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Empresário confirma despejo no lixão
Por Raymundo de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
24/08/2001 | 00:45
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O empresário Antenor Alonso, 65 anos, administrador por 22 anos do depósito de resíduos industriais do grupo Cofap que funcionou na mesma área em que foi construído o Residencial Barão de Mauá, afirmou nesta qunta que levava para o local sobras de metais, papelão, plástico, borracha, madeira, estopas e panos encharcados com solventes e outros produtos químicos usados na limpeza de peças feitos na fábrica e restos de areia e metais que sobravam nos fornos da fundição das quatro empresas do grupo. 

Alonso afirma que durante o governo de Dorival Rezende (1977-1983) na Prefeitura de Mauá, uma máquina de terraplenagem da administração municipal fazia, a cada 15 dias, gratuitamente, o trabalho de aterramento dos materiais que não eram revendidos por ele no depósito. “Eu vendia metal, madeira, plástico, papelão e panos que estavam limpos”, afirma. Segundo Alonso, o que não dava para aproveitar eram as estopas e panos encharcados de solventes e óleos. Alonso disse que não eram levados para o depósito resíduos líquidos e produtos químicos. A Prefeitura também utilizaria sobras da queima dos fornos da Cofap para nivelar ruas de terra.

O empresário afirmou que não se lembra da quantidade de produtos depositados diariamente no local, conhecido na época como lixão do Alonso. Segundo ele, a administração do depósito ficou sob sua responsabilidade entre meados dos anos 70 e o início da década de 90. O terreno, com área de 154 mil m², foi comprado pela Cofap em junho de 1974 e vendido para a Cooperativa Habitacional Nosso Teto em dezembro de 1995. Alonso disse que não possuía contrato formal com a Cofap para gerenciar o depósito. “O único contrato que eu tinha com a Cofap era para cuidar da borra que sobrava no forno da empresa”, disse.

Segundo ele, este trabalho consistia na separação dos blocos de metal que viravam refugo no processo de fabricação, para serem reutilizados nos fornos da fundição. A separação era feita por funcionários que trabalhavam para a sua empresa, a Alonso & Cia., criada no fim dos anos 70. Segundo Alonso, ele teve “meia dúzia” de caminhões que transportavam entulho e resíduos industriais.

Alonso disse que conheceu os empresários Boris Bernardo Kasinski, já falecido, e Abraham Kasinski, donos da Cofap até 1997, e que eles tinham conhecimento das atividades no depósito. Segundo ele, antes Abraham Kasinski chegou a lhe propor a compra do terreno, com um projeto imobiliário, antes de efetuar a venda para a Cooperativa Habitacional. “Eu não comprei porque não tinha dinheiro”, disse.

O Diário entrou em contato com a assessoria de imprensa de Kasinski diariamente desde o último dia 16, mas o empresário não se pronunciou sobre o caso do Residencial Barão de Mauá. Até ontem não havia definição sobre um pronunciamento oficial do empresário ou se ele atenderia as solicitações da reportagem. 

Queima de borracha – Para Alonso, as informações sobre a contaminação e as suspeitas de risco no conjunto residencial são “exageradas”. “Eu não acredito que a área onde estão os prédios esteja contaminada. O barranco próximo do córrego (Itrapuã) sim, este pedaço deve estar.” Segundo o empresário, a maior parte dos resíduos era depositada na parte do terreno que ficava próxima ao córrego. “Eu criava gado, 25 cabeças, e porcos também no terreno”, recordou. Edmilson Alonso, um dos quatro filhos do empresário, mora em um apartamento do Residencial Barão de Mauá e também atua no ramo de compra e revenda de sucata.

Alonso disse que costumava queimar fios de metal encapado que eram depositados no local para vender a parte metálica como sucata e que foi autuado pela Cetesb pela queima de pneus com defeito que foram comprados da Pirelli e empilhados no terreno. Segundo a Cetesb, a Alonso & Cia. foi multada em 20 de abril de 1990 e a Cofap foi advertida três dias depois. Alonso disse que não chegou a pagar a multa porque recorreu da autuação. Depois disso, fechou o lixão.

Ele também afirmou que vendia madeira para olarias da região. “A madeira boa era vendida para pessoas que queriam construir barracos”, afirmou. Todo o comércio era feito na área do lixão. “A utilização do terreno como depósito da Cofap ajudou a evitar que a área fosse invadida e ocupada.”

Segundo Alonso, a área da Cofap era cercada com arame farpado e a entrada de caminhões, controlada. Alonso afirmou que a retirada dos resíduos das unidades do grupo Cofap era feita pela Transportadora Rode, de Santo André. O diretor da Rode, Donato Rossi, afirmou ontem que a empresa só coletava o lixo proveniente de varrição e das sobras da cozinha da fábrica. “Quem cuidava dos resíduos industriais era o Alonso”, afirmou Rossi. Alonso contesta a afirmação.

Há dois anos Alonso mantém o bingo Ás de Ouro em Itapeva, no interior do Estado, onde mora sozinho em um prédio classe média.




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