Nacional Titulo
Morrem seqüestrador de ônibus do Rio e uma refém
Por Do Diário OnLine
13/06/2000 | 00:24
Compartilhar notícia


 Foto: AFPO dia foi de pânico, nesta segunda-feira, no Rio de Janeiro. Um assaltante manteve cerca de 11 pessoas como reféns em um ônibus na avenida Jardim Botânico, Zona Sul da cidade, por cerca de quatro horas e meia. A açao começou por volta das 14h30, quando a Tropa de Elite da Polícia Militar cercou o veículo. Ao deixar o coletivo, por volta das 18h50, ele desceu tomando um menina, identificada como Geisa Firmo Gonçalves, como "escudo". O homem foi baleado à queima-roupa por um policial e, no desespero, deu três tiros contra a refém. A PM do RJ vai investigar se os disparos que mataram Geisa foram mesmo dados pelo bandido, e nao por um agente da polícia.

O seqüestrador foi levado imediatamente para o Hospital Souza Aguiar, onde morreu por volta das 19h30. De acordo com a assessoria de imprensa do Hospital Miguel Couto, para onde foram levados os reféns, Geisa Firmo, 20 anos, também morreu. Ela estava sendo operada mas nao resistiu. Seu estado era muito grave porque levou os tiros no pescoço, no tórax e no abdôme. Segundo a assessoria do hospital, ela teve três paradas cardíacas revertidas.

Alexandre Pereira dos Santos, que disse trabalhar com o marido de Geisa, Alexandre Alves, cavalariço do Jóquei, contou na delegacia que ela morava na Favela da Rocinha, onde trabalhava numa creche. O casal teria vindo do Ceará para o Rio há cerca de um ano. O marido teria sabido da caso pela tevê. "Ele ligou para o celular dela e ninguém respondeu e ficou desperado", disse. "Depois, ele foi para a Rocinha, nao encontrou a mulher, veio para o hospital e descobriu que ela estava morta."

Outra refém, identificada como Luana Guimaraes, 19 anos, também saiu sangrando muito, mas foi socorrida com vida e passa bem. A refém Janaina Lopes, 23, também deu entrada no hospital com distúrbios emocionais, mas já foi liberada. Chegou-se a pensar que Janaina estivesse morta, mas em entrevista após deixar o hospital, ela declarou que o assaltante mandou ela se atirar no chao e disparou um tiro perto de seu pé, para pressionar a polícia nas negociaçoes.

Damiana Nascimento de Souza, 39 anos, a primeira refém a ser libertada, tem problemas cardíacos e foi hospitalizada. Ela deverá permanecer internada com Lourival Sebastiao Nascimento, 64 anos, que também foi mantido como refém e deu entrada no hospital com distúrbios emocionais

Cerca de 100 pessoas que assistiam ao seqüestro tentaram linchar o bandido, identificado como Sérgio, mas os policiais o levaram em um carro do Corpo de Bombeiros em direçao ao hospital. Estima-se que ele seja fugitivo de um DP da Zona Norte do Rio.

Durante toda a tarde, o clima no local foi de pânico e muita tensao. Homens da Tropa de Elite da Polícia Militar interceptaram o veículo e interditaram a avenida. Eles negociaram com o seqüestrador, que resistiu muito e se recusava a se entregar, além de exigir duas granadas, pistolas e R$ 1 mil para fugir.

Antes do homem deixar o ônibus, quatro reféns foram libertados. Um deles, identificado como Willian Nunes de Moura, 28 anos, disse que o seqüestrador parecia drogado quando tomou o veículo. Já outro refém liberado Carlos Leite Faria, 36 anos, foi preso suspeito de ser cúmplice do assaltante. No entanto, após um longo depoimento na polícia, ele foi liberado.

Com o fim do seqüestro, o ônibus e os reféns foram levados pela Tropa de Elite da PM para o 15º Distrito Policial, onde já prestaram depoimentos e foram liberados ou encaminhados para o hospital.

Pânico - O ladrao chegou a apontar por várias vezes uma arma para duas jovens dentro do ônibus, que gritavam por socorro pela janela. Ele disparou contra os jornalistas e policiais que estavam no local. Chegou a ser divulgada a informaçao de que uma refém teria morrido, mas ela, apesar de ferida, foi retirada com vida pelos policiais e encaminhada a um hospital da regiao.

"Sérgio" chegou a tentar partir com o ônibus, colocando uma refém para pilotar, e esguichou o extintor de incêndio dentro do veículo.

Durante o seqüestro, o comandante da Polícia Militar Nilton Lourenço disse que a orientaçao da PM que foi passada à Tropa de Elite que estava no local era de que se esgotassem todas as tentativas de negociaçao com o ladrao, nem que, para isso, a conversa se entendesse durante toda a noite.

Como a imprensa foi mantida, na maior parte do tempo, afastada do ônibus, as informaçoes estiveram meio desencontradas. Houve notícias de que no ônibus estaria também um outro assaltante, mas apenas um aparecia nas janelas do veículo. Além disso, essa informaçao foi desmentida pela terceira refém libertada, Daniela Nascimento de Souza, que foi levada para um hospital da regiao e permanece sob efeitos de sedativos.

Minutos antes do fim do seqüestro, por volta das 18h30, uma das passageiras do ônibus entregou um bilhete aos policias. Nele estaria escrito que se as exigências do seqüestrador nao fossem atendidas todos morreriam.

A polícia deu um celular para que as conversaçoes ficassem mais fáceis, mas o homem jogou o telefone para fora do ônibus. Por volta das 17h07, o seqüestrador pediu um repórter para intermediar as negociaçoes. A polícia nao permitiu.

Motivo - O assaltante justificou que o motivo dele estar fazendo este seqüestro foi a morte de seus pais. Ele afirmou que nao iria se entregar e que poderia matar todos os reféns, caso nao recebesse o que estava pedindo (R$ 1 mil, pistolas e duas granadas).

Por volta das 16h30, o assaltante fez com que uma refém escrevesse algumas frases com batom no vidro do ônibus. "Ele tem um pacto com o diabo e mostrou um punhal e o diabo desenhado no braço dele" seria uma das frases, que foi assinada pela sigla "C.V." (Comando Vermelho).

O assaltante colocou por algumas vezes a cabeça para fora do ônibus e gritava aos policiais: "Isso nao é um filme de açao nao, nao é brincadeira, é de verdade".

Início - Tudo começou porque o seqüestrador estaria sendo perseguido pela polícia e entrou no ônibus para fugir. Viaturas da PM imediatamente cercaram o veículo. Foi neste momento que ele sacou a arma - um revólver calibre 38 - e pegou uma mulher como refém.

A polícia informou que cercou o ônibus por ter desconfiado de dois homens que teriam entrado no veículo para praticar um assalto.

O motorista do ônibus tomado pelo ladrao - que fazia a linha Centro-Gávea - José Fernandes do Nascimento, 51 anos, contou que o homem embarcou pouco depois de o ônibus ter deixado o ponto final, na Gávea, por volta das 14 horas. Ele pagou passagem e se sentou no banco que fica atrás do motorista.

Segundo Nascimento, nao houve anúncio de assalto. "De repente, carros da polícia cercaram o ônibus e, imediatamente, o homem agarrou a menina e colocou uma arma encostada em seu rosto", disse.

Quando percebeu a movimentaçao, o motorista abriu as duas portas do ônibus e saiu pela janela. "Fiquei apavorado", contou. "Trabalho há vinte anos e já presenciei dez assaltos, mas nunca vivi nada parecido".




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;