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Sincretismo em concerto
Por Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
27/11/2010 | 07:03
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Não estranhe se a percussão, em determinado momento do concerto que a Ossa (Orquestra Sinfônica de Santo André) apresenta hoje e amanhã, tomar conta da apresentação. Nem se o movimento dos 24 bailarinos do Centro Livre de Dança de Santo André, que participam de todo o repertório, esteja menos clássico que o habitual.
É que o programa da vez traz o sincretismo para o palco do Municipal, com as execuções da suíte de "Sinfonia dos Orixás", do brasileiro José Antônio de Almeida Prado e "A Sagração da Primavera", do russo Igor Stravinsky. As entradas para o espetáculo serão trocadas por um quilo de alimento não perecível para a campanha Natal Solidário.
A execução da obra de Almeida Prado é marcada pela singularidade. O compositor, sogro do maestro Carlos Moreno, morreu no domingo. Os dois vinham trabalhando nos últimos tempos na criação da suíte. O original, com 58 minutos de duração e já apresentada em diversos lugares do mundo, agora estreia mundialmente em versão de pouco mais de meia hora.
"Ela foi composta objetivando uma grande coreografia em pontes de gestos que numa versão de concerto poderíamos eliminar", conta o maestro sobre a decisão de cortá-la, acrescentando que, em suma, nada foi deixado de lado: "O mote da obra está reproduzido. Elaboramos uma sinfonia clássica de quatro movimentos para ela."
O casamento entre os repertórios, um clássico russo de inspiração pagã e outro nacional calcado na cultura afro-brasileira, por mais que não se pareçam, têm muito em comum. "Há um ritmo característico nas duas músicas, compostas de pequenas partes melódicas de inspiração na natureza", explica Moreno.
As coreografias também são aspectos especiais e particulares das composições. Na "Sagração" - criada a partir da visão de um ritual sacro pagão, de velhos sábios observando a dança da morte de uma virgem em sacrifício ao deus da primavera- o balé teve coreografia de Nijinsky e levantou polêmica por fugir da estética tradicional da dança clássica, baseando-se em movimentos mais primitivos e crus. Na "Sinfonia dos Orixás", como o próprio nome já indica, os movimentos corporais são pautados pela cultura africana.
Orquestra Sinfônica de Santo André - Concerto. No Teatro Municipal - Praça 4º Centenário. Tel.: 4433-0789. Hoje e amanhã, às 20h. Ingr.: 1 quilo de alimento não perecível.

Homenageado é referência

José Antônio de Almeida Prado foi um dos maiores compositores eruditos brasileiros. Suas composições são executadas ao redor do mundo.
"Hoje, ele é até mais executado que o Villa-Lobos", conta o maestro Carlos Moreno, genro de Almeida Prado.
Nascido em Santos, o músico despontou ao ganhar o 1º Festival de Música de Guanabara, em 1969, com a cantata "Pequenos Funerais Cantantes", baseada em texto de Hilda Hilst. Em seguida, foi estudar em Paris. Na volta, em 1974, tornou-se professor do Conservatório de Música de Cubatão e em seguida foi lecionar no Instituto de Artes da Unicamp.
Entre as mais de 400 composições que criou, variedades de formas musicais se destacam, entre sinfonias, missas, sonatas etc. Sua preferência era piano e percussão.
"Sinfonia dos Orixás", composta para homenagear os dez anos da Orquestra Sinfônica de Campinas, estreou em outubro de 1987 no Grande Theâtre de Genebra, na Suíça.
"Reconhecimento póstumo não demorará a acontecer no caso do Zé Antônio. Desde essa homenagem que faremos a ele com a Orquestra até sua obra ser tema de tese na Sorbonne, sua valorização já é grande", completa o maestro.




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