Cíntia Bortotto Titulo
Mercado de trabalho para deficientes

Muitas empresas não estão conseguindo cumprir as cotas estabelecidas por lei e esse assunto tem gerado muitas dúvidas

Cíntia Bortotto
22/08/2011 | 00:00
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Tenho recebido algumas solicitações por e-mail referentes à contratação de pessoas com deficiência. Muitas empresas não estão conseguindo cumprir as cotas estabelecidas por lei e esse assunto tem gerado muitas dúvidas. Depois que foi sancionada a lei 8.213 de 1991, as empresas começaram a se preocupar em contratar pessoas com deficiência e, conforme a fiscalização foi acontecendo e os termos de ajustamento de conduta foram sendo assinados pelas empresas, a busca por profissionais portadores de deficiência aumentou. Nesse contexto, quem saiu na frente conseguiu os melhores candidatos, bem qualificados para as mais diferentes funções.

À medida em que todos passaram a buscar essa mão de obra para cumprir a legislação, foi ficando mais difícil encontrar profissionais já prontos no mercado. Iniciou-se então um segundo movimento das companhias, que foi o de preparar jovens com deficiência para o trabalho, seja treinando e depois contratando, ou contratando e treinando durante a experiência.

O terceiro movimento das empresas foi com relação à retenção desses profissionais, pois, como essa mão de obra passou a ser valorizada para que as cotas se cumprissem, o mercado começou a remunerar melhor esse profissional. Teve início um alto índice de turnover desses profissionais. As empresas precisaram se mobilizar para que os profissionais com deficiência quisessem permanecer na organização. A preocupação com a carreira deles passou a ser um tema discutido frequentemente pelas companhias.

DIFICULDADES - Mas, afinal, por que as empresas não estão conseguindo cumprir com as cotas para as pessoas com deficiência? Elas têm dificuldade em cumprir as cotas por alguns motivos, entre eles:

- Não buscar o parceiro certo para estabelecer um plano de atração, desenvolvimento e retenção desse público;

- Não ter profissionais dedicados, que conheçam a legislação e as instituições que podem servir de fonte de recrutamento dos portadores de deficiência (esses profissionais têm várias competências, entre elas, falam libras e lêem braile);

- Não dedicar um orçamento para as adaptações em maquinário e escritórios que possibilitem a evolução em termos de carreira das pessoas com deficiência;

- Ainda não conseguirem acessar os portadores de deficiência que estudam em escolas normais e não estão inseridos em programa de organizações não governamentais, ou instituições dedicadas aos portadores de deficiência.

Vemos que a dificuldade envolve encontrar a pessoa, ter a vaga (muitas multinacionais têm dificuldade para entender a nossa legislação), ter o maquinário adaptado, e vencer o preconceito de alguns gestores. No geral, o nível de qualificação dessas pessoas ainda é baixo. Encontramos poucas pessoas com deficiência com escolaridade de nível superior. Parte disso ainda é uma herança da discriminação e da dificuldade em fornecer educação em um país tão despreparado em termos de adaptabilidade, mas é algo que temos de lidar e principalmente que temos que mudar.

NA HORA DE ENCONTRAR UM PROFISSIONAL - Não há um cadastro que o governo disponibilize, para que as empresas possam ter acesso às pessoas com deficiência. Tudo que existe é feito por meio da iniciativa privada. Como relações humanas, contratei algumas empresas para me ajudarem no processo de busca desses profissionais, muitas delas ainda mais perdidas do que nós como empresa. Falta, de fato, informação sobre onde buscar a mão de obra. A sensação de quem contrata é que o número de portadores de deficiência que tem condições de trabalhar, sem colocar em risco sua vida e dos demais, não é suficiente para que todas as empresas cumpram as cotas.

Programas de indicação tendem a funcionar. Instituições sérias que reabilitam as pessoas com deficiência também podem ajudar. Mas o próprio portador de deficiência tem a chave para que a empresa perca menos tempo na contratação.

Cumprindo a legislação, as empresas escapam das multas e também desempenham seu papel social. Afinal, quem tem um portador de deficiência na família ou por perto percebe com muito mais clareza as dificuldades que ainda enfrentamos enquanto sociedade para lidar com o assunto. Procure andar com uma cadeira de rodas nas calçadas de seu bairro, por exemplo. Inserir esse grupo de pessoas no mercado de trabalho é sim responsabilidade das empresas, mas se houvesse mais ajuda do Estado, sem dúvida estaríamos em outro patamar. Não basta apenas punir, é preciso ajudar.

Siga confiante e boa sorte!




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