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Tiroteio em delegacia faz vizinhança mudar rotina

Moradores do Camilópolis evitam passar em frente ao DP; policial matou um e feriu dois

Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
29/04/2014 | 07:00
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Orlando Filho/DGABC


Moradores do entorno da Rua do Centro, no bairro Camilópolis, em Santo André, onde está localizado o 2º DP da cidade, sempre consideraram o local pacato e seguro. No entanto, a situação mudou após o episódio observado na noite do sábado – quando policial à paisana tentou se abrigar na delegacia e houve tiroteio que matou uma pessoa e deixou e outras duas feridas. Assustados, eles chegam a mudar o percurso para evitar circular nas proximidades do distrito.

Na tarde de ontem, vizinhos da delegacia ainda estavam abalados com o ocorrido e com receio de comentar o caso. Apesar de revelarem ter sido a primeira vez que algo do tipo tenha acontecido no local, havia insegurança e dúvidas sobre o que de fato aconteceu pelo bairro.

A manicure Eliane Maria da Silva Gomes, 47 anos, conseguiu visualizar parte do ocorrido na noite do sábado de sua janela. “Escutei um barulho e quando olhei vi um homem deixando a moto no meio da rua e correndo para dentro da delegacia. A moto que vinha atrás, na contramão, seguiu reto”, destaca a moradora do local há cerca de um ano. A cena observada foi a fuga de um policial militar, que não teve o nome divulgado, de assaltantes.

“Escutamos alguns tiros, dez no máximo, e logo em seguida vimos a chegada de resgate, bombeiros e vários carros de polícia”, lembra Eliane. A cena foi traumatizante para as filhas da moradora, com 9 e 15 anos. “Havíamos acabado de passar na calçada da delegacia quando fui buscar a mais velha na igreja. Elas ficaram muito nervosas”, observa. Pelo menos até o episódio cair no esquecimento, a rotina da família foi alterada. “Elas (filhas) não querem mais passar em frente à delegacia, então a gente dá a volta no quarteirão quando vai para escola”, diz.

A dona de casa Lindsay Tatiane Reina, 28, diz que apesar de sentir segurança em morar ali, na manhã de ontem teve medo de ficar sozinha em frente de casa. Ela estava junto da filha de 4 anos na sala de sua residência, cuja janela está quase em frente ao DP. “Estávamos no sofá e ela me perguntou se era barulho de tiro. Falei que eram fogos de artifício para não preocupá-la, mas com toda a movimentação ela percebeu”, observa.

OCORRÊNCIA

Após a invasão do policial militar à delegacia, o grupo de pessoas que estavam dentro do espaço para registrar ocorrência se assustou e correu para as áreas internas do DP. Neste momento, o agente de telecomunicações André Bordwell da Silva disparou contra os indivíduos e atingiu dois deles: o médico pediatra Ricardo Seiti Assanome, 28, que morreu na tarde do domingo após ter sido baleado na cabeça, e o morador de São Bernardo Ricardo Grillo Perche Mahlow, atingido na perna.

Mahlow estava no DP para reaver seu carro, roubado na semana passada na Avenida dos Estados. Ele segue internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Bartira, em Santo André, após passar por cirurgia para remoção da bala, e tem estado de saúde considerado estável.

Durante a confusão, o policial civil foi baleado no peito por um colega de trabalho, o investigador Akiyoshi Jorge Santos Honda. André Bordwell da Silva permanece internado no Hospital Brasil, no entanto, seu estado de saúde não foi divulgado. Ele foi autuado em flagrante por homicídio doloso, está acompanhado por escolta policial e será preso assim que receber alta médica.

Por meio de nota, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) informou que a corregedoria da Polícia Civil apura, ainda, se o investigador Honda será indiciado criminalmente por ter baleado seu colega. A princípio, o investigador responderá a processo administrativo disciplinar.

A Corregedoria classificou o tiroteio como “um erro” e destacou que os bandidos que perseguiam o policial à paisana não efetuaram disparos contra a delegacia nem tentaram invadi-la porque fugiram quando o policial entrou no DP.

Médico é enterrado sob forte comoção

O corpo do médico pediatra Ricardo Seiti Assanome foi enterrado no fim da manhã de ontem no Cemitério da Pauliceia, em São Bernardo. Na noite de sábado, ele estava acompanhado da noiva, Cintia Akemi, na delegacia, para registro de ocorrência de um acidente de trânsito sem vítimas. A cerimônia de enterro contou com a presença de familiares e amigos, todos muito comovidos.

Assanome não conseguiu realizar o registro da ocorrência pela internet e, por isso, teve que se deslocar até o 2º DP. De acordo com informações de familiares, o casal planejava se casar no fim do ano.

A FMABC divulgou nota de pesar sobre a morte do ex-aluno. Assanome se formou pela 38ª turma, em 2011, e concluiu especialização em Pediatria em fevereiro. A instituição de ensino considera que o médico andreense é “mais uma vítima da violência que assombra a sociedade, interrompe projetos, sonhos e assola famílias” e que “certamente o pediatra teria futuro brilhante na especialidade, tendo em vista o início marcante, focado na sensibilidade com os pacientes e no atendimento humanizado”.

O profissional fez residência médica em Pediatria no CHM (Centro Hospitalar Municipal), iniciada em 2012. Aos domingos, o profissional dava plantão na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) Neonatal do Hospital da Mulher Maria José dos Santos Stein.  




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