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Amarga desilusão
Por Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
17/01/2011 | 07:00
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Foram três as principais atrações do "Summer Soul Festival", que aconteceu sábado à noite na Arena Anhembi, em São Paulo. Shows em que muitos viram o que não queriam ver e não perceberam quando aconteceu o que desejavam.

É simples: quem esperou muito de Amy - e não que ela não tenha dado - se decepcionou por não vê-la esvair-se em fossa, tombos e insanidade. E esse mesmo grupo chateado não notou que o melhor da noite, que inclui a primeira oportunidade de ver a britânica, foram os shows Mayer Hawthorne e Janelle Monáe.

Hawthorne foi a primeira atração internacional, subiu no palco às 20h26. O norte-americano já entrou no iê iê iê. As pistas ainda não tinham nem metade dos 30 mil que lotaram o Anhembi no fim da noite.
 
Em um balanço que relembra o som da época da Motown, o branquelo com cara de nerd agitou parte da massa com seu vozeirão, que passeia por todos os tons. Alguns balançavam o corpo burocratimente, um pra lá um pra cá, olhando para o céu ou conversando com os amigos, marcando lugar para ver Amy o mais perto possível.

Dividindo a noite com a plateia, Hawthorne não se intimidou diante da missão de fazer todos cantarem. Tirou foto do público com as mãos levantadas e contou sobre o segurança do aeroporto de Santa Catarina, que o confundiu com Tobey Maguire e declarou: "I love you, Spider-Man!"

As versões ao vivo de seu único disco, "A Strange Arrangement", ganharam potência. "Maybe So Maybe No" e "Your Easy Lovin' Ain't Pleasin' Nothin'" foram a cereja do bolo, que teve como recheio a versão de "Beautiful", de Snoop Dog. Boa parte do público cantou junto nessa hora.

PERFORMER

Às 21h45 Janelle Monáe já estava preparada para o Anhembi quase lotado. Apareceu coberta com uma capa preta, esperando os primeiros arranjos de
"Dance Or Die" para mostrar a que veio.

Em uma hora de show, a cantora de 25 anos mostrou que o seu foco é a performance. Sem parar de dançar, chegou a fazer moonwalks tão bons quanto os de Michael Jackson. Mostrou que seu trunfo é também a voz. É impressionante a quantidade de nuances que sua interpretação alcança.

Em temas mais suaves, como a linda versão de "Smile", de Charles Chaplin, acompanhada de guitarra, a cantora fez crescer o seu repertório, que não condensou apenas os temas agitados ou experimentais do seu disco "The ArchAndroid (Suites II and III)", mas misturou-os todos, em batidas que fizeram os arranjos saltarem da bolachinha e ganhar fôlego especial ao vivo.

Foi o caso de "Mushroom & Roses". A estranha versão do disco ganhou forma mais palatável no palco. E direito à intervenção de Janelle que, enquanto cantava, pintou uma tela.


"Faster", "Cold War" e "Tightrope" foram os pontos altos. No fim, com "Come Alive", numa performance geral dos que estavam no palco, Janelle se superou, e todos foram um só para cantar junto os seus lá lá lás. A cantora dançou até desmanchar o topete, jogou água no cabelo, na plateia, teve sua vez rockeira.

Com apenas um "obrigada" no começo do show, Janelle saiu do palco ovacionada, à francesa, sem ter dado mais nem uma palavra ao público. Voltou logo em seguida, apenas para buscar uma garrafa de água, mas quase ninguém reparou.

ENFIM, AMY
Mal acabou o show de Janelle e já não era possível dar um passo para o lado em toda a Arena. Eram 22h45, numa agitação compartilhada que durou até às 23h38, quando, com 13 minutos de atraso, a banda de Amy começou a tocar Shimmy Shimmy Koko Bop, chamando-a para o palco.

Amy estava paulistana para São Paulo, vestindo um sóbrio vestido azul-marinho com detalhes brancos. A entrada no palco não foi apoteótica, como muitos esperavam.

Logo lançou mão de "Back to Black" e "Tears Dry on Their Own". Sem voz para sustentar a segunda, não empolgou. A exceção era quando bebia do misterioso líquido da xícara que ficava no chão do palco. As pessoas deliravam e parecia que era só isso que importava. A crença era a de que se Amy bebesse logo daria show.

Dispersa, cantou burocraticamente - sem errar as letras. Vira e mexe, ia para o fundo do palco, conversar com o guitarrista. Voltava dando pulinhos. Ensaiou em algumas ocasiões uns passinhos esquisitos, parecendo um astronauta pisando na lua. Sorte que sem cair. Coçou o nariz o show inteiro. E, para o público, só soltou um tímido "olá" e "como vocês estão se sentindo?", sem ter tato para esperar a resposta.

Os pontos altos foram com "Valerie" e "Boulevard of Broken Dreams". Seu hit, "Rehab", foi cantando em tom e floreios que ninguém conseguiu acompanhar. É interessante observar como Amy nunca repete a interpretação de suas músicas.

Foram duas saídas do palco. Uma para seu backing vocal, o competente Zalon, cantar duas canções; e outra para o bis, quando ela entoou "Love is a Losing Game" e "Me and Mr. Jones".
 
Deu 1h23 de show, em que Amy, longe de ser o que as pessoas esperam dela, foi ela mesma. A cantora aflita das letras de suas canções, a mulher que cambaleia por não ter um amor à altura dos seus sentimentos. A verdadeira diva como as dos tempos antigos. A que canta com a alma e não liga para ninguém.

Azar de quem não percebeu isso. Mas que os mais azarados foram os que não perceberam todo o resto do "Summer Soul Festival", isso foi.




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