O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se irritou com os protestos de ambientalistas durante a abertura da Conferência Nacional do Meio Ambiente, nesta sexta-feira, em Brasília. Os manifestantes cobraram um posicionamento mais firme do governo em relação ao projeto de biossegurança – que inclui a regulamentação dos organismos transgênicos. A discussão ambiental ainda deu farta munição para o presidente fazer pesadas críticas aos oito anos de governo do PSDB.

Enquanto Lula discursava, o grupo esboçou um 'apitaço' e exibiu uma faixa com os dizeres: "o projeto da biossegurança está sendo destruído. E o governo não vai fazer nada". O presidente reagiu rapidamente ao protesto. "Eu quero dizer aos companheiros que estão presentes neste ato que não tem forma mais autoritária de comportamento do que uma pessoa tentar fazer com que os seus interesses prevaleçam sobre os interesses da maioria do povo brasileiro", afirmou, argumentando que o projeto de biossegurança foi resultado de um amplo debate entre todos os setores da sociedade. "Ouvir a população é a regra, não a exceção."

Em seguida, o presidente começou a criticar "aqueles que têm pressa" e afirmou que vai cumprir todos os compromissos assumidos durante as quatro eleições que disputou. "Eu nasci na política, na diversidade. Aprendi a fazer política na confrontação e vou exercer o governo desse jeito. Se eu tivesse medo de grito, acho que nem teria nascido."

Lula disse ainda que o Congresso deve votar em 3 de dezembro o projeto do ex-deputado Fábio Feldman (PSDB-SP) sobre a preservação da Mata Atlântica. O presidente aproveitou o mote para criticar duramente os oito anos de governo do PSDB.

"O companheiro Fábio Feldman é o exemplo maior. Há 11 anos ele apresentou um projeto, o partido a que ele pertence governou este país por oito anos, com maioria absoluta no Congresso Nacional, e não foi votado o projeto da Mata Atlântica. Nós não temos mais de 200 deputados e vamos votar, porque política significa capacidade de articular, de convencer."

Ainda no campo das críticas ao PSDB, Lula afirmou que "muitas pessoas devem estar incomodadas" porque o atual governo vai fazer "o que o governo de alguns não conseguiu fazer durante tantos anos".

"Nós vamos fazer, porque, quando terminar o mandato deste governo, nenhum ministro vai morar em Paris, nenhum ministro vai morar em Nova York, nenhum ministro vai trabalhar para um banco, nenhum ministro vai prestar serviços para multinacionais", afirmou. "Eu, particularmente, quero voltar para a minha São Bernardo e poder levantar de manhã, olhar na cara dos metalúrgicos que me fizeram ser político e dizer: nós não fizemos tudo, mas fizemos mais do que muita gente já fez na história republicana deste país."

Quando defendeu a necessidade de combate aos efeitos da seca no semi-árido brasileiro, Lula deu mais uma estocada nos críticos. "É muito fácil ficar em São Paulo ou em Brasília fazendo críticas. Eu convido essas pessoas a passar uma seca no semi-árido nordestino para que elas saibam que nós temos de levar água para o Nordeste brasileiro. É muito fácil colocar obstáculos, em vez de construir."

O presidente prometeu que o governo não cometerá o erro de, a partir de um gabinete em Brasília, fazer um decreto para solucionar um impasse ambiental. Em vez disso, prometeu, serão realizados debates com todos os setores envolvidos. "A companheira Marina (Marina Silva, ministra do Meio Ambiente) vai ter de sentar com os outros ministros, com governadores, com os trabalhadores, com empresários, e nós vamos encontrar a solução adequada para que a gente faça, pelo menos uma vez na vida, as coisas corretas nesse país."