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O que mudou depois daquele vilão?
Por Gabriela Germano
Da TV Press
28/04/2008 | 07:01
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Maldades na ficção podem causar efeitos bem reais na vida dos atores. Ao encarnarem os vilões mais polêmicos da TV, há profissionais que passam a ser hostilizados nas ruas. Mas há outros que são amados. Tem até quem perca outras oportunidades de trabalho enquanto comete vilanias em um folhetim.

Seja negativa ou positivamente, o que acontece é uma transformação. “É incrível como a reação das pessoas mudou comigo. Antes me chamavam de linda e me abraçavam. Agora não falam comigo e às vezes nem olham para a minha cara”, conta Alinne Moraes, a psicopata Silvia, de Duas Caras.

Antes desse trabalho, ela só tinha interpretado mocinhas. A atriz acredita que o público não confunde ator e personagem. Mas inevitavelmente o clima entre telespectador e ator muda enquanto ele dá vida a um mau-caráter.

Regiane Alves é mais radical em relação ao assunto. A atriz já tinha feito algumas novelas na TV, mas estourou mesmo como Dóris, em Mulheres Apaixonadas, de 2003. Na trama, sua personagem batia nos avós, além de cometer outras atrocidades.

A atriz, que na época enfrentou manifestações desagradáveis nas ruas, já disse várias vezes que até hoje muita gente acha que ela é a própria Dóris. E se esforça para reverter esse quadro com a correta mocinha Joana, de Beleza Pura. “Só agora começo a saber o que é ser abraçada nas ruas”, confirma Regiane. E ela vai mais longe ao contar que campanhas publicitárias e capas de revista eram praticamente inexistentes na época em que fazia a novela de Manoel Carlos. “Agora, como a mocinha da novela das sete e com a reprise de Cabocla, tenho muitos convites para esse tipo de trabalho”, compara a atriz.

Na mesma Mulheres Apaixonadas, outro ator que enfrentou problemas foi Dan Stulbach, que na história espancava a mulher Raquel, de Helena Ranaldi. Dan conta que as pessoas atravessavam a rua quando cruzavam com ele, deixavam de atendê-lo nos lugares e até se recusavam a sentar ao seu lado em viagens. “Porque foi meu primeiro personagem de peso na TV, as pessoas não tinham outra imagem de mim”, teoriza o ator, que até hoje é lembrado pelo personagem.

E é uma teoria que tem fundamento se forem levadas em conta as experiências de atores com mais tempo de televisão. Em Páginas da Vida, Lilia Cabral se destacou como a fria e preconceituosa Marta. A atriz acredita que, por já ter interpretado outros personagens consistentes como a Amorzinho, de Tieta e Sheila, de História de Amor, não enfrentou situações negativas. Mas Lilia não nega que a popularidade que alcançou com a Marta foi algo novo. “Foi o papel da minha vida até aqui. Não imaginava que fosse surpreender tanto o público”, afirma. Lilia ainda ousa fazer uma comparação e cita a vilã que é a grande referência. “Na época da Odete Roitman ainda existia isso de ficarem com ódio das vilãs. Hoje não. A Beatriz Segall carrega esse estigma”, opina a atriz.

E Beatriz carrega mesmo essa marca. Tanto é que a atriz não gosta de falar sobre a figura que representou em Vale Tudo, de 1988. Quando questionada sobre Odete Roitman, ela é direta. “O público e os profissionais da TV acham que tenho de fazer sempre a rica e má", protesta a veterana.

Golpes de sedução

Muitos atores se surpreendem com o fascínio que os vilões das novelas exercem sobre as pessoas. Quando eles são ricos e poderosos, então, não é difícil um mau-caráter passar a ser um adorável sedutor. Foi assim com Olavo, personagem de Wagner Moura em Paraíso Tropical. “Eu fazia um cara metido, mas que tinha a fraqueza de ser apaixonado por uma piranha. As pessoas adoraram isso”, explica Wagner.

O intérprete de Marconi Ferraço em Duas Caras, Dalton Vigh, é outro que não nega que o charme de seu personagem encanta as mulheres. E ele lembra também do Clóvis, de O Profeta, que vivia esbofeteando a mulher. “São figuras poderosas, bem-sucedidas na vida, que andam engomadinhas. Isso seduz”, resume Dalton, que já chegou até a ouvir mulheres pedindo para que ele as prendesse no sótão, na época da novela das seis.

Mas não é preciso necessariamente ser um vilão rico para conquistar a admiração das pessoas. Em tempos de traficantes vistos como verdadeiros ídolos em morros e favelas, Heitor Martinez nunca chamou tanta atenção com um personagem como quando viveu o bandido Jackson, de Vidas Opostas, da Record. “O cara era um assassino, mas as pessoas tinham simpatia. Era assustador passar na saída de um colégio e ver um monte de crianças me cercando”, recorda Heitor, que atualmente vive Petrônio, um vilão bem mais ameno em Amor e Intrigas, também da Record.




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