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Oportunidade nas eleições

Fora do mercado de trabalho, desempregados da região veem no pleito chance para garantir renda

Junior Carvalho
30/09/2018 | 07:00
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Claudinei Plaza/DGABC


 O desemprego não só aparece nos debates desta eleição, como ultrapassa a discussão de propostas na corrida eleitoral deste ano. Fora do mercado de trabalho e com dificuldades de encontrar emprego fixo, desempregados do Grande ABC veem no pleito forma de garantir renda e alternativa temporária à falta de oportunidades. Independentemente da formação e do ofício de origem de cada um, a falta de vagas tem levado esses profissionais a trabalhar nas ruas das sete cidades como cabos eleitorais.

Morador do Jardim Cristiane, em Santo André, o ajudante de pedreiro Denilton Rodrigues da Silva, 46 anos, teve de trocar o canteiro de obras pela bandeira de um candidato a deputado estadual da cidade. Sem carteira assinada há sete anos, ele faz parte do universo de 18,2% da população economicamente ativa da região que estão desempregados, de acordo com a PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego), do Seade/Dieese, divulgada em agosto, e dos 12,7 milhões que estão nessa situação no País, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatística).

“Já trabalhei muito nesses prédios industriais aí”, diz Silva, apontando para um conjunto de edifícios recém-construídos no Centro de Santo André. “Não sei se é a escolaridade (que dificulta o acesso ao emprego), eu parei (de estudar). Sei lá. Também não é só a escolaridade, você vai nas empresas de construção civil e os caras falam: ‘Já está completo’. Aí o cara sai daquele serviço e já vai para outro. Aí fica nisso aí. É muito difícil você arrumar (uma oportunidade). A gente dá graças a Deus quando consegue (alguma fonte de renda) porque está difícil”, conta Silva, que não concluiu o Ensino Fundamental.

Ele concordou em ganhar R$ 500 para ir para as ruas de Santo André todos os dias, durante seis horas, por 18 dias. Silva conta, porém, que só vai ver esse dinheiro depois desse período. O único retorno que ele tem diariamente é um pacote de bolinho recheado e uma água que recebe como refeição. “É o único jeito de arrumar essa grana”, lamenta.

A ajudante geral Daniela Pereira Cruz, 21, sabe que o ‘mar não está para peixe’, mas não se contenta só com o bico na eleição. Enquanto em uma mão balança a bandeira que prega ‘sim para o Brasil do bem’, com a outra leva uma bolsa na qual guarda cópias do seu currículo. “Não tem tu, vai tu mesmo. Difícil arrumar serviço. Tem que aceitar esses biquinhos. Continuo (procurando emprego), olha minha pasta aqui na bolsa. Estou entregando (currículo) todo dia”. Além de balançar bandeira nos semáforos de Santo André, Daniela concordou em receber R$ 650 para ajudar em outras atividades de campanha, durante um mês. “Para quem está parada, melhor pingar do que secar”, resume ela, que no dia em que conversou com a equipe de reportagem do Diário teve de comprar uma garrafa de água com dinheiro do próprio bolso. “Eles costumam dar”, garante.

Em São Bernardo, a operadora de telemarketing Bárbara Wiezzer, 21, está desempregada há cerca de um ano e meio e foi pessoalmente procurar um comitê partidário para encontrar chance de um ganha pão, mesmo que os R$ 750 que aceitou ganhar pelo mês trabalhado como cabo eleitoral sejam inferiores a um salário mínimo (R$ 954). “Tenho uma filha de 9 meses para criar. Quando vou procurar emprego falam que os nove meses que trabalhei como jovem aprendiz não contam como experiência. Fica difícil porque, se eles não me dão oportunidade, como que eu vou ganhar experiência?”, questiona. “Encaro uns biquinhos, como esse aqui. Às vezes, faço uma unha.”

Do outro lado da Rua Marechal Deodoro, coração comercial de São Bernardo, o promotor de vendas Jonas R., 29, também teve de recorrer à eleição depois de cinco anos sem conseguir emprego fixo. “Tenho minha família, minha mãe, preciso ajudar. Minha renda é importante dentro de casa. (O valor) Não compensa. Estou aqui trabalhando assim, mas bom é ser registrado”, diz. Do lado dele, uma companheira de trabalho cita para uma amiga que torce para que as coisas melhorem. “Espero que ganhe alguém (para presidente) que ajude a gente.”

A legislação eleitoral não fixa salários, carga horária ou benefícios para quem trabalha na eleição. As normas, segundo o TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral), se limitam a fixar apenas a quantidade de pessoas que cada partido ou candidato pode contratar no pleito, dependendo do cargo disputado, da cidade e do Estado aos quais pertencem.




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