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Um olhar sobre a cidade
Renata Gonçalez
Do Diário do Grande ABC
30/08/2003 | 18:44
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Belas, funcionais e bem planejadas. Ou ainda feias, destoantes e visivelmente improvisadas. Quais obras públicas do Grande ABC se encaixariam nestas duas definições? A pedido do Diário, arquitetos, urbanistas e artistas plásticos responderam a pergunta.

O arquiteto Jorge Bomfim, ele próprio autor de alguns dos mais belos projetos da região, entre os quais o prédio da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), no Centro de Santo André, aponta o Paço Municipal da cidade, criado nos anos 60 por Rino Levi, como o melhor exemplo de urbanismo. Bomfim qualifica o local como uma obra “significativa” – marca a paisagem – e lembra que foi premiada na ocasião de seu lançamento. “E, acima de tudo, o projeto se mantém superatual”.

Avaliar o conjunto arquitetônico não se restringe apenas a dizer se é bonito ou feio. “Uma obra pública tem de ser bem resolvida urbanisticamente, e estar de acordo com o espaço onde será inserida”. Bomfim acrescenta que o complexo projetado por Levi, formado pelo edifício da Prefeitura, o Teatro Municipal e o Fórum (este de autoria de Bomfim), cumpre este papel.

O “fantástico” Paço andreense é também o ponto alto da região para a arquiteta e urbanista Silvia Helena Passarelli, que chama a atenção para a qualidade dos ambientes internos dos edifícios. “A construção do prédio da Prefeitura foi tão bem planejada que as salas ficam protegidas do calor quando é verão, e do frio quando é inverno.” O teatro também é elogiado: “O desenho interno é um exemplo a ser copiado”.

Reconhecendo a importância viária do viaduto 18 do Forte, a arquiteta considera ele a obra que mais fere a estética de Santo André. “O viaduto é de extrema utilidade, mas a forma como foi construído degradou o conjunto de casas antigas da (avenida) Queirós dos Santos.” Bomfim também reclama do estrago na paisagem causado pelo viaduto. “Outra obra que piora o visual é a passarela de pedestres (que dá acesso à estação de trem).”

Elogiado por sua qualidade arquitetônica, o Paço de São Bernardo, projetado por Bomfim, é prejudicado pelo sistema viário mal organizado e mal sinalizado, aponta Silvia.

O teatro Paulo Machado de Carvalho é o exemplo de obra pública de qualidade, na opinião da arquiteta Simone Tasca, de São Caetano. “Gosto da estrutura do prédio, apesar de precisar de restauro. Estava alinhado com a época e inovou com o uso de muito concreto.” Por outro lado, Simone afirma que o conceito padronizado de obras que está sendo imposto, aos poucos, à cidade, é um “verdadeiro show de horrores”. Ela aponta a Biblioteca Municipal, na avenida Goiás, como exemplo de local com esta roupagem. “O resultado é excessivamente decorativo, sempre com muitos arcos, cores fortes, texturas.”

Em Diadema, o mesmo espaço arquitetônico ganhou comentários positivos e negativos. Trata-se do trevo do Km 16 da rodovia dos Imigrantes, que dá acesso à cidade pela avenida Fábio Eduardo Ramos Esquivel. O artista plástico e escultor argentino Ricardo Amadasi, que há 30 anos mora no Brasil, elogia o conjunto formado pelos jardins e o traçado cuidadoso do anel viário. “É artístico e parece oxigenar o município”. Para o arquiteto e urbanista Carlos Henrique Andrade de Oliveira, a construção do piscinão causou desarmonia ao local. “Era o lugar mais bonito de Diadema, mas a obra de qualquer piscinão é impactante demais.”

O único espaço público de Mauá mencionado pelos entrevistados foi o Teatro Municipal, que na opinião de Oliveira, possui formas “felizes” e está bem posicionado em relação à Prefeitura Municipal. “Aquela região não tinha vida, era acinzentada. O teatro trouxe cores vivas sem ser destoante, e continua discreto.”




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