Ser ou não ser não é só alvo das questões de Hamlet. A adolescência representa fase em que essa dúvida atinge o pico. O que ser, o que deixar de ser, e principalmente o que acontecerá, são perguntas que permeiam.

Não é diferente com os integrantes do grupo de teatro Brinquedo Torto, que atua no Colégio Central Casa Branca, em Santo André. A diferença, para eles, é a colaboração que a arte traz na busca das respostas.

Formado por 12 alunos de 15 a 18 anos, o grupo foi selecionado para participar, entre os dias 20 e 30, do FETOBH (Festival Estudantil de Teatro de Belo Horizonte). Em 2008, participando do mesmo evento, a trupe foi indicada em todas as 11 categorias, sendo premiada em seis.

Agora, leva para Minas Gerais a montagem Um Certo Príncipe (Um Hamlet Itinerante), que conta a história do herdeiro do trono da Dinamarca, que, atormentado pela aparição do espírito do pai, morto pelo tio na disputa pelo trono, arquiteta vingança e não consegue colocá-la em prática.

"Montar Hamlet já é uma ousadia. Não queria que eles apenas decorassem e reproduzissem o texto, mas que se apropriassem dele, cada um se tornando parte da peça", conta Varlei Xavier, diretor do Brinquedo Torto.

Fora do palco italiano, os jovens apresentarão o espetáculo no Museu Histórico Abílio Barreto, também em Belo Horizonte, no dia 24. Cada um dos doze atores tem seu momento de Hamlet. E muita identificação com ele. "A essência de todos os Hamlets é a mesma, mas cada atuação carrega um pouco da visão que o intérprete tem do personagem", conta Mayara Paiva, 17 anos.

Tamires Ferrari, 17, acredita ter encontrado em comum com o príncipe dinamarquês a pressão de ter de realizar seus objetivos urgentemente: "Daí vêm raiva, insegurança e percepção de que as coisas só acontecem com calma".

Ter ou não ter - Grande parte da dúvida desses jovens é investir ou não no teatro. Parte deles planeja correr os riscos que o ofício traz, como pouca valorização e baixa remuneração.

Os que optam por algo que lhes dê mais segurança, mesmo assim colhem os benefícios que a arte traz às suas vidas. "Teatro é um exercício de compartilhamento. A gente chega aqui e, além de aprender, tem a chance de dividir medos e felicidades", conta Flávia Demarchi, 17 anos, que assegura que o sonho de ser atriz foi trocado pela medicina: "Meu foco agora é estudar bastante para me tornar médica. Estar no grupo, neste momento, é achar meu instante de respirar e ganhar força para encarar o mundo".

Em meio a algumas escolhas, a dificuldade já existe. O grupo ainda não conseguiu ônibus para seguir para o festival mineiro. "Sempre que somos convidados, a novela se repete. Consigo o transporte sempre na última semana", conta o diretor.

Escritor prodígio - A adaptação de Hamlet é a terceira assinada por Ronam Toguchi, 15 anos. "Desde pequeno gosto de escrever", revela o jovem.

A ideia de montar o clássico de Shakespeare surgiu após assistir à minissérie global Som e Fúria, na qual Daniel de Oliveira interpretava o personagem. A identificação, a princípio, foi com a atuação.

"A verdade no olhar dele me assustou. E me encorajou a descobrir mais sobre Hamlet". Em seguida, veio a leitura do livro. "Lia muitas vezes a mesma cena, com o dicionário do lado."

A mensagem que ficou marcada, segundo Toguchi, foi a "coragem de mudar as coisas, não se omitir e nem permitir que a injustiça prevaleça."

O jovem é do grupo dos que seguirão outra carreira. Engenharia é sua escolha. "E família, com filhos e vida economicamente segura", completa.

Com ideia definida sobre o ser ou não ser, o jovem acredita que teatro é mais um meio do que o fim. "Hamlet é um personagem que lança dúvidas, não que as responde. Mas não são inteligentes os que se perguntam?".