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Justiça começa a julgar o golpe do Dossiê Cayman
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07/11/2004 | 21:37
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Um dos maiores golpes já aplicados no país começará a ser julgado nesta terça pela 1ª Vara Federal em Brasília. Trata-se da venda e divulgação do chamado Dossiê Cayman, um amontoado de cópias com registros de empresas em paraísos fiscais, grosseiramente falsificados por empresários fugitivos da Justiça brasileira, que viviam em Miami. O dossiê serviu para tentar chantagear o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e seus ministros da Saúde, José Serra, e das Comunicações, Sérgio Motta. O então governador Mário Covas também foi alvo do golpe, que consistia em divulgar como denúncia a notícia falsa de que a cúpula do então governo tucano era dona de uma empresa off shore nas Bahamas com US$ 368 milhões.

Foram dois anos de investigações internacionais da Polícia Federal, feitas pelos delegados Paulo de Tarso e Jorge Pontes. São oito réus, entre eles Leopoldo Collor, irmão do ex-presidente Fernando Collor, que pagou US$ 4,2 milhões pela papelada falsa e nem teria exigido os originais.

Apurou-se que a montagem do falso dossiê começou quando os empresários brasileiros residentes em Miami Ney Lemos dos Santos, João Roberto Barusco, Honor Rodrigues da Silva e sua mulher, Cláudia Rivieri, compraram por US$ 3,2 mil a empresa CH, J & T, aberta em 1994 nas Bahamas pelo advogado norte-americano Robert Allen Junior. Na papelada, eles colaram uma cópia da assinatura oficial do ex-ministro das Comunicações Sérgio Motta como sendo um dos seus diretores, junto com o sócio fictício Ray Terence, e venderam as fotocópias para Leopoldo Collor e Luiz Cláudio Ferraz da Silva, amigo da família Collor.

Livres – Pelo crime, Honor Rodrigues chegou a ficar preso pouco mais de um ano no México, mas saiu da cadeia e está desaparecido. Ney e Barusco chegaram a ser presos por outras razões em uma blitz em São Paulo, mas também estão livres.

Leopoldo Collor e Luiz Cláudio Ferraz são acusados pelos crimes de denunciação caluniosa, uso de documento falso, falsidade ideológica e evasão de divisas. Se condenados, podem pegar até seis anos de cadeia. O caso terminou respingando ainda no então diretor-geral da PF, Vicente Chelotti, e o diretor da Interpol no Brasil, delegado Washington Mello.

Entre as testemunhas estão o prefeito eleito de São Paulo, José Serra (PSDB), que recebeu pelos correios cópias do documento com ameaças de divulgação, e o ex-presidente Fernando Henrique. O ex-senador alagoano Djalma Falcão também será testemunha. Segundo a PF, foi ele o primeiro a receber as informações do ex-presidente Collor de que os líderes tucanos teriam uma conta milionária nas Bahamas. Falcão chegou a discursar no Senado sobre o assunto.

Investigação – Apesar de ter sido indiciado pela PF como comprador do dossiê, o ex-presidente Collor não será julgado. O procurador Luiz Fernando Viana alegou não ter encontrado provas para denunciá-lo. Parte do dossiê foi divulgada e os boatos sobre o suposto dinheiro dos tucanos em paraísos fiscais provocaram turbulências na economia.

De acordo com o inquérito, o golpe teve dois momentos. O primeiro foi em julho de 1998, quando o pastor evangélico Caio Fábio D‘Araújo Filho ofereceu a Collor os documentos, dizendo que ouviu a história em uma confissão de pecados feita por um gângster de Miami. O ex-presidente acreditou no pastor e dias depois mandou seu irmão Leopoldo e o amigo Luiz Cláudio Ferraz comprarem a papelada.

Corretor – Caio Fábio, considerado pela PF o principal corretor do negócio, também ofereceu os documentos ao ex-presidente do Banco do Brasil no governo Collor, Lafaiete Coutinho, que se encarregou de oferecê-lo a Luiz Inácio da Silva, candidato à Presidência em 1998. Por meio do seu então advogado, Márcio Thomaz Bastos, hoje ministro da Justiça, Lula descartou a oferta. Duas filhas de Paulo Maluf também ofereceram o dossiê à então deputada Marta Suplicy.

O dossiê também foi oferecido a Ciro Gomes, a Leonel Brizola e à vice-governadora do Rio na época, Benedita da Silva. Todos recusaram. Caio Fábio também procurou o então secretário da Presidência da República, Eduardo Jorge, com a desculpa de que sabia dos rumores sobre o dossiê. O pastor foi indiciado pela PF como um dos participantes do golpe, mas foi retirado do grupo de criminosos pelo procurador.




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