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A economia do Império cruza o Grande ABC: era 1855...

Há 155 anos a economia paulista passava sobre o lombo de animais ou em carretões de tração animal que cruzavam o Grande ABC

Ademir Medici
Do Diário do Grande ABC
12/09/2010 | 00:00
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Há 155 anos a economia paulista passava sobre o lombo de animais ou em carretões de tração animal que cruzavam o Grande ABC. Descia o café, subia o sal. Origem e destino eram o Porto de Santos. Vapores que chegavam e partiam interligavam Santos a várias partes do mundo. Não havia trem. Assim, vencia-se a Serra do Mar por uma estrada moderna, a Calçada do Lorena, inaugurada em 1792 e que, em ziguezague, driblava cursos d'água e outros obstáculos, serra abaixo ou serra acima.

Mas, o que exatamente era transportado? Como eram as embarcações que chegavam e partiam de Santos? De onde vinham? Quais eram os seus destinos? As respostas chegam à Memória por meio da Revista Commercial, editada em Santos e que cuja coleção cobre um ano, praticamente: setembro de 1855 a agosto de 1856.

A publicação santista circulava semanalmente e trazia o movimento do porto, importação e exportação, e os nomes dos passageiros. Os que tinham como destino São Paulo e Interior subiam a Serra do Mar e tomavam a Estrada do Vergueiro, que cruzava o centro da Vila de São Bernardo, então sede da freguesia de São Bernardo. Do mesmo modo, os paulistas provenientes da Capital que desejassem viajar em vapores passavam pelo mesmo município.

A coleção da Revista Commercial nos foi emprestada pela professora Therezinha do Menino Jesus Cintra, de São Bernardo. As únicas ilustrações são minúsculos desenhos dos vapores, com menos de dois centímetros quadrados.

Agostinho Fratini, da Editoria de Arte do Diário, recriou aqueles desenhos. Baseou-se na coleção da professora Therezinha e em pesquisa iconográfica. Coloriu as ilustrações e oferece a historiografia um documento raríssimo que publicamos a partir de hoje.

Acompanhe-nos. E vejam um retrato econômico e social de 1855 e 1856 no Estado de São Paulo. O Grande ABC, sem fábricas, era o ponto de passagem mais lógico e aparelhado a interligar o litoral paulista ao restante do Estado. A economia do Grande ABC era insignificante, formada por fazendas (como as dos beneditinos em São Bernardo e São Caetano), chácaras e sítios esparsos.

Aqui havia escravos. A imigração européia destinada à nossa região demoraria mais 20 anos. E os nossos antigos, brasileiros de descendência portuguesa, acompanhavam junto à Borda do Campo o grande acontecimento da época: o cordão de isolamento, ou cordão sanitário, a partir de Santos, motivado pela epidemia de cholera morbus. Os vapores que chegavam obrigavam-se a permanecer em quarentena, algo como o ocorrido em março de 2010 com o navio cruzeiro internacional que deixou o Porto de Santos e permaneceu ancorado em Búzios, no Rio de Janeiro, depois de centenas de pessoas adoecerem com diarreias e vômitos.

NOTAS
1 - A Revista Commercial era publicada às segundas-feiras. Foi editada pela primeira vez em 1849. Guilherme Delius aparece no expediente de 1855 e 1856 como o proprietário da revista.
2 - No período pesquisado, o Estado de São Paulo exportava café como o seu principal produto, seguido pelo açúcar. E mais: arroz, milho, farinha (de milho e mandioca), chá, canjica, toucinho.
3 - Importava-se, basicamente, sal. E produtos industrializados que vinham da Europa: meias de algodão, fósforos, papel, objetos de escritório, manteiga, queijos, óleo de linhaça, conservas, barricas de cerveja, folhas de flandres, cestos de louça, vidros, garrafas, velas, chumbo de munição, livros.
4 - O vapor América, que atracou em Santos em 27 de agosto de 1855, proveniente de Hamburgo, trouxe um piano.
5 - Entre os passageiros que desembarcaram em 28 de agosto de 1855, nomes exclusivamente de origem lusitana, como João Joaquim Silveira da Mota, Manoel Joaquim Neto e Sebastião José Rodrigues d'Azevedo.
6 - Claro, vários desses passageiros e produtos importados permaneceram no mercado santista. Os destinados à Capital e Interior tinham que tomar o rumo da Serra do Mar, cruzando a Vila de São Bernardo, mesmo trajeto percorrido pelas autoridades do Império, entre os quais Dom Pedro I.

Crônica de São Bernardo
Texto: Benjamin Versolato
O terreno da nossa casa, em São Bernardo, era enorme. Seguia da Rua Marechal Deodoro até o Rio dos Couros, hoje encoberto pela Avenida Faria Lima. Neste rio pesquei muitos lambaris, acarás, bagres, traíras, tabaranas e cascudos.

Nossos vizinhos eram maravilhosos. Bem de frente à nossa casa morava dona Corina e seo Liberato Salvador. Família numerosa com seus sete filhos: Luiz (Bibito), José Arimatéia (Tetéia), José (Dico), Antonio, Carmela (Carmelita), Maria (Mariquinha) e uma irmã de caridade, freira, cujo nome não me é conhecido. Eram pessoas boníssimas e muito alegres. Todos, sem exceção.

DIÁRIO HÁ 30 ANOS
Sexta-feira, 12 de setembro de 1980
Manchete - Empresários apoiam iniciativa da Volkswagen (de adotar o sistema de representação dos empregados); Mercedes-Benz também vai instituir; líderes sindicais protestam; Anapemei (Associação Nacional das Pequenas e Médias Empresas): um passo para a co-gestão
Editorial - A Volkswagen dá o primeiro passo.
Movimento Estudantil - Prossegue a greve da UNE (União Nacional dos Estudantes).
Ribeirão Pires - Vila Gomes luta por melhoramentos públicos, especialmente redes de água e esgoto.

EM 12 DE SETEMBRO DE...
1970 - Começa, em Santo André, ciclo de conferências sobre arte no século 18, promoção da Prefeitura. Conferencistas: professores Alexandre Takara, Jacques Douchez, Carla Strambio, maestro Moacyr Del Picchia e Dionísio Amadi.

TRABALHADORES
Nascem em 12 de setembro:
1910 - Joaquim Francisco. Auxiliar químico da Atlantis. Residia à Rua Dr. Justino Paixão, em Mauá.
1917 - Francisco Ruiz Gracino, natural de Jaboticabal. Operário da Rhodia. Residia à Rua Suíça, 535.

FONTE: 1º livro geral de registro dos associados do Sindicato dos Químicos do ABC.

HOJE
Dia Nacional da Recreação, Dia da Seresta, Dia da América Latina, Dia da Etiópia e Dia do Trator (cf. TM, nº 15 e 16).

SANTOS DO DIA
Guido de Anderlecht, Selésio e Vitória Fornari. Na estampa, a simbologia do nome de Maria.

Crédito da estampa:acervo Vangelista Bazani (Gili) e João de Deus Martinez.


Falecimentos

WALDIR BONONI
(Santo André 2-8-1925 - 17-1-2004)

Nos anos 1940, 1950, 1960 e começo dos anos 1970, quem praticava algum esporte e se destacava, logo era convidado para participar de alguma agremiação no Grande ABC. Para Waldir Bononi não foi diferente. Ele começou a se destacar logo que tomou gosto pelo futebol. Atuou em vários clubes amadores locais.

Corria o ano de 1947 e Bononi já era um jogador bastante badalado, com grande prestígio entre os funcionários da Rhodia Química. A empresa tinha um verdadeiro esquadrão, contava com os melhores jogadores da região, entre os quais Begliomini, Buchini e Delaurinha.

Waldir se destacava por ser pequeno, rápido e habilidoso, com grande visão de jogo. O talento futebolístico era um trunfo para que conseguisse bons empregos e bons salários. Torcia pelo Palmeiras. Sofria quando o time perdia, especialmente se o adversário fosse o Corinthians.

Waldir Bononi não deixou seguidores no futebol, mas seus dois netos, Rafael e Marcelo, se destacaram jogando basquete em vários times da região. Seu filho, Marco Antonio, jogou futebol de salão no Primeiro de Maio, mas segundo ele, não jogava nem a metade que seu pai. Waldir partiu aos 78 anos, deixando a esposa Ivone Bononi, filhos e netos. Está sepultado no Cemitério da Saudade.

SANTO ANDRÉ
José Carlos Wutke dos Reis, 61. Natural de Guapeassu (SP). Dia 4. Cemitério de Vila Assunção.
Roberto Francisco de Oliveira, 39. Natural de Estrela do Norte (SP). Dia 8. Cemitério Phoenix.

SÃO BERNARDO
Luiza Inês da Silva Oliveira, 65. Natural de Alagoinha (PE). Dia 5. Cemitério dos Casa.
Mauro Matiazo, 65. Dia 5. Natural de Barra Dourada (SP). Dia 5. Cemitério da Paulicéia.
Airton Vasques, 63. Natural de Santos (SP). Dia 5. Cemitério da Paulicéia.
José Luiz Cavicchioli, 62. Natural de Lençóis Paulista (SP). Dia 8. Cemitério de Vila Euclides.
Erminio Padilha, 60. Natural de São Paulo (SP). Dia 3. Cemitério Jardim da Colina.
Antonio João dos Santos, 60. Natural de Euclides da Cunha (SP). Dia 5. Cemitério de Congonhas, Capital.
Natalia Gonçalves, 60. Natural de Fartura (SP). Dia 4. Cemitério da Paulicéia.
Vicente Pereira da Rocha, 60. Natural de Governador Valadares (MG). Dia 8. Cemitério dos Casa.




Comentários

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