede que haja “profunda e incondicional investigação e as devidas responsabilizações frente ao constatado”.

O ouvidor-geral da polícia destacou que providências já foram tomadas. “Tendo em vista que trata-se de um homicídio, já oficiamos a Corregedoria da Polícia Militar, bem como a Polícia Civil e o Ministério Público Estadual em Santos para que seja designado promotor para acompanhar o inquérito”, diz Neves.

A Secretaria de Segurança Pública observou que a “Corregedoria da PM instaurou inquérito para apurar a conduta dos PMs, como é praxe em todas as ocorrências dessa natureza”.

Já a Prefeitura de São Bernardo informou que “foi elaborado boletim de ocorrência do roubo da arma da guarda municipal e aberto processo interno para apuração dos fatos”.


Padrinho ressalta processo difícil de superação das adversidades

“Ele estava na melhor fase da vida dele. Queria mudar o mundo. Caminhava para entrar para a estatística ainda muito pequena de jovens que deixam o serviço de acolhimento e conseguem trilhar caminho adequado. Não deixaram ele conquistar seus sonhos”. O lamento é do gestor de projetos sociais e padrinho de Dioleno Jesus Santos, Luis Carlos Barbosa, 53 anos. Para </CW>ele, além do sentimento de luto e da revolta, fica a sensação de injustiça com o que considera tentativa de desqualificar o jovem.

“Ninguém procurou saber sobre a vida dele, que já tinha de enfrentar o estigma do acolhimento. Mas ele estava sendo bem-sucedido, cursava o 4º ano de Psicologia, trabalhava com crianças com deficiência e tinha planos de retornar para a Aldeias Infantis para dar apoio psicológico”, ressalta Barbosa, que também conviveu e apadrinhou a irmã de Dioleno, Caliana de Jesus Santos, 23. “Os dois foram acolhidos após os pais biológicos perderem a guarda devido à situação de risco social em que viviam”, completa.
 




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