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Acordes do outono em Lucerna
Por Heloísa Cestari
Do Diário do Grande ABC
Com AJB
03/11/2005 | 10:08
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Uma pequenina cidade suíça, onde o tempo parece ter parado, atrai todos os anos milhares de visitantes para os seus tradicionais eventos de música erudita. Se você pensou em Lucerna, acertou. Situada a apenas 45 minutos de trem de Zurique, a charmosa cidade de ruas estreitas, gente andando a pé e crianças alimentando gansos, tudo emoldurado pelos imponentes Alpes Suíços, servirá de palco, entre os dias 22 e 27 deste mês, para um festival de piano que deverá atrair 12 mil pessoas ao Centro de Arte e Cultura de Lucerna (KLL) para conferir a permonance de oito grandes pianistas da atualidade: Arcadi Volodos, Emanuel Ax, Fazil Say, Angela Hewitt, Mikhail Pletnev, Thomas Larcher, Jean-Yves Thibaudet e Radu Lupu. Como atração especial, Pierre-Laurent Aimard, que apresentará um concerto de Mozart para o piano ao lado da Orquestra Mahler Chamber, conduzida por Daniel Harding.

Além dos concertos, o festivalrealizado no outono de lá também contará com espetáculos de música contemporânea, manifestações de arte diretamente ligadas à música e a programação do Piano Off-Stage!, evento paralelo dedicado à arte do chamado cocktail piano, com shows de músicos especializados no gênero em restaurantes, hotéis e lounges de toda Lucerna.

De quebra, entre um concerto e outro, o turista ainda tem a chance de conhecer algumas das atrações turísticas mais encantadoras da Suíça em meio a um clima de cidade do interior, com aquela simpatia típica dos lugares onde todos parecem se conhecer. Ao todo, a cidade tem 60 mil habitantes e a melhor maneira de visitá-la é a pé, explorando suas ruelas levemente desniveladas e cruzando as pontes que atravessam o rio Reuss.

A mais famosa delas é o símbolo da cidade: a Ponte da Capela, que fazia parte das fortificações erguidas quando Lucerna se separou da dinastia dos Habsburgs, no século XIV. A ponte permaneceu fechada até o século XVII e, quando foi finalmente aberta ao público, o artista Henry Wagmann fez 147 pinturas ilustrativas para adornar a passagem. Todas elas contam lendas, combates e histórias referentes à cidade, além de trazer o brasão da família que a patrocinou. Mas em um incêndio ocorrido em 1993, 100 pinturas foram queimadas, para a tristeza de moradores e visitantes de Lucerna.

É através das andanças que se descobre os encantos e a história da cidade. Um dos edifícios mais importantes é a igreja dos Jesuítas, que chegaram a Lucerna em 1574, fugidos da reforma religiosa ocorrida no país. Diferentemente da maioria dos estados suíços, que aderiram ao protestantismo, Lucerna não o fez. Hoje, ela é metade católica, metade protestante. A igreja só foi concluída em 1666, em estilo barroco, e tem como padroeiro São Francisco Xavier.

Em 1848, entretanto, os jesuítas foram expulsos da cidade depois que o partido dos liberais ganhou as eleições. Explica-se: os religiosos apoiavam os conservadores e, por exercerem tremenda influência na população, passaram a ser sinônimo de ameaça ao poder.

Próximo à igreja está o Palácio do Governo, construído em estilo renascentista para ser uma casa particular. Logo a seguir, outro prédio governamental, facilmente identificado por uma razão: em Lucerna, todas as casas que possuem as janelas pintadas em azul e branco ou pertencem ao Estado ou têm caráter histórico.

Um dos charmes da cidade são justamente suas pontes: sete, ao todo. A formação de Lucerna está diretamente relacionada a elas e, pela abundância de água, por muito tempo foi conhecida como a Veneza suíça. O rio só foi aterrado em 1860 e até hoje suas águas são controladas por barragens para evitar inundações. Em 1168 foi construída a primeira das pontes, quando a cidade ainda era uma aldeia de pescadores. Na Ponte do Moinho, de 1408, também há pinturas semelhantes às da Capela.

Lucerna foi uma cidade murada e boa parte de suas muralhas ainda está intacta: há, ainda hoje, 870 m delas, além de três torres de observação que podem ser visitadas. Em uma está o relógio mais antigo da cidade, construído em 1535. Ao ouvir suas badaladas, não pense que seu relógio está atrasado: sua peculiaridade é justamente a de tocar um minuto antes de todos os outros de Lucerna.

Duas outras edificações merecem atenção. Uma delas é a Câmara Municipal, cujo telhado inclinado, importado de uma fazenda de Berna, causou polêmica na população. Para completar, é vermelho sangue. A outra é o monumento conhecido como Leão Moribundo, uma homenagem aos mercenários suíços que perderam a vida no assalto às Tulherias em 1792.




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