Política Titulo Campanha morna
A duas semanas do primeiro turno, Grande ABC quase não vê eleição

Diferentemente de 4 anos atrás, ruas estão vazias e com pouco material de campanha

Por Daniel Tossato
Do Diário do Grande ABC
23/09/2018 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


 Tarde de quarta-feira, um cidadão atravessa tranquilamente a parte elevada da Avenida Perimetral, na Rua Coronel Alfredo Flaquer, na região central de Santo André. Avista apenas um cidadão empunhando a bandeira de um candidato a deputado estadual da cidade. Sem contratempo, esquiva-se rapidamente do militante e chega à outra parte da rua.

Esse cenário, quatro anos atrás, seria inimaginável para os mesmos dia, horário e local. Se há quatro anos passar por calçadas de regiões comerciais era praticamente uma aventura, tendo de driblar inúmeros cavaletes e cabos eleitorais, agora, a duas semanas para o primeiro turno, o Grande ABC nem parece vivenciar a disputa pelo voto.

A eleição começou oficialmente há 39 dias, mas o clima na rua ainda é morno. Com pouco material de campanha nas vias, cientistas políticos ouvidos pelo Diário atestam que a falta de recursos fará com que os candidatos guardem fôlego e material para tentar arrancada na última semana antes do pleito. Por outro lado, comerciantes e eleitores elogiaram a redução da poluição visual em época eleitoral.

Segundo o cientista político e pesquisador da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica) Eduardo Viveiros de Freitas, a ausência de verba em campanha – limitada pela impossibilidade de emprego de dinheiro de empresas – é um dos grandes problemas que as siglas enfrentam para poder colocar material na rua. “A questão financeira acaba por dar vantagem àqueles que já estão no cargo público ou que detêm algum poder econômico. Muitos pleiteantes guardarão dinheiro e material para utilizar nos últimos dias de campanha. É uma estratégia.”

Quem anda nas ruas do Grande ABC nota a pequena quantidade de cabos eleitorais que agitam raras bandeiras em esquinas dos centros comerciais. No Centro de Mauá, por exemplo, não foi difícil encontrar pessoas entregando panfletos de políticos, porém, a movimentação está longe da de 2014, quando centenas de bandeiras atrapalhavam a visão do munícipe. “Acredito que assim está melhor. A cidade não fica tão suja e não tem tanta poluição visual. O que me faz votar em um candidato são suas propostas, não sua publicidade”, argumentou Felipe Luiz Cardoso, 37 anos, que está procurando emprego. Cardoso, que já tem candidatos escolhidos, aposta que esse tipo de campanha, com material na rua, está fadado a desaparecer.

Kleber Carrilho, cientista político da Universidade Metodista de São Paulo, corrobora a opinião do morador mauaense, já que parte da diminuição de bandeiras e outros itens nas ruas se deve à escolha do candidato pela internet. “O político atual tem de buscar novas estratégias para sua campanha. Muitos têm apostado nas redes sociais para pedir votos e mostrarem suas propostas. Esse pode ser um caminho a ser seguido pela política. Material em papel, além de caro, suja a cidade.”

Para Freitas, devido à nova modalidade de se fazer campanha, é bem possível que a renovação política dentro da Assembleia e até na ala majoritária seja menor que médias anteriores. “Apesar de ser apresentada como mudança que traria equilíbrio para os atores políticos, a reforma política acaba beneficiando partidos e políticos que já são estruturados”, pontuou o especialista (veja mais na página 4).

Na Rua Coronel Oliveira Lima, centro comercial mais conhecido de Santo André, foi difícil encontrar material de campanha dos candidatos. Na quarta-feira, dia em que a equipe do Diário esteve no famoso calçadão, apenas pequena barraca de um postulante a deputado estadual pela região estava instalada.

Para Carrilho, as eleições nunca mais voltarão a ser como antes de 2014. Com a reforma política, o especialista acredita que o modo de se fazer campanha deverá mudar ainda mais nos próximos pleitos. “Não só a ideia de se fazer política, mas a maneira de se fazer campanha deverá ser repensada”, pontuou.

Para o comerciante Hélio Farber, 60, que atuou durante seis anos como presidente da SOL (Sociedade Oliveira Lima), a campanha feita desta maneira deixa a cidade mais limpa. “Ao meu ver está melhor desta forma. Tanto para o comerciante, quanto para o consumidor que pode se locomover pelas vias sem esbarrar em nada. Para dizer a verdade, parece que as eleições ainda nem começaram.”




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