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Segurança vira obrigação em velórios
Por Artur Rodrigues
Do Diário do Grande ABC
24/10/2005 | 08:08
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Nos velórios dos cemitérios de Santo André, reina o medo. Sem segurança, com temor de assaltos, usuários de quatro dos cinco velórios da cidade fazem o que podem para criar uma atmosfera de segurança. Alguns chegam a contratar até seis seguranças para tomar conta de apenas um velório. Quem não pode pagar segurança privada, fecha o velório no meio da noite e volta de manhã para terminar de velar o falecido.

A reportagem percorreu os cinco cemitérios da cidade. Só no Cemitério Santo André, na Vila Humaitá, que é particular, encontrou segurança fixa. Os dois cemitérios públicos, o do Curuçá e o da Vila Pires, apresentam histórico de assalto e chegaram a ser alvo de arrastões em 2003. A Guarda Civil Municipal tem uma viatura de dia e outra de noite para fazer a ronda dos cinco cemitérios da cidade, entre outras coisas. O vácuo do poder público nesses locais – municipais ou privados – gera espaço para um novo negócio: a segurança de velório.

Paulo Tadeu Pereira, 42 anos, dono da empresa de segurança Dinamic Power, já foi com sua equipe a pelo menos cinco velórios. Na semana passada, a reportagem encontrou Pereira e outros três homens montando guarda no velório do cemitério da Vila Pires, em Santo André. "Aqui é perigoso. Tem roubo de toca-CDs e assaltos. Por isso, deixamos homens fora e dentro do cemitério", explica. Conte chegou a contratar outros cinco homens para velar pelo sossego dos familiares do falecido. Além da Vila Pires, também trabalhou no cemitério da Vila Assunção, onde está enterrado o ex-prefeito de Santo André assassinado em 2002, Celso Daniel.

A estratégia de Pereira é assustar pela quantidade de homens. "Quem vai querer roubar alguém se há seguranças?", questiona. De fato, fica fácil identificar os brutamontes da empresa, com walk talkies, sobretudos, terno e gravata pretos. "E, claro, se precisar, estamos aqui, para o que der e vier", garante.

Nem todos, porém, têm dinheiro para bancar a diária de vários seguranças. Para esse público, também há saída. Aparecido Souza Teixeira, 45 anos, cobra de acordo com o jeito do freguês. Chegou a levar R$ 200 para casa, no velório de "um japonês". "Mas isso foi o máximo que consegui ganhar", diz. Algumas vezes, em compensação, ganhou R$ 30. Como eles, há outros seguranças freelancers na região.

Aparecido é encontrado geralmente no cemitério Assunção e no Camilópolis. Às vezes, encontra um concorrente no local. Para não ter erro, liga para o telefone público localizado dentro dos velórios por volta das 18h. "Aí, explico o serviço, muitos aceitam e outros tantos, não", relata. O professor Wagner Rosalem, 42, aceitou. "Eu não ficaria aí pelo preço que esse camarada está cobrando", afirma. Um outro usuário do cemitério, um sargento da PM, reclamou. "Vieram me oferecer segurança e eu disse que quem faz segurança aqui sou eu. Acho que aqui, como é particular, já deveria ter segurança", afirmou o homem, que preferiu ter o nome preservado. A reportagem procurou a administração do cemitério na tarde de sexta-feira, mas não havia nenhum responsável para falar sobre o assunto. No cemitério da Vila Assunção, ninguém atendeu aos telefonemas do Diário.

Usuários dos velórios apontam que se sentem inseguros e, quase sempre, conhecem alguém que foi vítima de um assalto. Pura ficção, para os funcionários do cemitério da Vila Curuçá. Eles afirmam que não têm problemas de segurança. Segundo eles, algumas famílias fecham o velório "porque querem". No Vila Pires, a prática é mais freqüente. Nas duas vezes que a reportagem foi ao local, na semana passada, não encontrou nenhum funcionário.




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