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Livros explicam estrada de ferro
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
25/01/2005 | 14:06
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Panfletos contrários à Madeira-Mamoré publicados nos Estados Unidos na época afirmam "Each tie a human life". Era uma das lendas da ferrovia que dizia que cada dormente assentado em 364 quilômetros de trilhos representava uma vida perdida.

Três relançamentos recolocam nos trilhos a história pouco esclarecida e muito esquecida desta ferrovia. Uma é a ficção Mad Maria (Record, 464 págs., R$ 45,90) de Marcio Souza, que inspirou a minissérie da Globo. Lançado em 1981, narra as loucuras da obra e os empecilhos da selva em sua construção, os conchavos políticos e empresariais para levá-la adiante, e as condições subumanas de trabalho. Fatos e nomes são extraídos de pesquisa histórica em bibliotecas e descritos pelo autor em forma de ficção.

Na obra de Souza, Mad Maria é o apelido da locomotiva que se move milimetricamente a cada avanço da ferrovia. Também é uma corruptela de Madmamrly, forma abreviada como os norte-americanos chamavam a Madeira & Mamore Railway Co. Outro romance sobre esta construção na selva é A Ferrovia do Diabo (Melhoramentos, 408 págs., R$ 29,90), de Manoel Rodrigues Ferreira, publicado em 1960.

Descrever o que foi a Madeira-Mamoré implica em conhecer o fascínio da palavra progresso em fins do século XIX, e entender o imperialismo capitalista materializado na construção de ferrovias em lugares extremos do globo. Essa é a função de Trem-Fantasma – A Ferrovia Madeira-Mamoré e a Modernidade na Selva (Companhia das Letras, 350 págs., R$ 47), ensaio histórico de Francisco Foot Hardman que não era relançado desde 1988, ano de sua primeira edição.

É o melhor dos relançamentos e possui estilo quase literário. O ponto de partida da pesquisa foi a foto de um trabalhador hindu flagrado pelo norte-americano Dana Merrill, único fotógrafo que documentou a obra e do qual ainda pouco se sabe. Esta segunda edição recebeu uma oportuna faixa que diz "A aventura da construção da ferrovia que inspirou a minissérie Mad Maria".

Na África, quase ao mesmo tempo que a Madeira-Mamoré, uma empreitada anglo-americana tentava construir uma ferrovia em trecho de quase 400 quilômetros ao longo do rio Congo para conectar o Atlântico ao Índico. O escritor Joseph Conrad visitou a obra e descreveu-a em O Coração das Trevas (1902). Os gritos de "hurra! hurra!" dos trabalhadores ao concluir trechos são foneticamente parecidos ao grito suspirado e solitário do personagem Kurtz: "O horror! O horror". Inspirou o filme Apocalipse Now, de Francis F. Coppola, que por sua vez, inspirou Ricardo Waddington na minissérie.




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