Política Titulo 60 anos em 60 entrevistas
‘A construção civil tem muito a expandir’
Tauana Marin
30/04/2018 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


 A construção civil no Grande ABC sempre teve força e precisou se reinventar. Com a expansão do prazo de financiamento, o boom imobiliário entre 2007 e 2008, principalmente, e o processo de verticalização das cidades, o emprego no setor cresceu.No entanto, nos último anos, o segmento amarga as consequências da crise econômica. Diretora regional do SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo) Rosana Carnevalli, porta-voz do segmento, é otimista e acredita que, principalmente após a decisão nas urnas, em outubro, o setor voltará a crescer se contar com incentivo do governo. “A região tem muito o que crescer na construção.”

Rosana Carnevalli e o Diário
A história da empresária Rosana Carnevalli com o Diário não é de hoje. “Minha família era assinante do jornal quando era ainda adolescente. Logicamente, o que me interessava naquela época eram os cadernos de Entretenimento e de Esportes. Mas, quando comecei a trabalhar como arquiteta na Construtora Carnevalli, em São Caetano há 33 anos, o jornal era leitura obrigatória para que eu pudesse estar bem informada sobre o setor na região.” Hoje, os cadernos de Economia, Política e Setecidades são leituras de maior interesse. “O Diário continua fazendo parte até hoje da minha vida.

Como diretora regional do SindusCon-SP, a senhora sempre é procurada pelo Diário para entrevistas sobre o emprego no setor da construção civil. De que forma tem ocorrido seu contato com o jornal ao longo do tempo?
No fim dos anos 1990 e início dos anos 2000 participei ativamente no SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo), do qual me tornei diretora regional do Grande ABC. Estive em várias reportagens para divulgar o crescimento no setor e o número de empregos gerados nos sete municípios conforme os estudos elaborados pelo sindicato. Entre os meus achados localizei uma entrevista que dei exatamente dez anos atrás para falar sobre as tendências de mercado para a região. Esta reportagem é de 24 de abril de 2008.

O número de empregos na construção civil tem reduzido bastante nos últimos anos, principalmente por causa da crise econômica que tomou conta do Brasil desde 2014. Atualmente, quantas pessoas a construção civil emprega na região?
De acordo com a última divulgação em dezembro, feita pelo SindusCon em parceria com a FGV (Fundação Getulio Vargas), os empregos diretos com carteira assinada apontava o número de 39.558 postos de trabalho entre os sete municípios. A construção civil, além dos empregos diretos, gera muitos indiretos, pois a cadeia produtiva da construção civil é composta por vários insumos. Esse número certamente era maior, pois tivemos uma redução significativa devido à crise econômica que assolou nosso País. O Brasil perdeu nos últimos três anos 1,3 milhão de empregos diretos e outros tantos indiretos.

Como a senhora avalia a situação do setor no Grande ABC hoje em dia? É possível melhora na quantidade de trabalhadores contratados?
O ano de 2018 se iniciou com a esperança de aprovação da reforma da Previdência. Entretanto, sem a reforma e devido a toda esta instabilidade política, não foi possível sentir ainda a geração de empregos em larga escala. As reformas são fundamentais para o reequilíbrio das finanças públicas e para que o País possa ter crescimento econômico mais robusto.

Muitos setores precisaram se reinventar por conta da estagnação financeira. No caso da construção civil, houve modificações significativas?
Acredito que no momento em que o País começar a crescer, o setor da construção também receberá novos investimentos, pois nossa região precisa de moradias. Ainda temos deficit habitacional grande. Necessitamos de investimentos em infraestrutura. A malha viária do Grande ABC deve ser revitalizada. E tudo passa pela construção civil.

Quais os produtos (imóveis) mais requisitados no setor imobiliário? Há um perfil específico dessas moradias mais procuradas?
Cada cidade e cada bairro têm sua vocação. Existem muitas pessoas morando em autoconstrução e em condições péssimas. Ainda é registrado deficit habitacional gigantesco e vários problemas de infraestrutura. Haverá sempre demanda por unidades com áreas mais compactas. Projetos como o Minha Casa, Minha Vida, do governo federal, vão continuar ganhando cada vez mais força no mercado imobiliário. Exemplo disso é que as moradias mais procuradas são aquelas na faixa de R$ 230 mil, que fazem parte do Minha Casa. São imóveis com dois dormitórios e 50 metros quadrados, em média. O preço do metro quadrado gira em torno de R$ 4.500. Com esse perfil, essas unidades estão localizadas em maior quantidade em Mauá, São Bernardo e Santo André, já que são cidades que disponibilizam o preço do metro quadrado mais barato. No padrão médio, até R$ 450 mil, com 70 metros quadrados, são bastante procurados, com maior oferta em bairros de classe média de Santo André, São Bernardo e São Caetano. Imóveis mais caros, como os do bairro Cerâmica, em São Caetano, são comercializados para classes A e B. Em geral custam entre R$ 900 mil a R$ 1,5 milhão, possuem três dormitórios e área de 120 metros quadrados.

As novas leis para financiamento, com maior valor de entrada, impedem que as pessoas comprem a casa própria. Como tem sido essa dificuldade para ambos os lados?
A aquisição da casa própria ainda depende muito dos recursos obtidos por meio de financiamento bancário. As regras de financiamento, como o programa Minha Casa, Minha Vida, antes permitia financiar 90% do valor do imóvel, então era muito mais fácil conseguir. Depois reduziu para 80%. As melhores taxas ainda são as praticadas pela Caixa Econômica Federal, que ficam entre 6% e 6,5%, ao ano. Outros bancos praticam juros de 9,5% ao ano, para unidades acima de R$ 300 mil. Mesmo com essas taxas, o cenário melhorou bastante. Os juros para imóveis usados, por exemplo, baixaram. Além disso, antes o financiamento era de 50% do total e hoje subiu para 70% do valor da unidade, o que deve aquecer o mercado. Já é possível, inclusive, notar melhora na busca e compra por imóveis. Essas notícias sempre ajudam o mercado a melhorar, ficar mais agitado, trazendo confiança e segurança.

É possível haver expansão da construção civil na região? Quais os principais obstáculos para que isso ocorra?
A construção civil deve crescer muito no Grande ABC, existem ainda moradias precárias e pessoas que não têm onde morar. Nossa região apresentou crescimento desordenado, mas, por meio de investimentos em infraestrutura e planejamento urbano intermunicipal, é possível obter expansão imobiliária planejada. Algumas propostas passíveis de serem transformadas em medidas estruturantes, com apoio dos políticos da nossa região, seriam bem-vindas. Entre elas estão impulsionar concessão e parcerias na ampliação da infraestrutura e criar financiamentos para estruturação de propostas de PPPs (Parceria Pública-Privadas); implementar nos municípios o procedimento de aprovação rápida para agilizar projetos de edificações. Melhorar o ambiente de negócios, desburocratizar os procedimentos internos nos órgãos públicos e simplificar os sistemáticos de cálculo e recolhimentos tributários ajudariam muito, tanto os empresários (construtoras) como aqueles que desejam comprar a casa própria. Acredito que neste ano nossa economia volte a crescer e a Construção Civil gere mais empregos. Em breve estaremos de volta ao círculo virtuoso de produtividade na nossa região.

Quais são os municípios com maior capacidade para crescer em termos de novas construções?
Os municípios com maior capacidade, sem dúvidas, são aqueles que possuem maior extensão territorial, como Mauá, Santo André e São Bernardo. Ou seja, não é o que acontece em São Caetano, que é a menor cidade em extensão (na região), onde só é possível se expandir por meio da verticalização. Já Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra possuem muitas áreas mananciais e, portanto, não têm muito potencial para crescer nesse aspecto.

Por conta de seu nível geográfico, São Caetano enfrenta caso especial ao lidar com o crescimento no setor imobiliário?
São Caetano, em específico, além de ser menor município, tem escassez de área. Outra coisa que dificultou bastante é que, em 2010, foi realizada mudança na lei de zoneamento, que diminui em 50% o coeficiente de aproveitamento dos terrenos. Então, ficou mais difícil viabilizar empreendimentos em alguns bairros como Santa Paula, Santo Antônio e Barcelona. Nos outros municípios, a lei de zoneamento permite às construtoras uma verticalização maior, viabilizando os projetos.

Os prédios sem condomínios têm sido construídos em maior escala. Por que tem ocorrido essa tendência?
As construtoras maiores, aquelas que possuem capital aberto, conseguem comprar os terrenos maiores, planejando condomínios fechados, com maior quantidade de apartamentos, com infraestrutura como piscina e quadra. Toda a estrutura e área de lazer requerem arrecadação maior no condomínio para manutenção, custo esse rateado entre as unidades, por todos os condôminos. Já as construtoras menores têm dificuldade em comprar terrenos grandes, por isso, surgiram muitos prédios sem condomínio em bairros de Santo André, como o Campestre, por exemplo. A procura por essas unidades é grande, já que a taxa condominial é menor. As pessoas, atualmente, estão fugindo de gastos altos. O lado negativo é que não possuem nenhum atrativo, como portaria e área de lazer.

O boom imobiliário presente na região, principalmente entre os anos de 2007 e 2008, favoreceu todo o segmento. Acredita que outro possa ocorrer?
Estamos num momento em que o valor dos imóveis baixou bastante, por conta da crise econômica que ‘pegou’ todo mundo. Por essa razão, é momento de comprar. Acredito que novo boom imobiliário vai demorar para acontecer, mas essa notícia divulgada recentemente da baixa dos juros está animando o mercado. O setor vai se recuperando aos poucos, devido às perdas que tivermos nas vendas e, consequentemente, no quadro de empregados. Além do que, comprar um imóvel é sempre difícil, é investimento alto, muitas vezes para toda a vida. Por isso, a instabilidade econômica é importante. O comprador precisa ter a segurança do emprego, de que a economia vai bem. Estamos melhorando de forma gradativa. Acredito que isso também depende do rumo das eleições, em outubro. Outra coisa importante é manter as regras de financiamento, que, ao meu ver, não foram muito alteradas.

Que futuro espera para o setor no Grande ABC?
Temos ainda futuro incerto, não sabemos como os brasileiros se comportarão nas urnas e se teremos novos governantes dispostos a desenvolver agenda positiva e específica para incrementar o ritmo de expansão de obras imobiliárias, de Habitação popular e obras de infraestrutura.

O Diário dialoga diretamente com seus leitores nas sete cidades. Em sua opinião, qual a importância do jornalismo regional?
O jornalismo regional é fundamental, pois é direcionado às pessoas que moram, trabalham e estudam no Grande ABC. São elas que sentem diretamente os efeitos gerados pela política e os impactos gerados pela economia regional. O Diário nos traz as notícias das sete cidades e, por isso, é sem dúvida o melhor jornal da nossa região. Faz parte da história dos municípios.




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