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Espanha descobre situaçao lamentável de imigrantes
Do Diário do Grande ABC
09/02/2000 | 12:58
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Os distúrbios racistas de El Ejido permitiram aos espanhóis descobrir as lamentáveis condiçoes de vida de milhares de imigrantes atraídos pelo milagre econômico desta regiao da Andaluzia (Sul), convertida em um novo Eldorado graças a suas estufas hortícolas.

A província de Almería e, especialmente, a regiao de El Ejido, se converteram nos últimos anos em uma das mais ricas da Espanha com o boom dos cultivos em estufas de frutas e verduras, que sao exportadas para toda a Europa.

Esta regiao desértica - os spaghetti-westerns de Sergio Leone foram rodados nas proximidades - chama-se agora de o ``mar de plástico', devido à instalaçao de 24 mil hectares de estufas, a maior concentraçao mundial desse tipo de cultivos intensivos.

Cerca de 100 mil pessoas vivem dessas estufas, que produzem até três safras por ano, graças a um clima sempre quente e ensolarado e geram um faturamento anual de 300 bilhoes de pesetas (US$ 1,8 bilhao), segundo estatísticas profissionais.

O ``milagre de plástico' atraiu os trabalhadores imigrantes. Primeiro chegaram os espanhóis vindos dos lugares mais pobres de Andaluzia e, mais recentemente, os magrebíes, especialmente os marroquinos.

Pelo menos 24 mil norte-africanos vivem na província de Almería e uns 10. 000 deles residem em El Ejido. Rrepresentam um quinto da populaçao dessa cidade (50 mil habitantes) e constituem uma das taxas de populaçao estrangeira mais alta da Espanha.

Mao-de-obra barata, sao os motores da agricultura ao permitir baixos custos de produçao. O salário é de 5.000 pesetas (US$ 30) por dia para os imigrantes legais e muito menos em caso de nao documentados (situaçao em que se encontra pelo menos metade deles, segundo reconhecem as autoridades).

``Milhares e milhares de imigrantes vivem nessa zona, onde, nao esqueçamos, nao apareceram por magia e sim porque precisam do ponto de vista econômico. Se forem embora, a atividade econômica de El Ejido desabaria', explica o presidente andaluz, o socialista Manuel Chaves. Suas condiçoes de vida e de trabalho nao têm, contudo, nada que ver com o Eldorado que ajudaram a criar.

Segundo um informe da ONG que trabalha pela integraçao dos imigrantes, 60% deles vivem em armazéns situados nos setores agrícolas ou em acampamentos. Somente um terço mora em apartamentos mais ou menos dignos desse nome.

Cinqüenta e cinco por cento das moradias destinadas aos imigrantes, a maioria deles jovens e solteiros, nao têm água corrente, em uma regiao onde se registram temperaturas de 40 graus no verao e 31% nao dispoem de eletricidade.

As ``casas' que foram incendiadas durante os distúrbios, que causaram 60 feridos desde o último sábado, nao eram mais que simples cabanas ou tendas de campanha improvisadas. As ONG denunciam também as duras condiçoes de trabalho sob as estufas superaquecidas pelo sol, assim como o risco que representa para a saúde dos trabalhadores a utilizaçao de numerosos compostos químicos e pesticidas.




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