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Por Rodolfo de Souza
13/09/2018 | 07:00
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O candidato foi golpeado por faca, segundo mostra a imagem feita por câmera que não haveria de se enganar. Seu semblante de dor e aflição demonstra também que o criminoso teria de fato levado até o cabo o seu intento de ferir o homem. Ou talvez tenha falhado, considerando a possibilidade de ter tramado a sua morte. Nunca se sabe. 

De qualquer forma, deixou claro que segurança não havia ao lado do indivíduo que se candidatara ao mais alto posto no comando da nação, e que sorria e acenava aos correligionários, do alto dos ombros de alguém. 

É de fato muito conveniente que ele tenha sido atacado nas vésperas das eleições. É conveniente para o que vinha na beira do rebaixamento, imaginar a queda do primeiro colocado nas pesquisas. É conveniente para muitos que o candidato que substitui o mais forte, preso por querer ser presidente, tenha sua imagem maculada, por causa do agressor que, supostamente, tenha pertencido a partido de esquerda. É conveniente para o vice da vítima, que deverá assumir o comando da campanha. Mas... Não seria ainda mais conveniente para o próprio homem alvejado por arma branca, que tombasse ali, mártir que defende uma causa, a sua causa? Por certo que causaria indignação e mais comoção do que o incêndio que destruiu o museu. 

Mesmo assim, não imagino que desejasse ser esfaqueado o tal, ciente que é da impossibilidade de se vencer uma eleição tendo seu nome gravado numa lápide. Fico pensando, inclusive, que levou sorte, tendo em vista que se armara de faca o criminoso. Se tivesse dado a devida atenção ao discurso da vítima, sem dúvida teria em punho um revólver ao invés de faca. A eloquência do outro, afinal, instiga a população a se armar, como forma de conter a violência. Paradoxo que, inclusive, o fez crescer nas pesquisas.

Li também em algum lugar, no imenso arsenal de notícias da internet, que o agressor está desempregado, mas que, mesmo assim, dispõe de quatro advogados que trabalham na sua devesa. Note: nenhum deles do Ministério Público!

Noutro canto, ainda na internet, vi uma foto feita pelo celular de alguém, que mostra o candidato, seriamente ferido, adentrando o recinto hospitalar a pé, esbanjando simpatia, e cercado de profissionais da saúde com seus uniformes inconfundíveis. Seriam as chamadas fake, todas essas informações? Aliás, isso confunde cada vez mais a pessoa que busca a informação e, de repente, se vê ludibriada, acreditando numa notícia que, não demora, revela-se um engodo.

No frigir dos ovos, fake é o candidato esfaqueado, ou fake é a denúncia de que nada sofrera? Chego a pensar que o problema está mesmo na internet e suas incontáveis possibilidades. Até porque, vi há pouco outra fotografia. Desta vez o candidato operado exibia os pontos cirúrgicos que iam do dedão do pé à testa. Pareceu-me um pouco exagerado, embora impressionante e conveniente por encher de piedade o coração do eleitor, que se comove com qualquer coisa. Se bem que a poeira baixou, e não se fala tanto no assunto, excetuando a mídia que se esmera para encher a bola do indivíduo agredido e, com isso, faturar uns votinhos extras para ele. Mudaram de partido, ao que tudo indica, os meios de comunicação deste País. Agora tencionam eleger o cara que, segundo seus cálculos, estará no segundo turno. 

É assim que funciona o toma lá da cá da política. Tem todo o apoio aquele que está mais perto do pódio, mesmo que não valha um tostão furado. Tudo muito conveniente.




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