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Últimos atos
Por Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
23/06/2010 | 07:02
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Neste fim de semana encerram-se as apresentações teatrais adultas do ABCena, projeto do Sesc Santo André de discussão do teatro regional.

Na sexta, a Cia do Porão, de São Caetano, apresenta P.O.R.A.O. - Parte Orgânica Referente ao Ontem. Sábado, a Cia do Nó leva para o palco A Dobra e, domingo, encerrando, Tin Urbinatti encena Depois de Tudo.

P.O.R.A.O. surgiu de um processo colaborativo iniciado por alunos da Fundação das Artes de São Caetano. A ideia, segundo a atriz Liana Crocco, era criar algo alegre e divertido. "Um dia, o Celso Correia Lopes (diretor) chegou com a frase "No dia em que morremos um pouco", e pediu para elaborarmos algo em cima. Até então não sabíamos que a real necessidade era de falar sobre isso", conta.

Fazer comédia talvez tivesse vindo para mascarar o desejo de abordar algo que fosse mais fundo nas emoções, como uma válvula de escape. Logo eles se reuniram e começaram a criar. "A gente escolhe o porão como cenário, ele é metalinguístico, um lugar onde a gente guarda nossas mazelas até o dia em que fazemos uma visita a esse local para colocar as coisas no lugar. Esse dia chega na peça".

Em cena, nove personagens discorrem sobre algo que foram largando para trás, sem mudança, para priorizar o novo. E confrontam a necessidade de encarar o passado para superá-lo. "É como se fosse morrer para nascer de novo."

HOMEM X MÁQUINA
A Dobra traz em discussão a humanidade em confronto com a tecnologia. "Falamos do homem que trabalha mais por reflexo e menos por reflexão. Da ideia que impera de poder, de pegar o caminho mais fácil para conquistar algo. Alguns valores morais e éticos estão invertidos em prioridade dessa razão e nem percebemos o quanto estamos contaminados", conta Esdras Domingos, que escreveu o texto com Renata Moré.

No enredo, William, bem-sucedido empresário de 40 anos, fica insatisfeito ao perder suas economias e acaba confrontando o jovem que era aos 20 anos.

Depois de Tudo, monólogo de Tin Urbinatti, traz colagem de textos de grandes poetas como Vinicius de Moraes, Maiakoviski e Castro Alves para discutir o operário e o artista. "Socialmente, há uma valoração diferenciada entre um e outro. O trabalho braçal é tido como importante porque ele constrói coisas, transforma matéria-prima em mercadoria. E o outro, o intelectual, é tido como importante, mas somente no discurso, porque para a sociedade capitalista ele só interessa na medida em que é visto como mercadoria também. O espetáculo problematiza essa dualidade. Quem vale mais, o poeta ou o operário? Coloco isso em termos de antagonismo. O público é que deve dar a resposta", conta Tin.

 

 


Opressão e exclusão no teatro do Grande ABC

Thiago Mariano

Nekropolis e Meu Tio o Iauaretê, apresentadas pelo ABCena, no Sesc Santo André, trazem de formas distintas pontos comuns de discussão: opressão e exclusão.

Na primeira peça, o terror tocado pela organização terrorista Extirpe - que desenterra e exibe cadáveres para discutir a exclusão social - transcende do palco e invade a plateia. Da defesa do barbarismo ao clamor pela moral e a luta contra os atos, o resultado mais facilmente assimilado é do quão perigoso é julgar, o que quer que seja.

A sentença é que varia, vai da cabeça de cada um. Juízo de valores à parte, é válido evidenciar a qualidade musical e a diferenciação e ousadia com que as coreografias criadas trazem à tona o debate.

Meu Tio o Iauaretê (do tupi, Iauaretê significa onça verdadeira) conta sobre um matador de onças que acaba desistindo de matá-las por criar identificação com elas. A peça é baseada em conto de Guimarães Rosa. Muito bem expresso, o personagem animal, por meios de onomatopeias e neologismos, recorta as frases deliciosas que só Rosa soube criar. Talvez algumas entrelinhas, das quais o escritor também é mestre tenham sido suprimidas na montagem. E por isso o sentido dele, a dualidade entre a civilização e o meio natural, perdeu um pouco de riqueza.




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