O ex-senador Luís Estevao depôs, a portas fechadas, ao juiz da 1ª Vara da Justiça Federal Casem Mazloum por quase oito horas sobre o seu suposto envolvimento no desvio de verba pública destinada à obra do prédio do Fórum Trabalhista de Sao Paulo. Estevao começou a depor às 13h30 e deixou o prédio da Polícia Federal, no Centro de Sao Paulo, por volta das 20h55, sob protestos e chuva de ovos promovida por populares que estavam no local.

Mazloum nao adiantou muito sobre o depoimento, dizendo apenas que Luiz Estevao se defendeu de todas as acusaçoes. Ele negou ser dono da Incal e amigo do ex-juiz foragido Nicolau dos Santos Neto, afirmando que nunca participou de esquemas de desvio de verba pública destinada à obra do prédio do TRT-SP.

O juiz afirmou que ainda é cedo para tirar conclusoes sobre o depoimento. "Só faremos o julgamento depois de ouvir todas as testemunhas de defesa e acusaçao", disse. "Nao se pode julgar se ele (Estevao) está certo ou errado. A avaliaçao correta será feita no momento da sentença," concluiu.

O parlamentar cassado é suspeito de ter sido beneficiado com repasses da construtora Incal Incorporaçoes que totalizam US$ 34,2 milhoes, entre 1994 e 1995.

O ex-senador obteve permissao para deixar o país. Mazloum afirmou que nao acredita que Estevao pretenda fugir, já que vem colaborando com as investigaçoes.

A Justiça Federal ainda vai ouvir os sócio da Incal, Fábio Monteiro de Barros e José Ferraz. Barros deve depor nesta terça-feira.

Adiantado - Estevao chegou ao local duas horas antes do combinado, sozinho. Ele carregava muitos papéis e nao quis falar com a imprensa. Dentro do prédio, porém, havia vários seguranças do ex-senador.

Muitos jornalistas e curiosos se aglomeraram na entrada do prédio da PF, esperando por notícias e pela sua saída.

O depoimento foi feito a portas fechadas porque houve alguns dados sigilosos do caso TRT que foram abertos nos questionamentos, como números de contas bancárias do juiz Nicolau.

Por volta das 18h20, a assessoria de imprensa da Polícia Federal disse que o depoimento estava previsto para acabar às 18h, mas iria durar pelo menos mais duas horas. Em princípio, estavam previstas 50 perguntas sobre o envolvimento de Estevao no caso do TRT, mas o número foi ampliado para 60.

Ovada - No momento em que deixava o prédio da Justiça Federal, Estevao optou por uma saída lateral do edifício para evitar a multidao, mas nao adiantou. Populares arremessaram ovos no ex-senador, que saiu escoltado por seguranças e agentes da PF. Dois estudantes acusados de terem tentarem acertar o ex-parlamentar com ovos - Joao Ricardo, 21 anos, e Sérgio Mascarenhas, 22 - foram presos.

Luiz Estevao é acusado de estar envolvido no processo de irregularidades e superfaturamento na construçao do Tribunal Regional do Trabalho de Sao Paulo (TRT-SP). O valor desviado chega a R$ 169 milhoes.

Ele foi denunciado por formaçao de quadrilha, estelionato, falsidade ideológica, uso de documentos falsos, peculato e corrupçao passiva e teve o mandato cassado pelo Senado, perdendo a imunidade parlamentar.

Estevao já havia faltado no primeiro depoimento, marcado para o dia 28 de julho, pois estava em viagem a Brasília.