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'Vamos ouvir mais o consumidor', diz presidente da Volks
Antonio Rogério Cazzali e Fabiana Cotrim
Do Diário do Grande ABC
23/03/2003 | 21:58
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Ao completar 50 anos de Brasil, data que será festejada nesta segunda-feira e que terá as presenças do presidente mundial da empresa, Bernd Pischetsrieder, do presidente mundial de Recursos Humanos, Peter Hartz, e do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, a montadora traça algumas metas para retornar à liderança do mercado, perdida há alguns meses. Em entrevista concedida ao Diário, o presidente da empresa no Brasil, Paul Fleming, afirma que a Volks voltará a lançar novos modelos, inclusive os de desenvolvimento nacional. Segundo ele, gostar de novidades é uma das características do público brasileiro.

Outra novidade será apresentada nesta segunda-feira, um motor que pode ser abastecido com gasolina e/ou álcool. Para Fleming, a perda da liderança significou muito em aprendizagem. Ele destaca que os erros mostraram que o consumidor da marca deve ser mais ouvido e é isso que ele fará a partir de agora. Apesar de afirmar que a empresa irá retornar a liderança do mercado nacional em breve, Fleming ressalta que a Volks continua sendo a maior montadora do país, tanto em exportação como em faturamento.

DIÁRIO – Quais são as estratégias da montadora para voltar ao topo neste ano?
PAUL FLEMING – Deixe-me lembrar uma coisa a você: nós continuamos no topo. A Volkswagen segue sendo a maior montadora do país e o maior faturamento no setor, porque apostamos tanto no mercado interno quanto nas exportações, onde somos líderes absolutos. Os veículos produzidos pela Volkswagen brasileira têm padrão de qualidade internacional, e são aceitos em mercados tão competitivos e exigentes como Europa e Estados Unidos. Nosso faturamento cresceu nos últimos anos, nossos volumes de exportação saltaram de 18 mil veículos em 1996 para mais de 138 mil em 2002, e entramos em 2003 batendo, todos os meses, nossos próprios recordes de exportação. No ano passado, contribuímos com 5% do saldo da balança comercial brasileira, o que é um resultado e tanto. A Volkswagen perdeu a liderança em vendas no mercado interno porque talvez tenha ficado um pouco distante do consumidor brasileiro nos últimos tempos, sem entender muito bem o que ele queria. E isso abriu espaço para a concorrência. Estou no Brasil há quase seis meses e já aprendi que vocês, brasileiros, adoram lançamentos. Então, vamos voltar a fazer lançamentos e realinhamentos dos nossos modelos com muito mais freqüência. E vamos fazer todos os esforços para ouvir, entender e atender os consumidores, oferecendo a eles carros acessíveis e desejáveis. Ouvimos e entendemos, por exemplo, que o consumidor queria um Gol de 4 portas que pudesse ser o que chamamos de “carro de entrada”, ou seja, um modelo de preço acessível. Essa preferência pelo carro de 4 portas não é nova no mercado, mas ainda não tínhamos este modelo em linha. Pois bem: em um prazo absolutamente recorde, apenas 12 dias, preparamos e colocamos esse carro em fevereiro nas lojas e ele é um sucesso de vendas. Vamos fazer sempre isso: atender o consumidor. É assim que iremos recuperar a liderança no mercado interno. Internamente, divulgamos em todas as fábricas por meio de enormes cartazes o que denominamos de “estratégia para o futuro”, que diz claramente que queremos manter a liderança no mercado e nos tornarmos, em três anos, a empresa automotiva mais ágil, orientada ao cliente, inovadora, global e rentável do Brasil. Dentro dessa visão estratégica, trabalhamos muito nos últimos meses para sermos a primeira montadora a colocar no mercado um carro revolucionário, que não existia no mercado brasileiro: ele pode ser abastecido com gasolina e/ou álcool, em qualquer proporção. Nosso modelo é um Gol batizado de Total Flex que o presidente Lula conhecerá na visita à Fábrica Nova Anchieta, para a comemoração dos 50 anos (nesta segunda-feira). Esse carro foi totalmente desenvolvido no Brasil, é um lançamento mundial. Para o consumidor brasileiro, ele significa economia e praticidade. Para a Volkswagen, significa reafirmar nossa liderança tecnológica.

DIÁRIO – O senhor acredita que a Volkswagen voltará a ter a supremacia do mercado nacional, nas mesmas proporções de anos anteriores?
FLEMING – Não tenho a menor dúvida. Depois de tudo que falei até agora, você ainda tem?

DIÁRIO – Em que pontos a montadora errou para perder a posição?
FLEMING – Não quero falar do que passou, mas do que virá. Do futuro e dos acertos. Ter perdido a liderança em vendas no mercado interno nos ensinou muito. Por exemplo, temos de ouvir o consumidor. Temos de chegar muito mais perto da nossa rede de concessionários. Eles ouvem nossos clientes todos os dias, e sabem muita coisa que pode nos fazer escolher o caminho certo. Eu digo sempre à minha equipe: precisamos de velocidade. Nas decisões, nas mudanças necessárias. Estamos com pressa de voltar a ser o número 1 do mercado nacional.

DIÁRIO – Qual é a importância da Volks do Brasil para o Grupo Volkswagen, no âmbito mundial ?
FLEMING – Eu diria que é uma importância estratégica. O Brasil é o único lugar onde fabricamos atualmente o Gol, sucesso de vendas em mais de 20 países e carro mais vendido no México, e o Polo Sedan, por exemplo. É também o lugar em que fabricamos caminhões e ônibus. O Brasil tem a maior operação em um mercado importante, que é a América Latina, e nossos recordes de exportação mostram que transformamos nossas fábricas em um pólo de produção também para o exterior. Ao exportar para tantos lugares diferentes, precisamos pesquisar soluções adequadas a cada mercado, a cada consumidor, e isso desenvolve ainda mais nossa busca pela tecnologia dentro do Grupo VW.

DIÁRIO – Como o senhor vê a relação empresa/sindicato atualmente? Houve uma amadurecimento das relações ou a escassez de empregos fez com que os trabalhadores reduzissem suas reivindicações ?
FLEMING – A relação com o sindicato é madura, profissional, direta. Algumas vezes, como não podia deixar de ser levando-se em conta as divergências naturais, essa relação fica mais difícil. Mas eu a definiria como equilibrada – para todos.

DIÁRIO – A que o senhor atribui a redução dos índices de acidentes de trabalho na Volkswagen do Brasil?
FLEMING – Investimos muito tanto em equipamentos quanto em treinamento, o que muda a atitude das pessoas quanto à sua própria segurança. Essa queda nos índices é um dos motivos de orgulho do nosso pessoal de Recursos Humanos, que vem trabalhando duro para mantê-los entre os mais baixos da indústria, e de nossos empregados, que são os maiores beneficiados.

DIÁRIO – E sobre o Tupi Europa, a definição sai quando? A Volkswagen do Brasil está preparada para recebê-lo? E dentre as plantas da montadora no país, qual é a que está melhor preparada para esta tarefa?
FLEMING – Não temos a definição ainda nem um prazo para tê-la, portanto não posso adiantar sequer em que planta ele seria produzido. Tudo ainda depende de acertos internos que estamos fazendo.

DIÁRIO – Quais são as metas de exportação para este ano? Há novos mercados na mira da montadora?
FLEMING – Batemos nossos próprios recordes de exportações em janeiro e fevereiro deste ano, e devemos chegar ao final de 2003 com um crescimento de mais de 10% sobre o volume total de carros embarcados no ano passado, que ultrapassou as 138 mil unidades. Quanto a novos mercados, há excelentes conversações sendo conduzidas mas seria prematuro informar alguma coisa.




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