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Covid afasta 15 profissionais da saúde por dia no Grande ABC

Falta de organização, EPIs e treinamento agravam situação de trabalhadores que atuam na linha de frente contra a doença

Yara Ferraz
20/07/2020 | 07:23
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Claudinei Plaza/DGABC


Ao menos 1.938 (7,4%) dos 26.138 profissionais da saúde da rede municipal do Grande ABC já foram infectados pela Covid-19 e tiveram que ser afastados. O número é equivalente a 15 casos por dia desde os primeiros casos registrados na região, em 15 de março. Os dados são de cinco das sete prefeituras – Santo André e São Caetano não informaram até o fechamento desta edição. Na avaliação da APM (Associação Paulista de Médicos), conjunto de fatores é responsável pela contaminação destes trabalhadores.

Um deles é a falta de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) e outros insumos, cuja pesquisa da entidade, divulgada neste mês, mostrou que é parte da rotina de 59% do setor. Cerca de 55% relataram falta de máscaras cirúrgicas, face shield, N95 ou equivalente, além da falta de aventais (18%), óculos (11%), álcool gel (6,6%) e luvas (4,4%).

Segundo José Luiz Gomes do Amaral, presidente da APM, outra questão crucial é a organização das unidades de saúde. “Algumas têm a triagem, que separa bem os casos com síndrome respiratória, mas outras não”, afirmou. Inclusive, a estimativa é que metade da contaminação de médicos, enfermeiros e outros profissionais da saúde ocorreu fora do setor de tratamento exclusivo da Covid. “As pessoas podem transmitir o vírus mesmo assintomáticas ou pré sintomáticas, então, às vezes elas chegam ao hospital por outro problema e acabam infectando outros indivíduos. Por isso todos nós devemos usar máscara”, destacou.

Mais um aspecto que colabora para contrair o novo coronavírus é a sobrecarga que, de acordo com Amaral, faz com que os profissionais não consigam adotar todas as medidas de segurança. Conforme pesquisa da APM, 69,2% dos entrevistados afirmaram que há casos de colegas com ansiedade, 63,5% relataram quadros de estresse, 50,2% informaram sensação de sobrecarga e 49% notaram exaustão física ou emocional. Apenas 9,7% alegaram que não presenciaram médicos com algum dos sintomas.

Amaral assinala que a falta de treinamento também é comum. “Se tem EPIs, tem que saber como vestir e despir porque se não fizer certo, na pressa, acaba tendo um acidente e acaba sendo contaminado, principalmente para quem trabalha com serviços que exigem o uso de equipamentos durante todo o dia e que são desconfortáveis para se alimentar ou ir ao banheiro”, explicou.

Por cidade, o número de profissionais que foram infectados pelo coronavírus é de 925 em São Bernardo, 741 em Mauá, 224 em Diadema, 34 em Ribeirão Pires e 14 em Rio Grande da Serra. Durante o afastamento destes profissionais, as prefeituras afirmaram que as equipes foram remanejadas, não havendo a necessidade de contratação.

No entanto, Mauá salientou que, por meio de PL (Projeto de Lei), contratou 400 trabalhadores não para reposição, mas para “ampliar o universo de atendimento à saúde” neste momento. Todos eles já estão atuando. Já a Prefeitura de São Bernardo lembrou que dois equipamentos foram inaugurados durante a pandemia – o Hospital de Urgência e o Hospital Anchieta –, resultando em 1.900 contratações no setor. “Além disso, há grande rotatividade na área da saúde e o processo de reposição é contínuo”, completou a administração. 




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