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Central virtual diminui distâncias da pandemia

Estádio Bruno Daniel dispõe de tablets para que, com hora marcada, familiares conversem com pacientes internados

Dérek Bittencourt
Do Diário do Grande ABC
02/06/2020 | 00:01
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Celso Luiz/DGABC


Cinco minutos. Este foi o tempo que o padeiro Altair Fogaça, 49 anos, teve para ver o irmão, o torneiro mecânico Ademir, 45, através da tela de um tablet, buscar informações de seu quadro de saúde para levar aos pais e passar energias positivas. Apesar de estarem fisicamente separados apenas pela Avenida Capitão Mário Toledo de Camargo, na Vila América, em Santo André, o mais velho utilizou o novo espaço criado pela Prefeitura no Estádio Bruno Daniel, nomeado central de visita virtual, onde familiares podem falar e visualizar os pacientes internados nos hospitais de campanha da cidade – no caso, Ademir está acomodado em leito no Complexo Esportivo Pedro Dell’Antonia, a menos de 100 metros de distância.

Ainda vivendo o luto da perda de outro irmão, Amarildo, 47, que não resistiu à luta contra o novo coronavírus e foi enterrado há um mês, após morrer no Hospital Christóvão da Gama, Altair internou, anteontem, o caçula no Dell’Antonia, encaminhado da UPA (Unidade de Pronto Atendimento). E, ontem, o padeiro foi ao estádio para poder se comunicar com ele, situação que não conseguiu viver com o ente que morreu.

“Infelizmente (o Amarildo)só consegui ver para fazer o reconhecimento (do corpo), no necrotério”, lamentou Altair, que, por outro lado, se mostrou satisfeito com o serviço de comunicação. “Primeira vez (que usei a central virtual). Foi ótimo fazer a chamada por videoconferência, porque você vê a pessoa. Muito boa opção, ótima qualidade (de transmissão), deveria ter em todos os lugares, porque ver deixa mais aliviado, deixa mais sossegado. Até demos umas risadas, brincamos. É um bom procedimento”, declarou. “Meus pais são idosos e estavam preocupados por já termos tido uma perda para essa doença. Outro caso assim, em seguida, dá um baque em todo mundo. Mas ele (Ademir) pediu para dizer que está bem, até para dar uma aliviada na família. Então, se Deus quiser, vai dar tudo certo”, complementou.

O intuito do espaço, que abre diariamente das 8h às 17h, é oferecer àqueles que não têm estrutura ou conhecimento digital uma possibilidade de contatar seus entes que estão internados – apesar de o mais indicado é fazer o procedimento de casa. “Acredito que a aproximação familiar faz parte do processo terapêutico e de saúde mental de humanização do hospital. As famílias que não têm condições de realizar as videochamadas do conforto da suas casas, têm a possibilidade de vir e realizar aqui, elas conseguem ter maior confiança no processo e no cuidado que a gente produz aqui”, afirmou o sanitarista e responsável pela equipe de humanização dos hospitais de campanha andreenses, Felipe Daiko Fraga, 25.

Em sala ao lado do vestiário utilizado pelo EC Santo André estão instalados quatro tablets, posicionados à disposição dos familiares – que devem marcar horário para utilizar o serviço. As recepcionistas ajudam e orientam os visitantes, fazem contato com as assistentes sociais e psicólogas, que colocam o familiar e o enfermeiro em contato. “A gente está aqui para dar suporte, para que o familiar possa estar próximo daquele que está internado. Quando vê a carinha, se sente mais aliviado e agradece imensamente”, contou a recepcionista Tais Natascha Lopes de Grandis, 22. “É muito gratificante ver pessoas que chegam até nós desesperadas e pensam que vão ver o familiar pior ou muito fragilizado, mas quando veem, está melhor. Se sentem aliviadas. É emocionante.”

Entretanto, existem situações adversas. “Um irmão veio procurar informações da irmã. O auxiliei para que pudesse fazer a videochamada e enquanto ele esperava para falar com a assistente social, infelizmente recebeu a notícia que a irmão havia entrado em óbito. Foi muito triste”, relembrou Natascha . 




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