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Donos desconhecem perigos da doença
Por Deborah Moreira
Do Diário do Grande ABC
12/07/2010 | 07:19
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A equipe do Diário foi às ruas para saber o que pensam os moradores do Grande ABC sobre a polêmica em torno da eutanásia para cães com leishmaniose visceral. Todos as pessoas abordadas desconheciam a doença e o procedimento adotado nos consultórios veterinários.

"É terrível isso. Moro sozinha e a companhia que tenho são minhas cachorrinhas. Sou contra a eutanásia", declarou a agente escolar Francisca Helena , 40 anos, dona das poodles Kika e Manu, com 7 e 5 anos, respectivamente.

"Faria tudo o que fosse possível para salvar a vida dele, mas se tudo o que fizer não resolver, sou a favor da eutanásia", disse a administradora Jamile Fernandes, 33, que cria o yorkshire Duda, 1 ano.

Natália Oragio, 24, já perdeu Bruna, uma vira-lata de 18 anos, com embolia pulmonar. "O veterinário sugeriu a eutanásia, mas disse que havia uma chance dela viver mais algum tempo com remédio. Então decidimos mantê-la viva e ficou com a gente mais cinco meses", lembrou Natália. Apesar disso, não se arrepende de ter tentado, mas faz um alerta aos proprietários. "Se a doença não tem cura é melhor perder o bicho e evitar o sofrimento dele", concluiu. Atualmente, é dona da beagle Bia, 4 anos, que tomou todas vacinas recomendadas.

Já o golden retriever Scott, 8 meses, tomou todas as injeções e também uma vacina que vem sendo testada no mercado contra a leishmaniose, desenvolvida pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). "Sou totalmente contra a eutanásia. É preciso descobrir as formas de prevenção", declarou o comerciante Pedro Yuiti, 24, dono de Scott e da labradora Puck, 9 anos. Catarina Pawlowski, 25, sua namorada, também defende os animais: "Se você tem um animal para criar, tem que cuidar dele até o fim".

"São três doses da vacina, a cada 21 dias. Geralmente indico para quem vai para áreas endêmicas ou quer prevenir. A doença já está chegando à Capital, está cada vez mais perto de nós", explicou a veterinária Tatiana Lembo de Assis. Cada dose custa R$ 70.

CAUSAS - A doença tem se expandido da zona rural para a urbana por conta do desmatamento. A ocupação de áreas de mata e a abertura de novas estradas, como o Rodoanel, acabam gerando a ida dos mosquitos para as cidades.

"A doença ainda não existe aqui. Só atendi dois casos e eram de animais vindos do Interior. Um deles foi falso positivo e quando repetimos o exame constatou-se que era saudável e o outro já estava bastante debilitado e precisou mesmo ser eutanasiado", relatou a veterinária Valéria Maria Leme, 45 anos, que atua há 22 na região.

Entidade mineira defende tratamento

Em São Paulo, a discussão sobre a eutanásia de cães está apenas começando. O CRVM (Conselho Regional de Medicina Veterinária) enviou carta ao governador solicitando veto ao projeto que aumentaria as chances de contaminação de humanos com a postergação do sacrifício de cães.

Em outro ponto do País a discussão já foi parar na Justiça. Em Brumadinho, na Grande Belo Horizonte (MG), o pit bull Vlad teve diagnóstico positivo da leishmaniose visceral canina pelo Centro de Controle de Zoonoses, que determinou o sacrifício do animal. Inconformada, a dona moveu ação para evitar o pior. A disputa durou cinco anos e durante esse tempo, o cachorro ficou sob a custódia de um veterinário. "A Justiça determinou que o município pagasse R$ 60 mil em indenização à dona do cão, que era uma vizinha minha. Foi a primeira ação desse tipo no País", declarou o advogado Sérgio Cruz, da Anclivepa (Associação Nacional dos Clínicos Veterinários de Pequenos Animais).

Vlad recebeu tratamento, atualmente vive bem com a dona e é monitorado a cada seis meses, com exames parasitológicos.

Para o representante da Anclivepa, o animal que apresenta resultado negativo do parasita circulante não é mais considerado um reservatório da doença.

Segundo Cruz, é comum os donos dos cães inconformados tratarem seus animais com remédios importados e para uso humano. "O veterinário não pode tratar, mas pode monitorar o animal e geralmente também explica que é possível encontrar a medicação na internet", explicou o advogado.

Há três anos, Cruz tratou de uma Lulu da Pomerânia, que pertencia à sua mãe, com uma série de injeções importadas da Itália. "Não havia a portaria interministerial. É uma hipocrisia o que vem ocorrendo. Sabemos que existem vários protocolos (tratamentos) disponíveis, mas é mais barato matar do que indicar o tratamento", concluiu o advogado Cruz, que pagou cerca de R$ 1.500 pelas 21 injeções da cadela Loli, de 10 anos, que vive até hoje com sua mãe.




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