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Sexting: você ainda está caindo nessa?

Após a morte de duas garotas, assunto ganha repercussão e passa a ser discutido no Congresso.

Por Bruna Gonçalves
Do Diário do Grande ABC
01/12/2013 | 07:00
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O suicídio de duas meninas de 17 anos – uma no Rio Grande do Sul e outra no Piauí – após terem imagens e vídeos íntimos compartilhados sem autorização, trouxe novamente a discussão sobre a prática do sexting, forma de expressar a sexualidade por meio de mensagens de celular e internet. Há três anos, o D+ falou sobre o fenômeno que surgiu nos Estados Unidos e que já é comum por aqui.

O assunto gerou tanta repercussão que foi parar no Congresso Nacional. Pelo menos quatro projetos de lei já foram apresentados na tentativa de punir os responsáveis pela prática. Entre eles, está o acréscimo de artigo no Código Penal, que considera crime a divulgação de conteúdo com nudez ou sexo sem autorização. O advogado Alexandre Atheniense, especialista em Direito Digital, defende que a Lei Maria da Penha possa ser aplicada nesse caso. “Foi criada para proteger a integridade física e psicológica da mulher.”

Se antes a ameaça era de hackers, os casos recentes mostram que agora o risco vem do ex-parceiro, disposto a se vingar pelo fim do relacionamento. A atitude é conhecida por pornografia de revanche. “É o retrato do machismo. O homem se sente no direto de humilhar a ex-parceira. Isso é crime de uso indevido da imagem”, explica o psicólogo Rodrigo Nejm, diretor da ONG Safernet Brasil.

Levantamento feito pela ONG neste ano com 2.834 pessoas, entre 9 e 23 anos, mostra que 20% já receberam textos ou imagens sensuais e eróticas e 6% as enviaram. “Na adolescência, isso é mais intenso. É fase de formação da identidade e os jovens precisam ser reconhecidos e fazer parte de um grupo. Podem ter noção do perigo, mas agem sem pensar pela falsa sensação de privacidade e confiança no relacionamento ou amizade”, explica Nejm.

 

Necessidade de se expor faz parte da adolescência - Qual é a intenção de se fotografar ou fazer vídeo sensual? Por que a necessidade de compartilhar? A tecnologia mudou a forma de se expor e de criar provas de amor e amizade. O que era para ficar só no Whatsapp ou Snapchat, por exemplo, pode se multiplicar em apenas uma compartilhada.

O D+ conversou com alunos do 2º ano do Ensino Médio do Colégio Ábaco, em São Bernardo, para saber o que pensam a respeito. Bianca Garcia, 16 anos, acredita que os jovens, em especial, têm a necessidade de mostrar tudo o que fazem na internet. “Começa como brincadeira, mas não têm ideia das consequências.”

No bate-papo, todos afirmaram já ter recebido foto e vídeo sensuais. Na opinião de Marina Fonseca, 16, as pessoas que fazem isso são inseguras. “Mexe com o ego saber o que os outros pensam da sua vida. Só depois percebem o erro e o perigo que correm.”

Para Alexandre Sanches, 16, a intimidade do casal deve ficar entre quatro paredes. “Não vejo necessidade em registrar o momento. Além disso, pode ser usado para sacanear o outro a qualquer momento.” Já Vitor Lopes, 16, não vê problemas. “A pessoa tem o direito, desde que preserve o conteúdo.”

Segundo Jorge Timoteo, 16, o problema está na confiança excessiva. “Precisa de um tempo para isso. Mas tem pessoa que pensa que nunca vai acontecer com ela.” Para Luiza Lopes, 16, todo mundo gosta dos seus 15 minutos de fama. “Esses casos (de sexting) logo darão espaço para outras polêmicas.”

 

Compartilhar sem autorização rende processo - A recomendação do advogado Alexandre Atheniense é que a vítima faça boletim de ocorrência e procure um advogado. “Quanto mais rápido, maior a chance de encontrar o autor. Em geral, leva-se dois meses para identificá-lo.” Na investigação é solicitada a ajuda do perito digital. “Já existem dispositivos que são conectados no celular e reconhecem redes sociais e softwares. O jovem deixa vestígio”, afirma Marcelo Caiado, professor do curso de pós-graduação de Perícia Digital da Universidade Católica de Brasília. Se comprovado o crime, a vítima pode abrir processo por difamação ou injúria. “Se o réu for primário não será preso. Deverá pagar multa ou fazer trabalho voluntário.”

 

Meninas são mais expostas e família ajuda a superar - A divulgação de cenas íntimas sem autorização tem causado sérias consequências para as vítimas. Muitas são forçadas a mudar de hábitos, de escola e até de cidade. Em situações mais extremas, cometem suicídio.

“Uma atitude mais drástica não ocorre só por causa do compartilhamento, mas por um histórico psicológico, como baixa autoestima ou por não saber lidar com situações como essa”, explica Luciana Ruffo, psicóloga do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática da PUC-SP.

Na maioria dos casos, as meninas sofrem mais. “Existe uma cultura muito forte da sociedade em julgá-las como sem-vergonhas. Os direitos devem ser iguais. Se quer fazer (o sexting), tenha total controle do material”, afirma Luciana.

Se for compartilhado, a recomendação é lidar com a situação da melhor forma, por mais difícil que seja. O apoio da família é essencial. “O acolhimento é fundamental para a superação. A jovem não deve se culpar ou sentir vergonha, às vezes, é necessária ajuda profissional”, diz Pedro de Santi, psicanalista e professor de Psicologia da ESPM.

Independentemente da situação, o especialista ressalta que é inevitável que o comportamento mude. “A pessoa pode amadurecer ao descobrir que não deve confiar em todos, como também pode se fechar para futuras relações afetivas e sexuais.”

 

Dicas para não se dar mal
> Pense muito bem. Vale mesmo a pena fazer vídeo ou tirar foto sem roupa ou durante a relação sexual?
> Jamais se deixe levar por pressões, ameaças ou pedidos de ‘provas de amor’ para publicar conteúdo sensual.
> Quem quiser registrar o momento, evite revelar o rosto, o nome, a voz e mostrar algo que o identifique, como uniforme ou tatuagem.
> Não esqueça: tudo o que se faz on-line tem consequências também fora da internet.
> Mesmo sendo para namorado(a) ou amigo em quem confia muito, uma vez compartilhada nas mídias sociais – por e-mail ou aplicativos – perdemos completamente o controle. Além disso, durante briga ou término da relação não dá para saber qual será o uso do material futuramente.
> Se o conteúdo estiver no smartphone, a recomendação é colocar senha no aparelho. Dessa forma, em caso de roubo, não será possível ter acesso ao conteúdo.
> Se for levar o celular para arrumar, retire todo o conteúdo pessoal.
>Caso receba vídeo ou imagem de algum amigo ou conhecido, não guarde. Avise imediatamente a vítima para que possa tomar as providências o mais rápido possível.




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